sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Presidente do Afeganistão promove mudanças ministeriais e aumenta tensão com Parlamento

Hamid Karzai

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, promoveu uma reforma ministerial envolvendo os ministros mais importantes de segurança e inteligência, demitindo o chefe de espionagem do país na quarta-feira (29) e, segundo autoridades ocidentais, escolhendo substitutos para esse posto e os dos ministérios da Defesa e Interior, sendo que pelo menos um deles provavelmente aumentará as tensões entre o Parlamento e o palácio presidencial.

Segundo duas autoridades ocidentais, que falaram sob a condição de anonimato devido à situação delicada, importantes assessores de Karzai disseram recentemente às autoridades do Ocidente que o presidente pretende nomear um comandante tajik politicamente influente, Bismillah Khan Mohammedi, para o Ministério da Defesa –uma decisão que provavelmente provocará os membros do Parlamento afegão, que votaram há três semanas pelo afastamento de Mohammedi de seu posto como ministro do Interior.

As autoridades disseram que os assessores de Karzai informaram as autoridades ocidentais de que um poderoso aliado de Karzai que enfrenta acusações de corrupção e violações de direitos humanos, Asadullah Khalid, é um dos candidatos para assumir a principal agência de inteligência do país, e que uma autoridade policial há muito tempo no serviço, Ghulam Mujtaba Patang, assumiria o Ministério do Interior.

Mas uma autoridade ocidental alertou que ainda há uma chance de os nomes serem apenas um balão de ensaio, com a intenção de provocar uma reação das autoridades americanas e da Otan, que ainda são responsáveis por fornecer grande parte da segurança do país, e dos legisladores afegãos, que precisam ratificar as escolhas. Nada está definido até que Karzai faça o anúncio formal, que poderia acontecer já no sábado, disse a autoridade. Também havia sinais na quarta-feira de que Mohammedi poderia enfrentar uma votação dura no Parlamento.

As mudanças concluiriam uma mudança completa nos cargos de segurança mais poderosos do país, no que muitos viram como um esforço de Karzai para maximizar sua influência antes das eleições planejadas para 2014, quando ele não poderá concorrer de novo devido à limitação de mandato.

“Com essa mudança ministerial, o presidente Karzai está tentando consolidar seu controle do poder”, disse Jawid Kohistani, um analista de segurança de Cabul. “Ele não está pensando apenas em seus dois anos remanescentes no cargo. Ele tem planos de longo prazo, e essa mudança é apenas o primeiro passo. De fato, ele quer ter pleno controle de todo o aparato do governo para assegurar que seja lá qual pessoa de sua equipe venha a disputar as próximas eleições, vença.”

Os assessores de Karzai confirmaram na quarta-feira que o atual chefe da agência de espionagem, Rahmatullah Nabil, deixará o cargo e se tornará embaixador em um país estrangeiro. Mas os assessores de Karzai se recusaram a falar sobre novas nomeações ministeriais.

Os homens identificados como prováveis nomeados provavelmente não provocarão objeções dos apoiadores do governo no Ocidente, disseram algumas autoridades. Mas pelo menos duas escolhas são acompanhadas de controvérsia.

Khalid, o novo chefe da espionagem, é um confidente influente de Karzai, que delegou a ele poder significativo sobre a segurança no sul do Afeganistão depois que Ahmed Wali Karzai, o irmão do presidente, foi assassinado no ano passado. Ultimamente Khalid, que também serve como ministro dos assuntos tribais e de fronteira, vem liderando os esforços do governo para apoiar os levantes contra o Taleban na província de Ghanzi, onde o chefe do conselho provincial, Qazi Sahim Shah, levou um tiro fatal na noite de quarta-feira, no que as autoridades locais disseram poder ter sido uma resposta dos insurgentes.

Sua nomeação para liderar o Diretório Nacional de Segurança pode ser considerada controversa para alguns, especialmente entre os grupos de direitos humanos: apesar de considerado um inimigo jurado do Taleban, Khalid também foi afastado de seu posto como governador da província de Kandahar em 2008, em meio a acusações de abusos de direitos humanos e corrupção. Ele negou as acusações e seus aliados as consideraram politicamente motivadas.

Contatado para comentários, Khalid insistiu que, apesar dos rumores que circularam pela capital durante toda a semana dizendo que foi escolhido, ele ainda não foi oficialmente contatado.

A nomeação de Mohammedi como ministro da Defesa pode parecer uma provocação direta ao Parlamento, mas também poderia ser uma forma de Karzai manter uma das autoridades tajiks mais poderosas do país do seu lado.

Mohammedi, que também serviu anteriormente como chefe do Estado-Maior do Exército afegão, enfureceu muitos outros políticos ao preencher agressivamente muitos cargos importantes de segurança com outros tajiks de Panjshir, a província a nordeste de Cabul que foi uma fortaleza da Aliança do Norte contra o Taleban. Um funcionário em seu gabinete se recusou a comentar as reportagens sobre a nomeação na quarta-feira, dizendo que se tratava de um assunto pessoal dele.

Mas ficou claro para Kohistani, o analista de segurança em Cabul, o motivo para Karzai estar arriscando a ira do Parlamento ao renomear Mohammedi.

“O presidente Karzai não pode abrir mão de Bismillah Khan, porque ele não deseja adicioná-lo às fileiras de seus oponentes”, disse Kohistani. “Ele fará tudo o que puder para mantê-lo.”

O catalisador imediato para as mudanças na segurança nacional foi a votação pelo Parlamento, neste mês, para o afastamento do ex-ministro da Defesa, Abdul Rahim Wardak, assim como Mohammedi.

Os membros do Parlamento se queixaram de problemas, incluindo o que consideraram ser um fracasso em responder de modo eficaz aos ataques na fronteira de militantes no Paquistão e a corrupção nos procedimentos de contratação.

Mas o Parlamento também pode ter agido porque seus membros ficaram frustrados por suas recomendações para nomeações não terem sido levadas em consideração e por não terem recebido sua parcela justa de contratos.

“Ela já tinha sido desqualificado uma vez pelo Parlamento, e não acho que ele ganhará de novo um voto de confiança”, disse Daud Kalakani, um legislador influente que disse que ele e outros membros do Parlamento foram informados sobre as escolhas pelo ministro dos assuntos parlamentares de Karzai.

Patang, que não conta com uma base de poder política e etnicamente profunda como a que os ministros costumam ter, é visto como um policial competente há muito tempo no serviço e alguém que Karzai pode controlar. Seu novo cargo seria crucial para assegurar eleições justas.

Em uma entrevista na quarta-feira, Patang disse que não conversou diretamente com Karzai, mas soube de sua decisão pela imprensa e pelo ministro dos assuntos parlamentares.

Na quarta-feira, a coalizão internacional anunciou que um agressor vestindo uniforme do exército afegão matou três membros da Otan no sul do Afeganistão na terça-feira. Uma onda semelhante de ataques por pessoas de dentro aumentou as tensões entre as forças de segurança afegãs e as tropas estrangeiras que trabalham com elas.

Habib Zahori, Jawad Sukhanyar, Sangar Rahimi e um funcionário do “The New York Times” contribuíram com reportagem.

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