sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Policiais alemães mantêm cargos mesmo após envolvimento em escândalo racista

Três terroristas da célula neo-nazista National Socialist Underground (NSU)
As autoridades permitiram que dois policiais alemães mantivessem seus empregos mesmo depois de saberem que eles tinham sido membros de um grupo ligado à Ku Klux Klan (KKK). Os homens também eram colegas de uma policial que teria sido assassinada por uma célula terrorista neonazista descoberta no ano passado. Se houve alguma conexão direta ou não, os políticos exigem respostas.

Um escândalo de racismo se desenrolou na Alemanha nesta semana, depois da revelação de que dois policiais do Estado de Baden-Württemberg, no sul do país, foram membros de uma filial alemã do grupo racista Ku Klux Klan, dos EUA. Os dois homens ainda servem de uniforme - um na polícia normal e outro como comandante de esquadrão da polícia antidistúrbios. O Ministério do Interior confirmou relatos de que os homens tinham se envolvido com um grupo que se chamava Cavaleiros Brancos Europeus da KKK (EWK).

O desenvolvimento deixou muitas autoridades atrapalhadas. Como autoridades que juram proteger a Constituição podem ser membros de uma organização racista? Os policiais revelaram as ligações durante uma investigação em curso da célula terrorista neonazista Subterrâneo Nacional Socialista (NSU). Entre 2000 e 2007, o grupo supostamente assassinou pelo menos nove pequenos empresários, principalmente de origem turca, além de uma policial, Michèle Kiesewetter. Os dois policiais com supostas ligações com a KKK também eram colegas de Kiesewetter.

Se não fosse pela investigação sobre o terror neonazista, talvez nunca se tivesse projetado luz sobre o fato de que a KKK está ativa na Alemanha. A EWK operou em Baden-Württemberg entre 2000 e 2002, com a inteligência doméstica contando cerca de 20 membros no final, segundo o jornal alemão "Die Tageszeitung". Mas ainda menos verossímil que a existência do grupo é o envolvimento de policiais alemães e que muito pouca ação foi tomada depois que eles foram denunciados. Ambos foram supostamente submetidos à ação disciplinar, mas ainda foram autorizados a manter seus cargos.

Sebastian Edathy, um membro do Partido Social-Democrata, de centro-esquerda, que dirige uma comissão de inquérito sobre os crimes da NSU no Parlamento alemão, está chamando a situação de escândalo. "Funcionários públicos que são ou foram membros de uma organização extremista decididamente antidemocrática devem ser removidos da força policial", ele disse.

Hartfrid Wolff, um membro do Partido Democrático Livre que também é membro da comissão de assuntos domésticos do Parlamento, manifestou um choque semelhante sobre as revelações. "Eu nunca teria imaginado isto", ele disse. Outro membro da comissão de assuntos domésticos, Wolfgang Wieland, do Partido Verde, falou sobre um "comportamento indesculpável".

Policiais alegam ignorância
Internamente, as autoridades estão cientes do caso desde 2003, quando descobriram evidências da participação temporária dos policiais durante uma busca no apartamento do líder do EWK na cidade de Schwäbisch Hall. Durante os três procedimentos disciplinares que se seguiram, os dois oficiais justificaram sua participação dizendo que só perceberam o verdadeiro caráter da organização depois de participar dela por algum tempo. Depois de saber a verdade sobre o grupo, eles alegam que o deixaram. Um dos policiais relatou que só percebeu isso depois que um neonazista agressivo do leste da Alemanha, com tatuagens de Adolf Hitler, apareceu em uma reunião.

A participação de um dos policiais durou seis meses, enquanto o outro deixou a EWK ainda mais cedo. Os dois parecem ter convencido seus superiores de sua ingenuidade, porque ambos mantiveram os cargos.

Mas com a recém-revelada conexão com a policial assassinada Kiesewetter, seu passado na KKK foi novamente questionado. Um dos homens havia sido o superior imediato de Kiesewetter na polícia antimotins, liderando um grupo de cerca de dez oficiais.

"Conexões continuam imprecisas"
Mas havia uma conexão entre os dois policiais e o assassinato de Kiesewetter? Houve ampla especulação de que seu suposto assassino, da NSU, estava de posse de informação privilegiada. No entanto, investigadores não encontraram evidências disso, relatou o "Die Tageszeitung".

"Não há um único indício de que outras pessoas ou organizações além da NSU pudessem estar envolvidas no crime, de qualquer forma", disse ao jornal um porta-voz do gabinete do promotor federal.

Na capital do estado, Stuttgart, porém, os policiais ligados à KKK estão causando comoção. O ministro estadual do Interior, Reinhold Gall, quer um relatório sobre o assunto assim que possível e não descartou novas medidas em reação. "É claro que não estamos nada contentes com isso", disse um porta-voz do Ministério.

Autoridades do governo federal em Berlim não pretendem deixar a questão descansar. Membros da comissão de inquérito parlamentar sobre a NSU estão achando muita informação sobre os dois ex-membros da EWK em seus arquivos, que reúnem grande parte dos dados que foram coletados até agora sobre os assassinatos da NSU, a célula terrorista e as pessoas ligadas a seu meio. Os parlamentares puderam ler, por exemplo, sobre a descrição de um policial sobre seu rito de iniciação, durante o qual ele teve de cortar seus dedos com uma lâmina antes de ser aceito no grupo.

"Se houve uma conexão entre sua participação na NSU e o assassinato da policial Michèle Kiesewetter, ainda não sabemos", disse o líder da comissão, Edathy. "Mas a afiliação nessa organização deve ser absolutamente proibida para funcionários dos órgãos de segurança alemães."

Edathy diz que quer examinar profundamente a questão. "Quero saber se estes foram casos isolados", disse o político.

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