quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Mexicanos responsabilizam EUA pela violência no país
“Por trás de seus usuários de drogas, estão nossos mortos”, declarou o poeta mexicano Javier Sicilia no último domingo (12), junto ao muro que separa a cidade americana de San Diego da mexicana Tijuana, antes de dar a largada para a “caravana pela paz” que atravessará durante um mês os Estados Unidos, de oeste a leste, para denunciar o fracasso da luta dos dois países contra o narcotráfico.
Cerca de cem militantes, sendo 54 deles parentes e amigos de vítimas da violência dos cartéis do tráfico no México, atravessarão a fronteira entre os dois países para iniciar uma viagem de ônibus de 9.400 quilômetros.
Objetivo: exigir do governo americano o “controle do consumo de drogas e das vendas de armas”, considerados corresponsáveis pelos mais de 60 mil mortos e 20 mil desaparecidos no México nos últimos seis anos. Essa iniciativa inédita chega em um momento de contexto político delicado, com a eleição presidencial americana em novembro.
A caravana visitará 25 cidades, até chegar a Washington, em 12 de setembro. A cada parada, encontros serão organizados com representantes de cem associações americanas, reunidos pelos órgãos Drug Policy Alliance e Global Exchange, que militam pela descriminalização da maconha e pela defesa dos direitos humanos.
“Estamos vindo para os Estados Unidos, maior consumidor de drogas do mundo, para conscientizar a população sobre a violência no México”, explicou Javier Sicilia, cujo filho de 24 anos foi assassinado em março de 2011 pelos pistoleiros de um cartel. No mesmo ano, o governo americano dedicou mais de US$ 10 bilhões a programas de prevenção contra as drogas, sem que isso tenha diminuído o número de usuários (23 milhões).
Símbolo nacional no México, Sicilia criou em maio de 2011 o Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade (MPJD), que pede o fim da guerra contra os cartéis, iniciada em 2006 pelo presidente Felipe Calderón. O poeta hoje pede que as autoridades americanas deem “um fim à [sua] ajuda logística ao exército mexicano, que atiça a violência”. O MPJD também denuncia o tráfico de armas.
Das 142 mil apreensões feitas no México nos últimos seis anos, 80% provinham dos Estados Unidos, onde elas têm venda livre. Outras reivindicações são “o combate à lavagem de dinheiro e uma gestão mais humana da imigração clandestina”.
“Fast and furious”
Que impacto terá essa caravana, já que Barack Obama é candidato a um novo mandato? Em julho, Washington se retirou das negociações na ONU sobre um tratado que regulamenta o comércio de armas. “A campanha eleitoral tem limitado a disposição inicial do presidente Obama em enfrentar as reações dos opositores a esse tratado”, escreveu na publicação semanal “Proceso” a diplomata mexicana Olga Pellicer.
Nos Estados Unidos, a influente National Rifle Association rejeita qualquer regulação do porte de armas. Obama se encontra fragilizado também pelo fiasco da operação Fast and Furious. Em 2009, as autoridades americanas haviam deixado passar ilegalmente para o México mais de 2 mil armas, pensando que conseguiriam rastreá-las para poder apanhar os chefes de um cartel.
“Seria ingenuidade pensar que uma caravana vai corrigir as injustiças”, reconheceu Sergio Aguayo, intelectual mexicano que faz parte do comboio. No México, Felipe Calderón, que deixará suas funções em dezembro, recusa a desmilitarização do conflito e a ratificação da lei de assistência às vítimas, exigidas pelo MPJD. Já o novo presidente, Enrique Peña Nieto, eleito em julho, quer manter o exército nas ruas.
Por ora, não está prevista nenhuma conversa com o presidente americano. Segundo Javier Sicilia, “a prioridade não é encontrá-lo, mas sim construir a paz” dos dois lados da fronteira.
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