quarta-feira, 22 de agosto de 2012
Le Monde: Soldados israelenses denunciam atos de violência contra crianças palestinas
Avner é um homem de 27 anos com rosto infantil, de olhos muito azuis, cabelos loiros e sardas. Entre 2004 e 2007, ele cumpriu seu serviço militar na unidade especial dos paraquedistas do exército israelense, entre Nablus e Jenin, na Cisjordânia.
“Como sargento, conduzi inúmeras operações ‘straw widow’, que consistem em tomar uma casa palestina para colocar atiradores de elite ou observadores”, conta Avner. “Acordava famílias e as agrupávamos em um quarto. Lembro-me de um incidente: um soldado apontava sua arma para um pai e seu filho que tentavam falar com ele em árabe. Nenhum de nós entendia. O soldado se irritou. O menino só queria ir ao banheiro, e ele teve tanto medo que urinou nas calças. Antes de entrar para o exército, trabalhei com crianças e pensei comigo mesmo que poderia ter sido uma delas”.
O ex-militar termina hoje seus estudos no setor social. “Antes de entrar para o exército, pensava que os palestinos eram uma entidade inimiga, não imaginava que me depararia com mulheres, crianças e idosos”, ele diz. “As Forças de Defesa de Israel tratam da mesma maneira uma criança que joga pedras e um militante do Hamas”.
Avner decidiu no fim de seu serviço procurar a associação Breaking the Silence (“Rompendo o silêncio”), que recolhe depoimentos de ex-soldados que serviram nos territórios ocupados. A ONG reuniu os relatos anônimos de cerca de trinta jovens israelenses que serviram no exército entre 2005 e 2011, e testemunhou atos de violência cometidos contra crianças palestinas.
“Existe um grande mal-entendido sobre a maneira como o exército israelense trata as crianças. De fora, imagina-se que elas recebem um tratamento especial, só que isso não acontece”, justifica Yehuda Shaul, fundador da ONG. “Estamos longe da violência palestina dos anos da Intifada, mas o exército se comporta como naquela época: para controlar os palestinos contra sua vontade, os militares lhes causam medo, e isso se tornou uma rotina”.
Um dos soldados conta sobre um procedimento que, embora proibido, é usado quando o exército quer prender um suspeito palestino: os soldados enviam um vizinho, encarregado de pedir aos moradores da casa cercada para saírem. “Acho que isso aconteceu em Tulkarem. Fizemos todos saírem, sem encontrar a pessoa procurada. Então enviamos vizinhos, depois uma criança. Ela teve de percorrer a casa, abrir todas as portas e janelas, acender todas as luzes.” O comandante da unidade sabia que o procedimento era ilegal. “Ele declarou que preferia que um vizinho fosse morto (...) se isso pudesse evitar que um de seus homens fosse abatido ao entrar nessa casa”, conta o soldado. A população não teve outra escolha a não ser cooperar. “Quando você bate em uma porta no meio da noite, com sua arma apontada para o rosto da pessoa, com a lanterna nos olhos dela, quando você verifica que ela não está armada (...), ela não te dirá que não quer cooperar”.
David foi destacado para Hebron. Ele explica que os colonos judeus da cidade lhe causavam problemas. “Havia essa criança judia que andava ao longo da estrada dos Fiéis (reservada aos colonos). Quando uma criança árabe passava, a criança judia batia nela. Se a criança árabe revidasse, eu teria de pegá-la e lhe dar um tapa. A criança judia era livre para fazer o que quisesse”. Daniel também serviu em Hebron. Ele circulava de jipe com o comandante da companhia até um posto de controle, quando percebeu três adolescentes palestinos que se recusavam a passar pela máquina de raio-x. O comandante encurralou um dos meninos em um beco, bateu com sua cabeça contra a parede e bateu violentamente nele.
“No carro, eu pensava: estou esperando por uma situação como essa desde que me alistei, entrei para o exército para impedir esse tipo de comportamento e cá estou, sem fazer nada (...) porque tenho muito medo desse comandante”.
Em 2008, em Ramallah, um sargento da brigada Kfir (infantaria) participou de uma tensa emboscada a jovens palestinos do campo de refugiados de Jelazun, na Cisjordânia. Esses adolescentes costumavam alvejar a colônia de Beit El, a algumas centenas de metros de lá, jogando coquetéis Molotov sem jamais atingir as casas. “Um de meus amigos havia se instalado em Beit El, em posição de sniper”, lembra o sargento. “Um menino balançou um coquetel Molotov. Meu amigo atirou”. A criança morreu.
Os soldados que romperam o silêncio “estão percebendo em retrospecto aquilo que fizeram, aquilo do qual participaram, e querem falar a respeito”, observa Yehuda Shaul. Ao revelar sua visão da ocupação, sem clemência, em relação às crianças, a Breaking the Silence espera questionar a sociedade israelense.
São esses mesmo judeu que se fingem de coitadinho e fazer essas maldades com as crianças Palestinas. Cadê a ONU para condenar Israel por violação dos direitos humanos? Se fosse Irã, estariam metendo pau.
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