quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Le Monde: Presidente do Egito viaja em busca de um papel de árbitro na crise síria
Um homem baixinho e bochechudo de barba e tarbuche se inclina até os joelhos do rei Abdel Aziz al-Saud, fundador do reino da Arábia Saudita. Ele beija sua mão respeitosamente, sob o olhar condescendente de beduínos de grande estatura. A foto é em preto e branco, mas imediatamente identificável no Oriente Médio: é Hassan al-Banna, fundador da Irmandade Muçulmana egípcia, prosternado diante da encarnação da potência wahhabita, o rígido dogma em vigor na Arábia. Foi esse o presente-surpresa que os sauditas reservaram ao presidente egípcio para sua primeira visita oficial à Arábia, no dia 7 de julho. “A história de Riad com a Irmandade Muçulmana egípcia se repete”, proclamava sorrateiramente em sua primeira página o grande jornal pan-árabe “Asharq al-Awsat”, fiel apoiador do regime saudita.
A afronta foi deixada de lado. Mohamed Morsi deixou aos cuidados dos inúmeros sites islamitas a tarefa de responder a essa provocação. Ele se certificou de que os petrodólares sauditas continuariam a encher os cofres do Banco Central egípcio, prometeu enigmaticamente não “exportar” a revolução, e depois continuou com grande estardalhaço sua turnê que o leva nesta quinta-feira (30) à cúpula dos Não-Alinhados no Irã, inimigo jurado dos Saud. Uma visita sem precedentes, desde a ruptura das relações diplomáticas entre os dois países em 1979, depois dos acordos de paz entre Israel e Egito.
Depois de retomar o controle do aparelho da inteligência, que tinha a palavra final sobre as questões mais delicadas (Israel e os territórios palestinos), Morsi tem se empenhado em devolver ao Egito uma liderança regional e uma independência que o faça escapar da influência de suas antigas alianças, sobretudo com a Arábia Saudita, e do emblemático domínio americano da era Mubarak. O Egito, o mais populoso dos países árabes, nunca mais será um “lacaio” dos Estados Unidos, sugerem seus colaboradores.
Embora Washington não esconda suas preocupações quanto às intenções da Irmandade Muçulmana a respeito do Irã e de Israel, a administração Obama já assimilou a ascensão do Egito como novo líder regional, ao lado da Turquia. O Egito da Irmandade Muçulmana poderia até se revelar um precioso aliado de Washington (onde Morsi é esperado em setembro) para fazer mediações e pressão sobre o Irã e o Hamas.
A França, por sua vez, parece receber com grande interesse o ressurgimento de uma diplomacia egípcia que gera a expectativa do advento de um líder no mundo árabe legítimo o suficiente para ter voz sobre a questão síria. Morsi, que está tentando assumir a liderança de um “grupo de contato” sobre a Síria que inclua aliados e inimigos de Bashar al-Assad (Irã, Arábia e Turquia), provavelmente pode ser ouvido atentamente pela oposição síria, onde a Irmandade Muçulmana tem sua influência. De qualquer forma, Paris observou que as novas ambições egípcias sobre a questão síria foram validadas por uma recente reunião da Conferência da Organização Islâmica. Além disso, no círculo do ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, também tem se explorado a ideia de uma viagem em breve ao Egito.
Embora não esteja muito clara ainda, a ação externa do presidente Morsi parece hábil e capaz de lhe garantir um status de mediador de primeiro plano em escala regional. Ele pretende ser o responsável pelos acordos de Camp David, ao mesmo tempo em que promete devolver ao Egito sua plena soberania sobre o Sinai; ele tem buscado integrar Teerã às negociações sobre a Síria, enquanto pede aos apoiadores de Bashar al-Assad que abandonem o presidente sírio.
Teria Mohamed Morsi a intenção de modificar os acordos de paz com o Estado judaico? Poderia ele restabelecer laços diplomáticos com Teerã? Sobram rumores e negações. As relações com o Irã são um assunto delicado no Egito, onde elas incomodam os salafistas (visceralmente antixiitas), mas têm muitos defensores, sobretudo dentro de Al-Azhar, a mais alta instância religiosa sunita, e entre os conselheiros mais influentes do presidente. Mesmo as relações com o Hamas seriam um assunto de desacordo com o comando militar.
“As margens de manobra de Mohamed Morsi em relação aos Estados Unidos dependem de várias questões”, acredita Tewfik Aclimandos, analista político e pesquisador associado no Collège de France. “Sobre Israel, ele não tem nenhuma. Sobre o Irã, ele tem um pouco mais. A confiança a ser depositada em Morsi é tema de controvérsia dentro da administração americana: de forma geral, ele tem o benefício da dúvida porque se acredita que ele tem meios de acalmar o Hamas, por exemplo.”
Reequilibrar as alianças estratégicas do Egito implica sobretudo diversificar suas parcerias econômicas. O Qatar, os Emirados e a China (onde ele está concluindo uma visita de vários dias) têm um papel central na vontade de Morsi de contrabalançar o peso dos Estados Unidos e da Arábia Saudita.
A ideologia internacionalista da Irmandade naturalmente a leva a apoiar o Hamas e a se aproximar da Turquia. Alguns veem ali as premissas de uma espécie de internacionalização da Irmandade Muçulmana, que iria da Tunísia até a Síria “liberta”, passando pelo Egito e pela Turquia. O chefe da polícia de Dubai, Dahi Khalfan, que vem denunciando há meses um suposto “complô” da Irmandade Muçulmana que estaria buscando derrubar as monarquias do Golfo, adere a essa interpretação, pretexto para enviar à prisão dezenas de supostos islamitas locais.
Nos websites da Irmandade egípcia, é a ele que acusam de estar por trás da provocadora capa do “Asharq al-Awsat”: ele teria separado essa foto várias semanas antes para lembrar a Irmandade da dívida que ela tem com os Estados do Golfo, que a partir dos anos 1960 lhe permitiram escapar da repressão.
P presidente do Egito mostrou para quem ele e a irmandade muçulmana trabalham atualmente para a dupla EUA-UE, ao afirmar que seria um dever moral do ocidente apoiar os rebeldes na Síria, mostra claramente o que há por trás da fajuta primavera árabe. Resultado o Egito trocou a merda (Mubarak) pela Bosta (Morsi e a irmandade muçulmana). A esses dias o Hamas criticou o governo egípcio por fechar túneis na fronteira que os palestinos precisam usar para minimizar o efeito do embargo de Israel. E ainda diziam que o Morsi iria mudar ás relações do Egito com EUA e Israel, dá pra ver o quanto mudou.
ResponderExcluirPelo visto você não conhece o Oriente Médio como deveria. A Irmandade Muçulmana não e nunca serviu aos interesses Ocidentais. A Irmandade Muçulmana não está nem aí para o Ocidente, a Irmandade Muçulmana quer se fazer presente na Síria, isso sim. A Irmandade Muçulmana é basicamente sunita, assim como 90% da população do Egito. Cerca de 13% da Síria são muçulmanos xiitas e alauitas. Assad sempre reprimiu os muçulmanos xiitas, você não queria que os egípcios apoiassem Assad e os xiitas, né?
ExcluirMorsi está longe de ser uma bosta. Aproveitado o termo chulo, eu gostaria de lhe advertir para não usar mais termos chulos aqui nesse espaço. O Egito fechou sim suas fronteiras com a Palestina, você queria que houvesse mais atentados em solo egípcio? Se liga, rapaz! Morsi mudou o Egito, hoje em dia o Egito não é o Egito entreguista de Mubarak. Morsi não quis atacar um navio iraniano a mando dos EUA, Morsi não deixa mais navios americanos passarem por suas águas territoriais, Morsi quer acabar com o acordo de paz com Israel. Realmente, o Morsi é a mesma porcaria que Mubarak.
Aproveitando o assunto primavera árabe,o novo presidente da Tunisia só porque foi eleito em supostas eleições sérias e legitimas, pode decretar estado de emergência e mandar sentar a porrada na oposição salafista dele que é exatamente quem quer derruba-lo e não entrou pra panelinha dos partidos alfabeticos que concorrem entre si com orçamentos arqui-milionários,ele fazer isso pode, o Ben Ali ter mandado fazer o mesmo contra quem quis derrubar ele exatamente a penelinha q assumiou era crime? Engraçado.
ResponderExcluirhttp://portuguese.ruvr.ru/2012_08_31/86832325/