Insurgente que luta ao lado dos sírios adverte que Al-Qaeda ampliará ação na Síria se Ocidente não criar zona de exclusão
Hossam Najjair |
De passagem por sua cidade, Dublin, depois de lutar dois meses no norte da Síria com a brigada Liwa al-Umma (Bandeira da Nação), Najjair conversou pelo telefone com o Estado. Na entrevista, ele disse uma frase impensável um ano atrás: "Kadafi era um homem bom comparado a esse cara (Assad)."
A Liwa al-Umma foi criada por Mahdi Harati, cunhado de Najjair que comandava a Brigada de Trípoli. Harati continua no norte da Síria. Segundo Najjair, a nova brigada já tem 6,5 mil homens. Não há alauitas - a minoria à qual pertence Assad.
Najjair, que assim como Harati tem formação liberal, admite que a organização terrorista Al-Qaeda e outros grupos insurgente sunitas estão presentes na Síria - e adverte: "Quanto mais tempo a Otan, o Ocidente e outros governos não se envolverem, se a zona de exclusão aérea não for criada rapidamente, haverá o influxo cada vez maior de quem quer que queira vir. O prolongamento da guerra na Síria causará vácuos aqui e ali para esse tipo de gente". Seguem os principais trechos da entrevista:
Estadão: Estão chegando armas melhores para os insurgentes?
Hossam Najjair: Não, ainda há um grande problema com as armas. É óbvio que eles não estão recebendo as armas de que precisam.
O regime está atacando a área onde a brigada está?
Há ataques em toda parte. Não há nenhum lugar seguro na Síria. Até os últimos quilômetros antes de chegarmos na fronteira com a Turquia, os tiros nos alcançavam. Não é brincadeira.
Além de você e de Harati, há outros estrangeiros na brigada?
Sim. A brigada foi fundada por Harati. A equipe mais próxima de nós na Brigada de Trípoli se juntou a um grupo de combatentes sírios e estamos tentando orientá-los.
Vocês se coordenam com o Exército Sírio Livre?
Claro, estamos no país deles, temos de tratar com eles para poder fazer as coisas.
Qual o grau de união dos combatentes sírios?
Estão muito longe do nível de união que deveriam ter. Você não vê o sentido de comunhão que havia entre os líbios. Isso está muito destruído (na Síria). Não sei como recuperarão.
Quanto tempo você estima que será necessário para derrubar Bashar Assad?
Depende de alguns fatores. O estabelecimento de uma zona de exclusão aérea mudaria as coisas drasticamente da noite para o dia. Também a chegada de mísseis terra-ar e equipamentos como esses, que têm sido reivindicados caso a zona de exclusão aérea não seja criada.
Há também alauitas e cristãos na brigada - ou apenas sunitas?
Não, não pode haver alauitas na brigada. Se você leva em conta a conformação do povo sírio, é como aconteceu em outras partes do mundo, quando o povo se volta contra o opressor. Kadafi roubou a identidade dos líbios - e eles a recuperaram. É o que está acontecendo agora na Síria. A maioria finalmente percebeu: "Somos a maioria, esse é nosso país e vamos lutar contra a minoria que está nos oprimindo". Você esteve em Damasco e Deraa, você sabe dos massacres, das mutilações, das decapitações. Dos shabiha ("fantasmas", os milicianos do regime), 99% são alauitas. Eles mutilam e estupram mulheres, jogam-nas na frente dos tanques. Há decapitações em massa. Eu nunca tinha visto nada assim.
Você acha que Assad é pior que Kadafi?
Claro que ele é pior. Olhe o que ele está fazendo. Kadafi era um homem bom comparado a esse cara. Kadafi não foi tão longe assim. Bashar tem puro ódio sectário pela população sunita.
O fundamentalismo islâmico é um fator na Síria?
É um fato comprovado que o Irã enviou militantes xiitas para lutar ao lado dos alauitas, para manter a maioria oprimida. Foram eles que tornaram a questão sectária. Eles destruíram o país. Nada restou.
A Al-Qaeda e outros grupos sunitas radicais estão lá?
Quanto mais tempo a Otan, o Ocidente e outros governos não se envolverem, se a zona de exclusão aérea não for criada rapidamente, haverá o influxo cada vez maior de quem quer que queira vir. O prolongamento da guerra na Síria formará vácuos aqui e ali para esse tipo de gente. Isso é o que essa demora causa. Quanto mais depressa (a comunidade internacional) agir, melhor.
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