quinta-feira, 9 de agosto de 2012

El País: Entrada da Venezuela no Mercosul é trunfo de Chavéz rumo à reeleição


O presidente venezuelano está hoje mais perto que ontem de renovar seu mandato no próximo dia 7 de outubro. Hugo Chávez conta com todo o poder e os recursos do Estado para garantir a vitória multando seus críticos - a rede de TV Globovisión; forçando todas as emissoras a transmitir seus proclamas intermináveis; procurando que os meios públicos ou assemelhados operem com parcialidade descarada a favor do poder; fazendo que os funcionários públicos doem um dia de salário para a campanha eleitoral; e além disso um notável êxito de sua política externa, a entrada da Venezuela no Mercosul, situa desde a semana passada o presidente em posição ainda melhor diante das eleições de outubro.

A utilização de público, dinheiro, persuasão midiática e sedução pessoal é justificada pelo líder bolivariano com o argumento de que estas eleições não são entre propostas igualmente legítimas, senão que confrontam Cristo e Anticristo, a revolução popular e a reação imperialista encabeçada por um esforçado, mas nulamente carismático Henrique Capriles, que percorre dezenas de quilômetros a pé em campanha para demonstrar que, à diferença de Chávez, aos 39 anos não precisa temer a morte.

Chávez qualificou de "derrota do imperialismo" a entrada na organização econômica política do Cone Sul integrada por Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, e que Assunção bloqueava desde 2006, mas a suspensão temporária do país guarani da organização finalmente permitiu que se tornasse realidade. E apesar de o imperialismo americano ter expectativas de derrota muito mais sérias na Ásia Central, é certo que Washington preferiria que Caracas continuasse como trabalhador autônomo.

Chávez fez um negócio excelente com o ingresso. Foi visto em plena forma nas cerimônias de admissão; desmentiu que a Venezuela esteja isolada, junto de aliados tão pouco interessantes internacionalmente quanto Cuba, Irã e a Síria de Bashar el Assad; e especialmente encheu de orgulho sua base partidária e os que flutuam entre seu totalitarismo "light", como o definiu Teodoro Petkoff, líder intelectual da oposição, e a modesta normalidade democrática que oferece Henrique Capriles.

A Venezuela jamais havia tido um líder de renome universal que o mundo inteiro, embora haja quem se refira à sua pessoa com grave reprovação, tenha sempre presente. E o ingresso no Mercosul parece provar que o inventor do socialismo do século 21 sabe se movimentar nessa arena, onde nada pode acontecer, pelo menos na América Latina, sem que Chávez faça sua jogada.

Organizou-se uma espécie de pesquisa internacional sobre quem sai ganhando com o ingresso no Mercosul. A Venezuela, acima de todos, e Chávez acima da Venezuela. Depois o Brasil, que, embora com suas jazidas de petróleo exploração não muito distante precisa muito menos que outros do grupo do cru do Orinoco, pode se transformar no primeiro fornecedor de alimentos para um país que sob o chavismo importa 70% do que come. Em troca, más notícias para a Colômbia, que antes que o presidente Uribe rompesse estrepitosamente com o chavismo tinha mais de 5 bilhões de euros de comércio bilateral com seu vizinho, e com o presidente Santos já havia recuperado este ano a metade do negócio.

O Brasil tem sólidas razões econômicas para querer Caracas como cliente: seus empresários investiram nos últimos dez anos na Venezuela mais de 15 bilhões de euros. Mas também não lhe faltam razões político-psicológicas. Com o alvoroço decorativo com que Dilma Rousseff acolheu seu novo sócio, a presidente brasileira mostra sua independência de Washington e certamente prefere ter Chávez perto do que livre, disparando contra tudo o que se mova.

Mas o entusiasmo não é universal: o Ministério das Relações Exteriores de Brasília deu um apoio apenas morno à diplomacia presidencial. E a também vistosa satisfação argentina é especialmente enigmática, exceto talvez se for justificada pela corrida que a presidente Cristina Fernández de Kirchner mantém com o bolivariano pela medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do anti-imperialismo. Buenos Aires joga na reserva do Mercosul, elimina produtos livres de tarifa e, resumindo, pode esperar que Caracas mais limite que amplie o papel de Brasília na organização.

O 7 de outubro decidirá entre o magnetismo mais que populista, populoide, de Chávez, sustentado pela melhora da situação econômica dos menos favorecidos, contra uma longa relação de insuficiências: aumento vertiginoso da criminalidade; corrupção e desmando administrativo; democracia de baixíssima densidade. Mas, sem dúvida, o Mercosul é um grande ativo para o presidente.

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