terça-feira, 24 de julho de 2012

Presidente afegão pede ajuda à Alemanha nas negociações de paz com o Taleban


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Na esperança de abrir o caminho para possíveis negociações de paz, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, pediu à Alemanha que atue como uma intermediária discreta nas conversações com o Taleban. É um papel já exercido pela Alemanha antes --um esforço que acabou sendo interrompido pelo próprio Karzai.

Karzai pediu ao governo alemão uma nova tentativa na difícil tarefa de mediar as negociações de paz com o Taleban. A “Spiegel” soube que Karzai pediu ao ministro das Relações Exteriores alemão, Guido Westerwelle, ajuda para trazer o Taleban de volta à mesa de negociação nos bastidores da conferência internacional de doadores, em Tóquio, no início de julho.

A Alemanha exerceu um papel semelhante em 2010 e 2011, atuando como uma intermediária discreta na aproximação política entre os Estados Unidos e os islamitas do Taleban. De fato, há dois anos Berlim teve um papel chave na única tentativa promissora de abordar o Taleban até o momento. Na época, o representante especial Michael Steiner conseguiu dar início a sondagens entre representantes do Taleban e do governo americano, após um longo processo para convencer os dois lados a se encontrarem sem pré-condições.

A missão delicada foi inicialmente bem-sucedida. Após várias checagens meticulosas visando determinar se o representante do Taleban tinha sido de fato enviado pela liderança da insurreição, Steiner organizou uma reunião inicial entre Tayyeb Agha, que era considerado um confidente próximo do líder do Taleban, o mulá Omar, e dois representantes americanos, um do Departamento de Estado e um do Conselho de Segurança Nacional. A reunião secreta ocorreu em um local seguro pertencente à Bundesnachrichtendienst (BND), a agência de inteligência estrangeira da Alemanha, na cidade de Pullach, nos arredores de Munique. A BND foi responsável por trazer o representante do Taleban de modo seguro e discreto a Munique em um jato particular, antes da reunião.

Os detalhes do encontro parecem um romance de espionagem. Após algumas horas de conversações iniciais entre os inimigos declarados de Washington e do Afeganistão, Steiner convidou os representantes do Taleban a uma visita à sua cidade natal. Eles visitaram uma igreja juntos e então ele os levou a um passeio em um bondinho. Ambos os lados insistiram no maior sigilo, devido às preocupações sobre como as pessoas nos Estados Unidos e no Afeganistão reagiriam à notícia das conversações.

A aproximação visava abrir o caminho para negociações entre o Taleban, os Estados Unidos e, posteriormente, o governo afegão. Com a retirada da Otan e dos Estados Unidos do Afeganistão se aproximando, surgiu um consenso entre os países envolvidos na missão de que, no final, os insurgentes terão que ser reintegrados às estruturas de poder afegãs. Caso contrário, é difícil ver como o país poderá evitar mergulhar no caos.

Um exercício de construção de confiança
Em reuniões posteriores, Agha e os representantes americanos chegaram a um acordo inicial --uma espécie de exercício de construção de confiança. Os Estados Unidos libertariam cinco talebans prisioneiros de Guantánamo enquanto o Taleban, em troca, devolveria um soldado americano capturado em meados de 2009. Então o Taleban seria autorizado a abrir sua primeira representação diplomática no exterior, no Qatar, que teria um papel chave assim que as verdadeiras negociações começassem.

No final de 2011, os grupos se reuniram mais de sete vezes, e o ato de equilibrismo diplomático parecia estar funcionando. Logo após a conferência sobre o Afeganistão em Bonn, a missão diplomática no Qatar seria aberta, e a Cruz Vermelha já havia falado com os comandantes talebans presos em Guantánamo. Mas o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, que foi informado sobre as reuniões secretas em Munique e no Qatar por Steiner, se sentiu excluído e torpedeou o acordo, criticando o processo como ilegítimo. A discussão emperrou no momento em que um avanço parecia possível.

Desde então as negociações fracassaram em serem retomadas de modo significativo. Apesar da realização de encontros, a soltura dos cinco comandantes talebans de Guantánamo se tornou mais difícil do ponto de vista da política doméstica americana. A situação também não ficou mais fácil para o Taleban. Após as conversações se tornarem públicas, alguns dos comandantes do movimento se revoltaram contra uma aproximação potencial com os Estados Unidos, os arqui-inimigos deles. No início de 2012, o Taleban cortou contato completamente.

Um sério revés
Permanece incerto se uma segunda tentativa poderia ser bem-sucedida. Meses atrás, Michael Steiner, atualmente embaixador alemão na Índia, sinalizou a Karzai que considera um segundo esforço secreto de mediação pela Alemanha possível, mas não antes da eleição presidencial americana em novembro. Steiner também deixou bem claro que novas negociações só funcionariam se Karzai, que atualmente vê as atividades americanas com quase paranoia, concordasse em apoiar plenamente o processo e não perturbá-lo de fora.

Berlim se recusa a fazer comentários sobre os esforços de Steiner ou o potencial papel da Alemanha nos novos esforços para fazer contato com o Taleban. Mas em Tóquio, Westerwelle assegurou a Karzai que Berlim está pronta para apoiar o processo de paz a qualquer momento. Mais do que qualquer outro membro do gabinete alemão, Westerwelle ressalta frequentemente que uma solução política é a única forma de sair do atual atoleiro.

Os esforços afegãos para abrir um diálogo com o Taleban sofreram recentemente um sério revés. Cabul conseguiu convencer um representante dos rebeldes a participar de uma reunião informal com um emissário do chamado Alto Conselho para a Paz de Karzai, em Dubai. Mas a segunda tentativa de realizar conversações, que também contava com apoio da ONU, fracassou. Ao tomar conhecimento da reunião, o Paquistão impediu o membro do Taleban de sair do país.

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