quarta-feira, 13 de junho de 2012

Exército sírio não consegue conter onda de deserções


Soldados do Exército Sírio Livre participam de treinamento

As tropas do regime sírio ainda são capazes de atacar os insurgentes a qualquer momento e em qualquer lugar, mas eles não conseguem mais controlar todo o país, já que o número de desertores do exército continua a aumentar. Mas os rebeldes temem o próximo estágio do conflito, quando eles acreditam que o presidente Assad ordenará à sua força aérea que ataque os insurgentes.

Existem diversas versões da atual piada mais popular na Síria, mas ela pode ser resumida das seguinte forma: o exército faz sinal para que um ônibus pare em uma barreira militar. Todos os passageiros mostram os seus documentos de identidade, exceto um homem, que está sentado na última fileira do ônibus, sem demonstrar nenhuma disposição a obedecer os militares. Os soldados pedem novamente a identidade dele, de forma cada vez mais hostil, até que o homem esbraveja: "Vocês vão pagar por isso! Eu sou do serviço de inteligência!".

Os soldados trocam olhares entre si e começam a rir. A seguir, eles informam ao homem: "Nós na verdade fazemos parte do Exército Sírio Livre" - a ala armada da rebelião.

Os sírios têm um forte senso de humor, mesmo em meio aos horrores que eles têm vivido, e até durante episódios que trazem à memória os dias mais sangrentos dos conflitos que ocorreram nos vizinhos Líbano e Iraque. Segundo relatos, mais de 180 pessoas foram mortas em massacres ocorridos nos últimos dias, muitas das quais eram mulheres e crianças. O secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, declarou na semana passada que "o perigo de uma guerra civil é iminente e real" na Síria. Mas este é um país que já se encontra em guerra há algum tempo.

Mas a piada cínica sobre os soldados na barreira militar reflete uma realidade que cresce a cada dia, e que é apreciada por muitos sírios: o regime está vendo os seus soldados escaparem do seu controle. Um oficial militar da cidade de Idlib, no noroeste da Síria, relata ofegante, apenas algumas horas após ter desertado para o Exército Sírio Livre, como conseguiu escapar: "O oficial estava sentado, e quando ele ficou sozinho comigo e um amigo meu, ele gritou, 'O que vocês ainda estão fazendo aqui! Vamos, caiam fora daqui!'". Segundo o desertor, o oficial ordenará que eles sejam fuzilados, telefonará para as suas famílias e as ameaçará, mas tudo isso não passa de teatro. Ele afirma que a missão terminou e que para eles chegara a hora de desaparecer.

Atirando de grande distância
Dos 400 soldados originalmente posicionados na capital provincial de Idlib, apenas algumas dezenas continuavam na última semana a defender a sua base perto do centro da cidade, que tem passado por muitos combates. Na pequena cidade de Maraa, perto de Aleppo, 15 soldados desertaram em um período de uma semana – um número igual ao registrado no ano passado inteiro.

Em Azaz, onde as tropas de Assad ainda controlam um posto militar na periferia da cidade, um bairro altamente fortificado e os minaretes da maior mesquita, dois soldados desertaram alguns dias atrás usando a história da cobertura de um falso ataque. Eles disseram que durante várias semanas praticamente não receberam suprimentos, e que estavam se alimentando de pão velho e bebendo uma água turva. Um soldado que desertou anteriormente levou consigo os números de todos os seus companheiros de unidade que possuíam telefone celular. O Exército Sírio Livre entrou em contato com cada um deles, oferecendo auxílio para que eles escapassem. Muitos soldados contatados acharam a oferta atraente.

Este é apenas um pequeno retrato da situação no norte da Síria, mas desertores de outras partes do país que conseguiram voltar às suas aldeias nativas próximas a Aleppo falam sobre uma situação similar nas suas próprias unidades. Relatos sobre os ataques desfechados pelas tropas de Assad também indicam que a situação no sul, na área em torno de Damasco, em Deir al-Zor, no leste, e em Homs, no oeste, é praticamente a mesma que a do norte: em vários casos, o exército não envia mais os seus soldados em missões, preferindo disparar de grandes distâncias usando tanques e artilharia pesada, ou de helicópteros, já que essas estratégias reduzem os riscos corridos pelos militares.

Um desertor de Homs, uma cidade que também foi foco de combates intensos, descreve um ciclo de colapso acelerado. "Se eu tivesse saído antes, a polícia estatal teria prendido a minha família e incendiado a minha casa", diz ele. "Mas agora eles não viriam mais até aqui por minha causa".

Redução do medo
Cada vez que um pedacinho do país escapa do controle do regime, o medo dos soldados diminui. Isso, por sua vez, faz com que cresça o número de desertores, que aderem em quantidade cada vez maior ao Exército Sírio Livre. Um oficial que desertou para o Exército Sírio Livre e que tem uma mente precisa para lidar com números calcula que o grupo possui cerca de 40 mil ex-soldados nas suas fileiras, embora a relação entre o número de militares e o de civis varia segundo cada região.

À primeira vista, a dinâmica de poder na Síria pouco mudou nos últimos 15 meses. A rebelião eclodiu nas cidades, mas ao contrário do que ocorreu na Líbia, aqui não há uma área vasta e contígua a ser defendida pelos rebeldes. Mas a aparência de estabilidade é enganosa. Embora seja verdade que os soldados não tenham mais permissão para viajar de ônibus entre cidades se não tiverem uma autorização, e que muitos dos que desertam ainda correm o risco de serem mortos pelo onipresente serviço de inteligência, o fato é que o regime não é mais capaz de conter a erosão gradual do seu exército.

A impressão de poder e controle que emana dos centros de Damasco, de Alepp e de outras cidades sírias importantes pode ser também enganosa. A metade ocidental da Síria é uma área de vilas e pequenas cidades que aderiram à insurgência nas províncias mais densamente habitadas. Rif, a área em torno de Alepp, Idlib, Homs, Hama e Daraa, forma uma zona na qual as tropas do governo podem atacar em qualquer momento e em qualquer local, mas onde os militares não são mais capazes de controlar permanentemente nenhuma região. E, em muitos locais, as pessoas que moram aqui mudaram de lado. Os muçulmanos sunitas sem dúvida fizeram isso, mas muitos drusos e Ismaelitas também. E embora aldeias curdas no noroeste do país, como Basuta e Ain Dara, tenham começado a hastear a bandeira curda nas últimas semanas, em vez da bandeira revolucionária com as suas três estrelas, ninguém aqui defende mais o regime.

Cerca de 50 soldados encontram-se na Montanha Sheikh Barakat, próximo à Igreja de São Simeão, a ruína antiga famosa no norte da Síria, mas nos últimos dois meses eles só têm recebido suprimentos por via aérea, já que os comboios de veículos terrestres não conseguem mais passar pelas áreas circunjacentes, que se encontram completamente sob controle do Exército Sírio Livre.


"Nós não recebemos ordens"
O próprio Exército Sírio Livre é uma entidade peculiar. É evidente que ele está organizado de forma efetiva no nível das aldeias e pequenas cidades, e que cada grupo encontra-se conectado informalmente com outros distritos e províncias, mas eles não contam com nenhuma estrutura hierárquica nem de comando. "Nós mantemos um bom relacionamento com o comandante do Exército Sírio Livre que está no exílio na Turquia", diz um comandante local. "Mas nós não recebemos ordens. Nós mesmos é que nos comandamos".

Essa estrutura não é suficiente para possibilitar ataques coordenados contra os centros de poder do regime de Assad, mas ela parece ser suficientemente satisfatória para controlar o restante do país. O que está sustentando o regime é o seu monopólio sobre os armamentos pesados, bem como o seu núcleo duro que tem um contingente de 100 mil a 200 mil oficiais, agentes secretos, soldados de elite e membros de milícias, muitos dos quais são alauitas e que temem que a queda do regime signifique também o fim deles próprios. Essas tropas contam com redutos nas Montanhas Ansariyah, no oeste do país, e elas controlam também partes das grandes cidades. Entretanto, elas não são mais capazes de controlar os territórios situados entre essas duas áreas.

Todo mundo – os rebeldes, as centenas de milhares de indecisos espalhados por todo o país que atualmente estão fugindo para qualquer parte onde se sintam um pouco mais seguros, e até mesmo aqueles que apoiam o regime – estão com medo do "próximo passo", segundo as palavras de Abu Ali al-Dirri, um militar que trocou de lado seis meses atrás. O "próximo passo" é o uso da força aérea.

"Eles bombardearão o país"
Nos últimos 12 meses a Síria implementou atualizações maciças na sua força aérea, mas, até o momento, com a exceção dos helicópteros, o regime praticamente não utilizou esse poderio. "Mas antes de cair, a família Assad bombardeará o país", afirma Dirri. Ele diz que, durante anos, o regime se empenhou em garantir a lealdade da força aérea, a força na qual o pai do presidente Bashar Assad, Hafez, começou a sua carreira. "Eles aumentaram constantemente a proporção de cadetes alauitas na academia militar de Aleppo, especialmente na força aérea", explica Dirri. "Eles sabiam que em algum momento a situação se tornaria desfavorável".

Dirri diz que o regime enfrentará o problema advindo do fato de vários pilotos mais antigos terem passado para a reserva nos últimos anos, enquanto que vários pilotos mais novos mal completaram o número de horas de voo necessário para pilotar um avião de caça. O próprio Dirri, que é sunita, não tinha permissão para portar armas de fogo desde o início da revolução.

"Durante anos, a Rússia não quis mais fornecer peças de reposição, porque nós nunca pagávamos por elas, mas agora os russos estão fornecendo uma quantidade de assistência enorme, e até mesmo enviando assessores", diz o militar. Ele acrescentou que mais de mil engenheiros russos se encontravam no país em janeiro. "Muitos deles estavam oficialmente lá como consultores agrícolas, mas o trabalho deles não tem muito a ver com agricultura. O Irã enviou armas e munições, mas não muitos assessores, e a China mantem um grupo de especialistas da força aérea nos aeroportos militares de Aleppo".

De acordo com Dirri, cerca da metade dos 360 aviões de caça da força aérea encontra-se em plenas condições operacionais. E a proporção é mais ou menos a mesma no que diz respeito aos helicópteros. "Os helicópteros franceses Gazelle, equipados com armamentos antiblindados, estão em ótimas condições, mas nenhum deles jamais decolou. Todos estão estacionados no aeroporto do palácio presidencial", afirma Dirri.

Qual será o limite traçado pelo Ocidente?
"Enquanto o Ocidente continuar declarando todas as semanas que não tem nenhuma intenção de intervir militarmente na Síria, o regime de Assad continuará usando tudo o que tem à sua disposição", afirma o coronel Dirri. "O poder dele reside no fato de o mundo inteiro estar afirmando que não irá se envolver. Se esse tal de Rasmussen (ele está se referindo ao secretário geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte) calasse a boca de uma vez por todas, ele já prestaria um grande serviço à Síria".

Ultimamente, após os massacres ocorridos em Houla há duas semanas e em Mazraat al-Qubair, nenhum rebelde no norte da Síria ainda acredita que o plano de paz da ONU terá sucesso. Em vez disso, eles depositam a sua maior esperança em algo que é pouco mais do que um boato: a ideia de que em algum momento os Estados Unidos traçarão um limite, e talvez também a Rússia. O que será necessário para que se alcance esse limite? A utilização das forças aérea síria para bombardear o país? Ou talvez o uso por parte do regime do seu arsenal de armas químicas?

Uma coisa é certa: com ou sem um voto do Conselho de Segurança da ONU, os rebeldes desejam uma intervenção estrangeira.

7 comentários:

  1. se o governo cair nas mãos desses rebeldes que cortam gargantas de não partidários, ai sim a Síria esta perdida. Não passam de radicais islâmicos financiados pelo ocidente...

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  2. Eu falo de como o exército não é nenhum pouco confiavel hahaha, bom vejamos, soldados supostamente teriam a função de preservar a soberania nacional, bom, onde estaria a suposta soberania síria em uma internvenção estrangeira na guerra? Ou será que os soldados acham que forças estrangeiras ajudariam por caridade hahaha, o Assad estaria melhor defendido se recorresse a mercenários, mercenário por mercenário pelo menos seriam melhores preparados, exército não passa de cabine de emprego, nisso o fanfarrão do Hugo Chavez acordou e preparou uma guerrilha aparte, pelo menos os sonhadores do socialismoo utópicos não vão deixar ele na mão, quando forem fazer o mesmo na Venezuela, afinal a maior reserva de petró0leo do mundo não vai ficar longe de guerras nem que a vaca tussa.

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  3. O Assad ter 3 armas para se manter no poder. 1° ele tem armas químicas, se começar detonar em cima de avanços dos soldados desertores do ESL, ele pode conte-los, se ameaçar fornecer armas químicas ao Hezbollah a OTAN não vai ter peito de interferir na guerra hajam os massacres que ocorram. Outra arma do Assad, o Irã precisa dele, então pode acontecer da guerda revolucionária do Irã envie reforços expressivos para a Síria se é que já não enviou, acusaçõe existem mais não provas do envio. Outra arma a Shabiha que é a milícia ligada ao Assad formada por alauitas (dizem ter criminosos e guangues envolvidas mais não se sabe se é propaganda de guerra contra Assad ne), não vai desertar essa milícia, eles sabem que vão ter o mesmod estino dos antigos aliados do Kadafi, quando o CNT assumiu o poder a vingança foi generalizada

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  4. Todos os vídeos desses rebeldes sírios que tem no you tube eles gritam Allahu Akbar, e ainda falam que é pela democracia que lutam hauahahahah essa é boa, que nem na Líbia gritando Allahu Akbar era obvio que iam criar um estado islâmico,cada dia a mentira da democracia atingi níveis mais cinicos possíveis.

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    1. Favor não confundir as coisas. Já viu a porcentagem da população síria que é muçulmana? Seria estranho se eles não gritasse "Deus é grande!".

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  5. David não se esqueça da artilharia do exército do Assad, é uma vasta artilharia com mais de 4 mil peças, quase 5 mil peças, para um país do tamanho da Síria, faz mkuita diferença, na realidade ás tropas sírias tem um dos maiores arsenais do planeta quando comparamos números por ai.

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    1. Os números na guerra moderna às vezes não faz sentido. O que conta é tecnologia de ponta, coisa que a Síria não tem. Eles precisam dos russos para mapearem as posições dos rebeldes, não tem um satélite espião, não tem um UAV de vigilância.

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