quarta-feira, 14 de março de 2012

Na Síria, revolucionários que tentam derrubar Assad se dividem quanto ao lugar da luta armada


Exército Sírio Livre (ESL) defende suas posições em Homs 
Sem esperança imediata de intervenção externa, a proteção dos manifestantes sírios agora depende somente do Exército Sírio Livre (ESL). Esse “exército” anti-Assad, criado durante o verão de 2011 por iniciativa de alguns oficiais desertores exilados na Turquia, é por enquanto mais um selo do que uma estrutura de verdade, mas ele deve exercer um papel cada vez mais importante na ausência de uma ação internacional por parte do Conselho de Segurança das Nações Unidas, paralisado pelas divergências da comunidade internacional.

Após o veto dado duas vezes pela Rússia e pela China, os países que mais querem ajudar os revolucionários sírios a derrubar o regime de Bashar al-Assad --em particular as petromonarquias da Arábia Saudita e do Qatar-- não esconderam sua intenção de fornecer armas aos grupos armados que combatem as tropas regulares na Síria. O ESL se tornou assim alvo de todas as cobiças e hoje se encontra cortejado por diversos grupos da oposição.

Diante das hesitações do Conselho Nacional Sírio (CNS), principal plataforma da oposição, diante da luta armada, outros grupos mais radicais têm procurado se aliar ao ESL, que se tornou o ator central das forças anti-Assad. Dormente há vários meses, a plataforma de oposição agrupada em torno de Nofal al-Dawalibi, intitulada Conselho Nacional Sírio Unificado (CNSU), pretende ter um papel de primeiro plano.

Dawalibi é um empresário saudita de origem síria. Residente em Riad, ele participou durante o verão de diferentes reuniões que levaram à formação, no início de outubro de 2011 em Istambul, do Conselho Nacional Sírio (CNS), do qual ele diz ter sido afastado. “Nós éramos deixados de fora”, diz Nofal al-Dawalibi ao “Le Monde”. “A Irmandade Muçulmana estava fazendo suas manobras. Propuseram-nos apenas cinco cadeiras, entre 240. No final, nós nos retiramos e preferimos deixar o CNS mostrar do que era capaz.”

Cinco meses mais tarde, ele faz um balanço duro sobre a ação do CNS. “Eles não obtiveram reconhecimento internacional e não conseguiram fazer com que chegasse ajuda humanitária ou militar à Síria. É evidente que esse regime só pode cair à força. Dentro do país, o povo nos dá razão.” Dawalibi diz ter o apoio de grandes tribos sírias árabes sunitas --os Haddidin, os Jbour, os Al-Naim, os Baggara e os Shammar-- bem como de diversas personalidades cristãs e alauítas. Mas o apoio que mais conta é o da Arábia Saudita, com condições financeiras quase ilimitadas.

O passado de Dawalibi é interessante, nesse sentido. Seu pai, Maarouf, foi o último primeiro-ministro da Síria antes do golpe de Estado do partido Baath em 1963. À frente do Partido do Povo Sírio, este último era particularmente bem estabelecido na região de Alep. Após a tomada do poder por parte do Baath, Maarouf al-Dawalibi passou alguns meses na prisão antes de ir para o Líbano e depois para a Arábia Saudita, onde ele se instalou definitivamente. Conselheiro do rei Fayçal (1964-1975), Maarouf al-Dawalibi se tornou um enviado da monarquia saudita, sobretudo no Paquistão e no Afeganistão, na época do jihad contra os soviéticos.

Portanto, os contatos entre o coronel Riyad al-Assaad, o chefe autoproclamado do ESL, e Nofal al-Dawalibi, que também tem a intenção de criar um governo provisório, devem ser levados a sério desde que se mostrou a vontade dos dirigentes sauditas de fornecer armas aos insurgentes sírios. Na primeira conferência dos Amigos do Povo Sírio, no dia 24 de fevereiro em Túnis, o príncipe Saoud al-Fayçal, ministro das Relações Exteriores saudita, não escondeu seu descontentamento frente aos pudores da comunidade internacional sobre a questão do apoio à luta armada. O risco subjacente a uma iniciativa como essa é de que cada país envolvido termine por empurrar seu “protegido” no cenário sírio.

Ciente de que ele corre o risco de ser ultrapassado por grupos políticos mais radicais, o presidente do CNS, Burhan Ghalioun, que por muito tempo militou por uma revolução pacífica, anunciou, no dia 1º de março, a criação de um braço militar consultivo, encarregado de coordenar a ajuda ao ESL e sua ação. Um avanço considerado insuficiente pelo general aposentado Akil Hachem, conselheiro militar do CNS, que milita por uma “intervenção militar externa”. Este último suspendeu sua participação no braço executivo do CNS.

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