quarta-feira, 21 de março de 2012

Ao programar lançamento de foguete, Coreia do Norte complica acordo nuclear


Kim Jong-Un
Quando as potências regionais se reunirem em Seul na próxima semana para discutir o terrorismo nuclear, elas terão que lidar com outro assunto urgente: como pressionar a Coreia do Norte a cancelar seus planos de lançamento de um satélite. Foi o que disse ontem (20) o presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak.

“Não importa quais desculpas a Coreia do Norte possa ter, isso seria a violação de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU”, disse Lee para um grupo de repórteres, durante uma entrevista em seu gabinete. Ele se referia à resolução do Conselho de 2009, que proíbe a Coreia do Norte de lançar qualquer foguete usando a tecnologia de mísseis balísticos.

A Coreia do Norte tem enviado uma série de mensagens conflitantes sobre suas ambições nucleares desde que chegou a um acordo no mês passado com os Estados Unidos para a suspensão dos testes de mísseis de longo alcance e enriquecimento de urânio, assim como permitir a entrada dos inspetores da ONU, em troca de 240 mil toneladas de ajuda alimentar.

Seu anúncio na sexta-feira de que lançaria sua nova versão modificada do foguete Unha-3 para colocar um satélite em órbita entre 12 e 16 de abril, para celebrar o 100º aniversário de Kim Il Sung, o falecido presidente fundador da Coreia do Norte, atraiu rápida condenação internacional. Mas, na noite de segunda-feira, a Agência Internacional de Energia Atômica confirmou ter recebido um convite para retorno ao país, aparentemente sinalizando a prontidão da Coreia do Norte em implantar seu lado do acordo nuclear.

As autoridades americanas disseram que deixaram claro para as autoridades norte-coreanas, durante as negociações no mês passado, que um lançamento de satélite representaria uma quebra do acordo. Washington suspeita que a Coreia do Norte esteja fazendo uso dos lançamentos para encobrir o desenvolvimento de tecnologia de mísseis balísticos intercontinentais, apesar de a Coreia do Norte insistir que tem o direito soberano de desenvolver tecnologia espacial “pacífica”.

Ao, primeiro, aceitar o acordo de moratória de mísseis e, então, anunciar seu plano de lançamento de um foguete, a Coreia do Norte pareceu ter desferido um tapa diplomático em Washington e, ao mesmo tempo, estar testando a tolerância do governo Obama ao seu programa de foguetes. “Nosso lançamento de satélite não tem nada a ver” com o acordo nuclear com Washington, porque um lançamento de satélite e um míssil de longo alcance são “duas coisas separadas”, disse a Agência de Notícias Central Coreana na noite de segunda-feira.

Victoria Nuland, a porta-voz do Departamento de Estado americano, disse que Washington apreciaria a volta da agência nuclear à Coreia do Norte três anos após ter sido expulsa. Mas, ela disse, “isso não muda o fato de que consideraríamos um lançamento de satélite como sendo uma violação não apenas das obrigações deles junto à ONU, como também dos compromissos que acertaram conosco”.

As manobras da Coreia do Norte marcam sua primeira jogada diplomática desde que Kim Jong Un assumiu o poder, após a morte de seu pai, Kim Jong Il, em dezembro. “Esta será uma oportunidade de avaliar o novo líder norte-coreano e testar sua confiabilidade”, disse Lee. Se a Coreia do Norte seguir em frente com o lançamento do satélite, ele disse, “ela poderá conseguir alguns benefícios na política doméstica, mas perderá muito na comunidade internacional”.

A ascensão de Kim Jong Un ao poder aumentou as esperanças entre alguns analistas regionais de que o líder jovem, educado na Suíça na adolescência, poderia conduzir seu país para fora de seu extremo isolamento e do espírito de confrontação. Mas outros alertaram que sua preocupação com a consolidação do poder em casa o deixaria com pouca flexibilidade.

Como o programa de armas nucleares da Coreia do Norte, seu programa de foguetes é um legado chave de seu pai, Kim Jong Il, e sua elite. Ele figurou proeminentemente nas celebrações em andamento do centenário, que visam encher de orgulho e união os norte-coreanos empobrecidos.

A menos que os Estados Unidos ou a Coreia do Norte recue, o lançamento do foguete norte-coreano provavelmente privará Kim Jong Un das 240 mil toneladas de ajuda alimentar extremamente necessária. Mas a “assistência nutricional” prometida nunca foi do tipo e nem na quantidade desejada pela Coreia do Norte. A China, que deseja a estabilidade na Coreia do Norte e apoia Kim, teria enviado grandes quantidades de ajuda alimentar à Coreia do Norte recentemente.

O líder sul-coreano realizou a entrevista conjunta antes do encontro da Cúpula de Segurança Nuclear, que reunirá os outros cinco países envolvidos no fórum de seis países que visa desmontar o programa nuclear norte-coreano: Estados Unidos, Rússia, China, Japão e Coreia do Sul. O encontro trata da redução dos materiais com grau para armas nucleares e de impedir que materiais nucleares e substâncias radioativas caiam nas mãos de terroristas.

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