sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Moisés Naím: Bashar Assad: e agora, o que fazer?
As opções que o ditador sírio tem são apenas três: continuar matando, negociar, ir para o exílio
ENQUANTO VOCÊ lê esta coluna, ministros de 80 países estão reunidos hoje em Túnis procurando a maneira de tirar Bashar Assad do poder na Síria e impedir que ele continue a assassinar civis inocentes.
As opções não são muitas. Contudo, embora se discuta muito sobre as opções abertas para o resto do mundo em relação à Síria, tem se falado menos sobre as alternativas que restam para Assad. São três.
1. Continuar matando os insurretos e suas famílias. Foi o que Gaddafi tentou fazer, até que a Otan o impediu. Mas o líder sírio sabe que as potências ocidentais não vão travar uma guerra contra seu país, como fizeram na Líbia.
Também sabe que não pode sustentar a repressão indefinidamente, que países demais estão armando e apoiando os insurretos, cujo número aumenta diariamente, e que uma facção importante de suas Forças Armadas pode se rebelar a qualquer momento. China e Rússia, também. Matar não basta. E, se ele continuar nesse caminho, terminará como Gaddafi.
2. Negociar. O problema é com quem negociar. A oposição é uma amálgama de muitos grupos não coordenados. A outra alternativa é negociar com os estrangeiros: ONU, Liga Árabe, outros... Em troca da mediação internacional (envio de capacetes azuis?), Assad poderia prometer ceder o poder parcialmente.
Mas os estrangeiros vão lhe exigir garantias fortes. Além disso, Assad sabe que entregar um pouco de poder pode levá-lo a perder o poder por inteiro (ver o caso de Mubarak, Hosni). A recusa obstinada de Gaddafi em fazer concessões se baseou nessa convicção em relação ao poder. Mas ao final, quando já era tarde demais, Gaddafi e seus filhos tentaram desesperadamente fazer concessões e conseguir uma trégua.
A lição da Líbia é que é preciso negociar antes de ser derrotado. A lição do Egito, Tunísia e Iêmen é que, nos regimes autoritários, não é possível dividir o poder "um pouco". É tudo ou nada.
3. O exílio. Mas para onde ir? Na Europa, o aguardam o Tribunal Penal Internacional e outros organismos que documentaram as atrocidades. O Irã é outra possibilidade, como podem sê-lo a China ou a Rússia. A dificuldade é decidir quem mais incluir no avião ao exílio.
O irmão do presidente dirige a máquina repressora do regime e sua irmã é apontada como aguerrida defensora da linha dura. E depois vêm os generais, os chefes dos órgãos de segurança, os sócios e outros colaboradores próximos.
E as famílias destes. De fato, diante da possibilidade de que o presidente se decida pelo exílio, seus parentes e seguidores próximos criaram uma rede eficaz que lhe torna difícil viajar.
O fim da sangrenta dinastia síria se aproxima, mas ninguém sabe se chegará em questão de dias, semanas ou meses. Como vemos, as opções que restam para Bashar Assad são poucas e muito ruins.
Embora seja verdade que os grandes líderes conseguem abrir novos caminhos em direção a saídas que ninguém mais tinha imaginado, também é fato que Bashar Assad não é um grande líder.
É um assassino.
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