quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Livia Leu Agosti - Sob fogo cruzado


Embaixadora da Suíça em Teerã é único canal oficial para o diálogo entre Irã e EUA

Livia Agosti (à dir.) durante encontro com Hillary Clinton, em 2011

Livia Leu Agosti ocupa um dos cargos diplomáticos mais difíceis do mundo. Como embaixadora da Suíça em Teerã, ela é responsável pelo único canal de diálogo oficial entre EUA e Irã, arqui-inimigos em constante pé de guerra.

O mandato é fruto de um acordo pelo qual o governo suíço administra os interesses americanos no Irã desde 1980, quando Teerã e Washington romperam laços.

A tensão está no ápice, e o risco de conflito aberto é palpável. As jornadas de Leu Agosti têm sido longas.

"Em momentos como este, é importante que ainda exista uma via de comunicação. É preciso manter este canal aberto dia e noite", disse a embaixadora ao receber a Folha em seu gabinete.

Sigilo e discrição norteiam a gestão do diálogo entre Washington e Teerã. Leu Agosti não revela de que forma nem com que frequência são passadas as mensagens.

Ela diz apenas que há mais contatos do que se imagina.

Na última comunicação tornada pública, o "New York Times" revelou no mês passado que o presidente Barack Obama enviou, por meio da embaixadora, uma carta ao líder supremo do Irã, Ali Khamenei, mesclando ameaças e acenos.

Leu Agosti, 52, é uma mulher baixinha e miúda. Funcionários a chamam de "você". No mundo diplomático de Teerã, "Livia" é elogiada pela simpatia.

O marido, Donat Agosti, é respeitado taxonomista, cientista dedicado à classificação dos animais -no caso, formigas. O casal mora com os dois filhos pré-adolescentes.

Leu Agosti nasceu em Zurique, formou-se em direito e foi advogada antes de entrar na carreira diplomática, em 1989. Serviu em Nova York e no Cairo antes de virar embaixadora, em 2008. Em 2009, obteve o posto em Teerã.

ALPINISTAS

Na chegada ao Irã, Leu Agosti foi confrontada com a gestão do caso de três alpinistas americanos presos por forças iranianas na fronteira com o Iraque, sob a acusação de espionagem. A única mulher do grupo foi libertada um ano depois. Os rapazes ficaram detidos até 2011.

Durante dois anos, Leu Agosti fez incansáveis gestões em favor dos presos, ameaçados de execução.

A embaixadora, que diz nunca ter sentido maior dificuldade no Irã por ser mulher, obteve primeiro o direito de visitá-los na prisão e, depois, sua libertação.

"Foi difícil. Houve momentos de expectativa em que as coisas pareciam estar prestes a ser resolvidas e nada acontecia", afirma ela.

Leu Agosti rejeita considerar a libertação uma vitória pessoal, mas diz ter ficado "muito feliz" com o desfecho.

Dificuldades continuam. Em 2011, a Suíça seguiu os passos dos vizinhos europeus e adotou sanções ao Irã, num gesto que irritou os iranianos e foi visto por alguns como comprometedor à imagem de neutralidade suíça.

Em dezembro, um iraniano-americano acusado de espionagem foi condenado à morte. Leu Agosti até hoje não conseguiu visitar o acusado, já que Teerã só o reconhece como iraniano.

A embaixadora acompanha de perto as tensões atuais, mas também aprendeu a desconfiar das esperanças.

"Há períodos em que tudo leva a crer que as coisas caminham para a normalização, mas em seguida a expectativa cai outra vez."

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