sábado, 11 de fevereiro de 2012

Eleitores de região industrial da Rússia apoiam Putin, mas sem muito entusiasmo

Putin
Esta cidade industrial poeirenta, que abriga uma famosa fábrica de tanques de guerra, e que é conhecida pelos sua população simples e sincera, é o tipo de lugar com o qual o primeiro-ministro Vladimir Vladimirovich Putin está contando para as eleições do mês que vem.

Foi aqui, várias semanas atrás, que um trabalhador da fábrica de tanques chamado Igor Kholmanskikh, ladeado por outros trabalhadores de semblante fechado e vários tanques, ameaçou em uma rede de televisão nacional seguir para Moscou com os seus colegas a fim de defender Putin do movimento popular crescente contra o primeiro-ministro - “dentro da lei, é claro”.

Desde então, Nizhny Tagil passou a encarnar o tema central da campanha de Putin para retornar à presidência após ter sido primeiro-ministro durante quatro anos. Blogueiros e funcionários públicos de classe média de Moscou podem estar sonhando em transformar a Rússia em uma espécie de Suíça eslava, de acordo com a narrativa de Putin. Mas aqui, na Rússia real, onde as pessoas gostam de pão preto e de vodca pura, o status quo é visto com simpatia.

Mas a realidade que é ilustrada aqui em Nizhny Tagil parece um pouco mais complexa. Muitos moradores afirmam que de fato votarão em Putin nas próximas eleições, mas é evidente que o entusiasmo deles começou a diminuir.

“Putin retornará à presidência de qualquer forma, mas nós não sabemos se este fato é bom ou ruim”, diz Tatyana Utkina, uma aposentada de 63 anos de idade. “Eu creio que neste momento esta é a melhor opção. Mas, o que acontecerá? Honestamente, eu estou com um pouco de medo do desconhecido. Embora eu tenha tido sempre uma opinião positiva em relação a Putin, o fato é que não há mudanças”.

A ambivalência de Utkina revela um problema fundamental para Putin aqui e em outras cidades de classe trabalhadora que são consideradas a sua maior base de apoio. Muitos dizem que a melhoria do padrão de vida foi o ponto forte do período em que Putin esteve no poder. Mas são poucos os que afirmam estar vivendo bem, especialmente segundo os padrões de Moscou e de outras grandes cidades. E também não são muitos os que esperam que a situação mude para melhor.

Ao contrário, o apoio a Putin parece se basear principalmente na falta de opções. Ao serem questionados sobre o motivo pelo qual votarão em Putin, muitos dos que o apoiam responderam: “Não temos outra escolha”.

“O que estamos vendo não é nenhum amor por Putin”, explica Natalya Zubarevich, socióloga do Instituto Independente de Política Sociais em Moscou. “O que vemos, na maioria dos casos, é apoio passivo ou insatisfação, que também é passiva”.
Segundo Zubarevich, esses apoiadores passivos compõem a maior parte da base eleitoral de Putin. A questão agora é saber se Putin – se e quando ele ganhar a eleição – será capaz de sustentar esse apoio tênue.

A resposta pode ser encontrada até certo ponto em lugares como Nizhny Tagil, uma cidade de 400 mil habitantes nos Montes Urais, onde recentemente um forte odor metálico emitido por uma usina siderúrgica da era soviética combinou-se a temperaturas negativas para proporcionar uma sensação de infelicidade apocalíptica que, sob vários aspectos, é exclusiva desta parte do mundo.

Aqui, assim como em muitas cidades industriais da Rússia, os efeitos do colapso soviético ainda podem ser sentidos. A cidade tem um Painel de Lênin e uma Rua Militante Vermelho. Chaminés fumacentas das duas enormes fábricas da cidade, que também são remanescentes do poderio industrial soviético, marcam uma paisagem cuja feiura só raramente é atenuada pela cúpula fulgurante de uma igreja ortodoxa.

A maioria dos moradores, homens e mulheres, trabalha em uma das fábricas, e muitos deles são diretamente gratos a Putin pelos seus empregos. Dois anos atrás, quando a fábrica de tanques Uralvagonzavod carecia de encomendas e amargava prejuízos, Putin foi até à cidade, exercitou o seu famoso poder político e salvou a fábrica com uma transfusão de verbas governamentais.

A medida fez com ele conquistasse a simpatia dos trabalhadores (mas não a dos seus assessores econômicos). Porém, há atualmente a sensação de que o Kremlin não tem como atender ao desejo da população por progressos reais.

“Quanto mais longe de Moscou, pior é a situação, incluindo as estradas, os programas sociais, etc...”, queixa-se Vladislav Koznov, 32, que é dono de uma pequena empresa.

A maioria dos moradores, homens e mulheres, trabalha em uma das fábricase outros moradores reclamam do sistema tributário da Rússia, que exige que as regiões enviem a maior parte da sua arrecadação de impostos para o governo federal para ser redistribuída, em vez de ser dispendida no local em que os impostos foram coletados.

“As pessoas desejam uma vida melhor”, diz ele. “Elas querem que o dinheiro arrecadado permaneça aqui e que a cidade seja mais dinâmica”.

Até mesmo os aparentes sinais de progresso, como o resplandecente shopping center da cidade, representam uma realidade complicada. “Eu vim para caminhar pelo shopping e para fazer 'compras de vitrine', se é que você me entende”, diz Tatyana, 45, que tem dois filhos.

Ela diz que é vendedora em uma loja de autopeças. “Eu caminho um pouco pelo shopping e logo fico querendo voltar para casa”, diz Tatyana. “Tudo é muito caro, pelo menos para o meu salário”.

Tatyana diz que as perspectivas negativas para o futuro dos seus dois filhos a preocupam mais do que o seu próprio conforto.

“Um deles já toma conta de si próprio, mas ele não está fazendo nada de fato”, diz ela. “O segundo terminará a escola neste ano, e quem sabe o que ele fará depois disso. Eu não tenho condições financeira para mandá-lo a lugar algum. Se conseguir ser aceito por alguma universidade, ele vai se mudar daqui”.

Ela diz que a maioria dos jovens vai embora de Nizhny Tagil ou passa a trabalhar nas fábricas, onde os salários médios são de cerca de US$ 1.000 por mês. Com tal salário, pouca gente pode usufruir dos supostos frutos da era Putin.

“Seria ótimo sair de férias com a família para esquiar ou fazer alguma outra atividade”, diz Igor Sharafeyev, 35, que trabalha há quase duas décadas na usina siderúrgica de Nizhny Tagil. “Faz 17 anos que eu não viajo para lugar nenhum”.

Sharafeyev e outros moradores da cidade dizem ainda que ficaram irritados por acharem que foram usados como parte da campanha presidencial de Putin. Recentemente, milhares de trabalhadores de Nizhny Tagil e de outras cidades da região foram levados de trem para Yekaterinburg, a capital regional, para aquilo que foi retratado pela televisão estatal como sendo um grande comício de apoio a Putin.

“Como você acha que eles atraíram as pessoas para lá?”, pergunta Sharafeyev. “Com transporte gratuito, cantores famosos e vodca de graça. As pessoas não foram para lá por causa de Putin, mas sim para se divertirem. Mas o governo mostrou isso na televisão como sendo uma manifestação de apoio a Putin”.

O comício de Yekaterinburg foi um dos vários eventos similares de apoio ao Kremlin nos quais os jornalistas perceberam uma ausência de apoio popular autêntico. Até mesmo a manifestação de Kholmanskikh, o funcionário da fábrica de tanques, foi exibida no comunicado anual à nação feito por Putin, uma apresentação altamente ensaiada, cujo principal objetivo é promover uma boa imagem do líder russo.

Quanto ao apoio genuíno a Putin entre a classe trabalhadora de Nizhny Tagil, Sharafeyev diz secamente: “Isso não passa de um mito”.

2 comentários:

  1. Comovente,porém a realidade é a mesma em qualquer parte do mundo. A verdade é que se vão votar em Putin,somente por que não tem opção melhor,então Putin é sem duvidas a melhor opção...ou eu tô errado?

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  2. Putin elevou a Rússia a um novo status, mas ao custo de muita corrupção e enriquecimento ilícito. Não posso compactuar com isso.

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