quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Por que a China é fraca no que diz respeito ao poder brando


O presidente da China, Hu Jintao, saudou a chegada de 2012 com a publicação de um ensaio importante, advertindo que a China está sendo atacada pela cultura ocidental: “Nós precisamos nos conscientizar de que forças internacionais hostis estão intensificando um complô estratégico para a ocidentalização e a divisão da China, e os campos ideológico e cultural são as áreas nas quais se concentra essa infiltração de longo prazo”, disse ele, acrescentando: “A cultura internacional do Ocidente é forte, enquanto que a nossa é fraca”.

Basicamente, Hu estava dizendo que a China está sofrendo o ataque do soft power (poder brando) ocidental – a capacidade de produzir resultados por meio da persuasão e da atração, e não por coerção e pagamentos – e que o país precisa contra-atacar.

No decorrer dos últimos dez anos, o poderio econômico e militar da China aumentou notavelmente, e isso assustou os vizinhos do país, fazendo com que estes procurassem aliados para contrabalançar o hard power (poder bruto) da China. Mas se um determinado país for também capaz de aumentar o seu soft power, os vizinhos dele sentirão menos necessidade de procurar alianças para contrabalançar esse aumento de poder. Por exemplo, o Canadá e o México não buscam alianças com a China para contrabalançar o poder norte-americano, ao contrário do que fazem os países asiáticos, que buscam uma presença dos Estados Unidos para fazer frente ao poderio da China.

Já em 2007, Hu disse ao 17º Congresso do Partido Comunista Chinês que a China precisava investir mais nos seus recursos de soft power. Por isso, a China está gastando bilhões de dólares em uma ofensiva para vender uma imagem favorável.

O estilo chinês valoriza os gestos ostensivos, como, por exemplo, a reconstrução do Parlamento Cambojano ou do Ministério das Relações Exteriores de Moçambique. Os elaboradamente ensaiados Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, fizeram com que a reputação da China melhorasse, e a Exposição de Xangai 2010 atraiu mais de 70 milhões de visitantes. O Fórum Boao para a Ásia, na Ilha Hainan, atraiu quase 2.000 lideranças empresariais e políticos asiáticos para um evento que foi chamado de uma “Davos asiática”. E os programas chineses de ajuda à África e à América Latina não estão condicionados a questões de ordem institucional ou relativas aos direitos humanos que afetam a implementação dos programas de auxílio ocidentais.

A China, que sempre contou com uma cultura tradicional atraente, criou agora várias centenas de Institutos Confúcio em todo o mundo para ensinar essa cultura e também a língua predominante no país. A matrícula de estudantes estrangeiros na China aumentou de 36 mil há uma década para pelo menos 240 mil em 2010. E, enquanto a Voz da América reduzia as suas transmissões em chinês, a Rádio China Internacional aumentava as suas transmissões em inglês para 24 horas por dia.

Em 2009, Pequim anunciou planos para investir bilhões de dólares na criação de empresas gigantes de mídia de âmbito global para competirem com a Bloomberg, a Time Warner e a Viacom. A China investiu US$ 8,9 bilhões em projetos de publicidade externa, incluindo um canal a cabo da agência de notícias Xinhua, que foi criado para imitar a Al Jazeera.

Pequim também criou defesas. A China limita a entrada dos filmes estrangeiros a apenas 20 por ano, subsidia companhias chinesas que criam produtos culturais e restringe programas de televisão chineses que são imitações de programas de entretenimento ocidentais.
Mas, apesar de todos os esforços, o país obteve pouco retorno com esses investimentos. Uma recente pesquisa feita pela BBC revela que a opinião em relação à influência da China é positiva em grande parte da África e da América Latina, mas é predominantemente negativa nos Estados Unidos e na Europa, bem como na Índia, no Japão e na Coreia do Sul. Uma pesquisa de opinião realizada na Ásia após as Olimpíadas de Pequim revelou que a ofensiva para melhorar a imagem da China não gerou resultados.

A China parece não entender que a utilização da cultura e da narrativa para criar soft power não é uma tarefa fácil quando tal mensagem não condiz com as realidades internas do país.

As Olimpíadas de 2008 foram um sucesso, mas pouco depois, a repressão interna da China contra o Tibete e Xianjiang, e contra ativistas dos direitos humanos, prejudicou seus ganhos na área de poder brando. A Exposição de Xangai foi também um grande sucesso, mas a ela se seguiram as prisões do ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Liu Xiabo, e do artista Ai Weiwei. E, apesar das todas as tentativas de transformar a Xinhua e a Rede Central de Televisão da China em concorrentes da CNN e da BBC, há pouca audiência internacional para o tipo de propaganda sem sutilezas veiculada por esses canais.

Agora, após as revoluções do Oriente Médio, a China está censurando a internet e prendendo advogados dos direitos humanos, o que mais uma vez torpedeia a sua campanha para a obtenção de poder brando.

Conforme argumentou em dezembro do ano passado Han Han, um escritor e blogueiro popular, “a restrição às atividades culturais faz com que seja impossível que a China influencie a literatura e o cinema em um âmbito global, ou que nós, intelectuais chineses, possamos erguer a cabeça com orgulho”.

O desenvolvimento do soft power não tem que ser necessariamente um jogo de soma zero. Todos países poderiam sair ganhando com a descoberta de atrativos nas diversas culturas. Mas, para que a China tenha sucesso, ela precisará estimular os talentos da sua sociedade civil. Infelizmente, ao que parece isso não acontecerá tão cedo.

*Joseph S. Nye é professor da Universidade Harvard e escritor. O seu livro mais recente é “The Future Power” (“A Futura Potência”).

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