quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Pentágono deve apresentar nesta semana sua estratégia de forças armadas reduzidas


O secretário de Defesa, Leon E. Panetta, deverá revelar nesta semana sua estratégia para guiar o Pentágono no corte de centenas de bilhões de dólares de seu orçamento, e com ela a visão do governo Obama das forças armadas que os Estados Unidos precisam para responder às ameaças do século 21, segundo altos funcionários.

Em uma mudança de doutrina movida pela realidade fiscal e um acordo fechado em meados do ano passado, que impediu que os Estados Unidos dessem um calote em sua dívida, Panetta deverá apresentar os planos para um encolhimento cuidadoso das forças armadas – e ao fazê-lo deixar claro que o Pentágono não manterá a capacidade de travar suas guerras prolongadas em solo ao mesmo tempo.

Em vez disso, ele dirá que as forças armadas serão grandes o suficiente para travar e vencer um grande conflito, também sendo capaz de “impedir” as ambições de um segundo adversário em outra parte do mundo, conduzindo ao mesmo tempo várias operações menores, como fornecer ajuda humanitária ou implantar uma zona de exclusão aérea.

Enquanto isso, as autoridades do Pentágono estão realizando as deliberações finais sobre os cortes potenciais em virtualmente toda área importante de gastos do Pentágono: arsenal nuclear, navios de guerra, aeronaves de combate, salários e benefícios de aposentadoria e saúde. Com o fim da guerra no Iraque e o relaxamento da guerra no Afeganistão, Panetta está pesando em quão significativamente reduzir as forças de solo americanas.

Há uma ampla discussão na esquerda, direita e centro se os US$ 450 bilhões em cortes na Defesa ao longo de uma década – a quantia aceita pela Casa Branca e pelo Pentágono em meados do ano passado– são aceitáveis. Isso representa cerca de 8% do orçamento do Pentágono. Mas há um intenso debate a respeito de US$ 500 bilhões adicionais em cortes que teriam que ser feitos, caso o Congresso de fato promova as reduções mais profundas.

Panetta e os falcões da Defesa dizem que uma redução de US$ 1 trilhão, aproximadamente 17% do orçamento do Pentágono, seria desastrosa para a segurança nacional. Os democratas e alguns poucos republicanos dizem que seria doloroso, mas administrável; eles acrescentam que ocorreram cortes mais profundos na Defesa depois da Guerra Fria e das guerras na Coreia e no Vietnã.

“Mesmo com um trilhão de dólares, seria uma redução menor do que qualquer uma das últimas três que realizamos”, disse Gordon Adams, que supervisionou os orçamentos militares na Casa Branca de Bill Clinton e atualmente é membro do Stimson Center, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos em Washington. “Elas ainda seriam as forças armadas predominantes do mundo. Nós estaríamos em uma corrida armamentista com nós mesmos.”

Muitos daqueles que estão mais preocupados com os cortes, incluindo Panetta, reconhecem que os custos com pessoal no Pentágono são insustentáveis e que benefícios de aposentadoria generosos podem ter que ser reduzidos, para salvar programas cruciais de armas.

“Se permitirmos que a atual tendência continue, nós vamos transformar o Departamento de Defesa em uma empresa de benefícios que ocasionalmente mata terroristas”, disse Arnold L. Punaro, um integrante do grupo consultor do Pentágono, o Conselho de Negócios da Defesa, que tem pressionado por mudanças no sistema de aposentadoria dos militares.

Panetta apresentará a estratégia que guiará seus planos de gastos em uma coletiva de imprensa nesta semana, e os cortes específicos –por ora, o Pentágono preparou cerca de US$ 260 bilhões em cortes para os próximos cinco anos– serão detalhados no orçamento anual que o presidente submeterá ao Congresso, onde será debatido e quase certamente sofrerá emendas antes da aprovação. Apesar das propostas buscarem cortes orçamentários ao longo de uma década, qualquer futuro presidente pode decidir propor um plano de gastos alternativo ao Congresso.

Os cortes inevitavelmente forçarão decisões sobre o escopo e futuro das forças armadas americanas. Se, digamos, o Pentágono economizar US$ 7 bilhões ao longo de uma década por meio da redução do número de porta-aviões de 11 para 10, haveria forças suficientes no Pacífico para responder a uma China cada vez mais ousada? Se o Pentágono economizar quase US$ 150 bilhões nos próximos 10 anos encolhendo o Exército, digamos, de 570 mil soldados para 483 mil, os Estados Unidos estariam preparados para uma dura e prolongada guerra em solo na Ásia?

E quanto a uma economia de mais de US$ 100 bilhões em cortes no atendimento de saúde para os militares aposentados? Isso quebraria a promessa feita para aqueles que arriscaram suas vidas pelo país?

Os cálculos excluem os custos das guerras no Iraque e no Afeganistão, que cairão ao longo da próxima década. Mesmo com o relaxamento das guerras e o potencial de US$ 1 trilhão em cortes ao longo da próxima década, o orçamento anual do Pentágono, atualmente de US$ 530 bilhões, encolheria para US$ 472 bilhões em 2013, ou aproximadamente o tamanho do seu orçamento em 2007.

Também é importante lembrar que Panetta, um ex-chefe de orçamento da Casa Branca, entende a política orçamentária como poucos outros secretários de Defesa. Quando ele enviou uma carta assustadora ao Capitólio no final do ano passado, apresentando a perspectiva de enormes reduções em alguns dos programas de armas favoritos de alguns congressistas, analistas viram naquilo uma tática clássica para atrair parte do Capitólio para seu lado. Eles notaram que Panetta não citou os US$ 100 bilhões que o secretário de Defesa anterior, Robert M. Gates, disse que poderiam ser economizados com a redução do número de empresas fornecedoras e prestadoras de serviço, das despesas gerais, com a consolidação de tecnologia e limitação dos gastos nos gabinetes executivos do Pentágono.

“Falar sobre práticas de negócios não faz soar os alarmes”, disse Travis Sharp, um especialista em orçamento da Defesa no Centro para uma Nova Segurança Americana, uma instituição de pesquisa de políticas de defesa.

Aqui está uma visão de outras áreas para reduções:

Benefícios e salários militares, apesar de politicamente difíceis de serem cortados, estão à frente na mira de muitos analistas do orçamento da Defesa. A redução dos sistemas de atendimento de saúde e aposentadoria do Pentágono e o estabelecimento de um teto aos aumentos resultariam em grandes economias ao longo da próxima década.

Como está no momento, o Pentágono gasta US$ 181 bilhões por ano, quase um terço de seu orçamento básico, em custos de pessoal: US$ 107 bilhões em salários e auxílios, US$ 50 bilhões em saúde e US$ 24 bilhões em pagamento de aposentadoria.

Um analista independente, Todd Harrison, do Centro para Levantamentos Estratégicos e Orçamentários, um grupo não partidário de pesquisa e políticas em Washington, calculou que se os custos com pessoal militar continuarem subindo na taxa da última década, e os gastos gerais do Pentágono não aumentarem, em 2039 todo o orçamento da Defesa seria consumido pelos custos de pessoal.

A maioria das “listas de cortes” de Washington recomenda aumentos das taxas para os beneficiários do seguro saúde do Pentágono, o Tricare. Mas as taxas mais altas afetariam apenas os aposentados em idade de trabalho e não o pessoal do serviço ativo, que não paga pelo plano de saúde. Outras propostas pedem por um teto nos aumentos dos salários dos militares, que tiveram aumentos de dois dígitos desde os ataques de 11 de setembro de 2011, frequentemente porque o Congresso dava aumentos aos militares acima dos pedidos pelo Pentágono.

O alvo principal dos cortes de armas é o Caça de Ataque Conjunto F-35, um dos programas de armas mais caros da história. O Pentágono tem planos de gastar quase US$ 400 bilhões na compra de 2.500 desses caças stealth até 2035, mas reduções são esperadas.

O debate é centrado em quão necessário o caça stealth avançado realmente é, e se as missões não poderiam ser realizadas com os menos caros F-16. A principal vantagem do F-35 é sua capacidade de escapar dos sistemas de radar, dificultando que seja abatido – um atributo importante apenas se os Estados Unidos preverem uma guerra com outras forças armadas tecnologicamente avançadas.

“Teria importância relativa contra o Irã, teria muita importância contra a China”, disse Michael E. O’Hanlon, um analista de defesa da Instituição Brookings e autor de um livro recente, “The Wounded Giant: America’s Armed Forces in an Age of Austerity” (“O gigante ferido: as forças armadas americanas em uma era de austeridade”, em tradução livre).

Em nenhuma outra área o equilíbrio do orçamento e a estratégia são mais desafiadores do que na decisão do tamanho da força de combate em solo que o país precisa e pode bancar. O chefe do Estado-Maior do Exército, o general Ray Odierno, o ex-comandante no Iraque, aponta que o Exército tinha 480 mil pessoas uniformizadas antes dos ataques do 11 de Setembro, e que o número era supostamente capaz de travar duas guerras ao mesmo tempo.

Mas o Exército provou ser pequeno demais para sustentar as guerras no Afeganistão e no Iraque, e foi ampliado para seu tamanho atual de 570 mil soldados. O Exército agora deverá cair para 520 mil soldados, a partir de 2015, apesar de poucos esperarem que esse será o piso. A realidade é que os Estados Unidos não poderão ser capazes de arcar com travar duas guerras ao mesmo tempo.

“Dito isso, há certos riscos em abandonar a postura de duas guerras”, disse Andrew F. Krepinevich Jr., um especialista em forças armadas do Centro para Levantamentos Estratégicos e Orçamentários. “Há o risco da perda da confiança de alguns aliados e o risco de encorajar os adversários. Mas no final do dia, uma estratégia de blefar, ou afirmar que você tem uma capacidade que não tem, é provavelmente a pior postura de todas.”

Estudos pelo Centro para uma Nova Segurança Americana, pela Força-Tarefa de Defesa Sustentável e pelo Instituto Cato, que representam um espectro de pontos de vista a respeito dos gastos da Defesa, estimam que a economia com os cortes nas forças terrestres pode variar de US$ 41 bilhões, com a redução do Exército para 482 mil soldados e o Corpo dos Marines para 175 mil (de seu tamanho atual de 202 mil), até US$ 387 bilhões, caso o Exército seja reduzido para 360 mil soldados e os marines para 145 mil.

Os números finais deixarão claro que os Estados Unidos não poderão executar esforços longos de estabilização e construção de nação, como os pedidos para o Afeganistão e Iraque, sem uma mobilização imensa da Guarda Nacional e dos reservistas.

O tamanho das forças armadas é determinado não apenas para vencer guerras, mas para impedir adversários de iniciarem hostilidades. Essa é a base do raciocínio americano para manter uma presença de combate em bases no exterior e para realização regular de patrulhas aéreas e marítimas ao redor do globo. Mas com a maior austeridade, elas também podem ser reduzidas para economizar dinheiro.

O senador Tom Coburn, republicano do Oklahoma, defende a economia de US$ 69,5 bilhões ao longo de 10 anos com a redução em um terço do número de militares americanos estacionados na Europa e na Ásia.

“Essa opção deixaria uma maior capacidade militar para manutenção das bases aéreas e portos navais estratégicos para fornecimento dos elos logísticos”, escreveu Coburn em um relatório sobre suas propostas orçamentárias. Muitos especialistas em orçamento também veem formas de economizar bilhões de dólares com a consolidação das instalações do Departamento de Defesa, escolas e complexos.

Uma das maiores despesas enfrentadas pelo Pentágono é a substituição de suas forças nucleares estratégicas envelhecidas. Apesar da manutenção das ogivas nucleares americanas ser relativamente barata no dia a dia, todas as três pernas da tríade nuclear que desfere o golpe – submarinos, bombardeiros e mísseis em solo– estão chegando ao fim de sua vida útil mais ou menos ao mesmo tempo.

“O mundo mudou”, disse Stephen W. Young, um analista sênior da União dos Cientistas Preocupados, um grupo de monitoramento nuclear. “Os Estados Unidos podem permanecer mais que seguros com um arsenal bem menor do que aquele que atualmente possuímos.”

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