quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Estudo classifica os países de acordo com a segurança nuclear


Usina nuclear de Nogent sur Seine, na França, um dos países mais dependentes da energia atômica


Os 32 países com materiais que podem ser usados em bombas atômicas geralmente são calados a respeito de segurança, o que parece ao público como um mundo fechado de arame farpado e guardas armados. Mas nos bastidores, pessoas do meio nuclear há muito contam histórias de horror sobre práticas arriscadas e falhas de segurança, que poderiam resultar em ingredientes cruciais para armas nucleares caindo em mãos erradas.

Agora, pela primeira vez publicamente, os especialistas estudaram as precauções implantadas por cada país e classificaram os países do melhor ao pior. O estudo está repleto de surpresas e embaraços potenciais. Por exemplo, a Austrália fica em primeiro lugar em segurança nuclear e o Japão aparece em 23º, atrás de países como o Cazaquistão e a África do Sul.

Os Estados Unidos? Estão empatados em 13º lugar com a Bélgica. Quem fica em último lugar é a Coreia do Norte, um Estado policial que o relatório considera seriamente deficiente em questões de segurança nuclear.

O ranking é um empreendimento conjunto da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear, um grupo privado em Washington, e a Economist Intelligence Unit, uma empresa em Londres que realiza análises de risco. A meta deles é incitar o debate sobre como promover a segurança e encorajar os governos a fortalecerem as salvaguardas contra o terrorismo atômico.

“Esse trabalho nunca será feito se continuarmos operando atrás de portas fechadas”, disse Deepti Choubey, um diretor sênior para segurança nuclear da Iniciativa contra a Ameaça Nuclear, em uma entrevista na terça-feira.

A equipe ofereceu informar os 32 países sobre as conclusões de segurança, e diz que 28 as aceitaram. Uma ligeira maioria –17 países– foi mais além, discutindo as análises e oferecendo feedback, Nenhum país, disseram os avaliadores, foi informado sobre seu ranking de segurança.

A análise foi apresentada na manhã de quarta-feira, em uma coletiva de imprensa no Clube Nacional de Imprensa, em Washington.

Sam Nunn, o ex-senador democrata pela Geórgia e fundador da iniciativa contra a ameaça, disse que o estudo “não visa parabenizar alguns e repreender outros”. Em vez disso, disse Nunn, suas análises e recomendações visam oferecer “um recurso para melhorias”.

Os desafios políticos e financeiros enfrentados por muitos governos fazem com que a segurança nuclear frequentemente tenha menor prioridade e pouca análise.

“Nós esperamos”, disse Nunn, que o novo estudo “possa servir como uma fundação sólida para ajudar a orientar esse trabalho urgente e contínuo”.

Os fundadores da iniciativa e do estudo incluem a Fundação MacArthur e a Carnegie Corporation de Nova York.

O levantamento global é uma ramificação do esforço do presidente Barack Obama para fazer com que os países assumam uma maior responsabilidade pela proteção dos materiais de bombas que estão vulneráveis a roubo e venda escondida. Em 2010, ele realizou uma cúpula de segurança em Washington que chamou a atenção para o risco. Especialistas alertaram que terroristas poderiam comprar ou roubar material para armas nucleares no labirinto oculto de depósitos e instalações nucleares do mundo, que chegariam a milhares.

Uma segunda cúpula está marcada para março. Ela será realizada em Seul, Coreia do Sul, e o novo relatório é visto como útil para ajudar a estabelecer a agenda para esse encontro de líderes mundiais. Um foco deverá ser a Coreia do Norte.

A nova análise se concentra nas precauções de segurança para os dois principais combustíveis de armas nucleares - o plutônio e o urânio altamente enriquecido. Ele não tentou avaliar as proteções para materiais altamente radioativos, que um terrorista poderia tentar disseminar com explosivos convencionais, no que é chamado de bomba suja.

Em entrevistas, os analistas nucleares disseram que trabalharam com base em informação pública que frequentemente era pouco conhecida  – por exemplo, procedimentos gerais para treinamento de guardas e proteção de instalações sensíveis.

“Não houve espionagem”, disse Leo Abruzzese, diretor de previsão global da Economist Intelligence Unit. “As informações foram apenas reunidas.”

Para cada país, o estudo analisou um total de 18 fatores envolvidos na segurança nuclear. Eles incluíam a quantidade conhecida de materiais, proteções físicas, prestação de contas dos métodos e segurança no transporte, assim como fatores sociais maiores como estabilidade política e corrupção.

O relatório de 122 páginas é intitulado “Índice de Segurança de Materiais Nucleares” e conta com um site, www.ntiindex.org.

A Austrália ficou no topo, diz o relatório, por ter reduzido sua posse de materiais utilizáveis por armas para “uma pequena quantidade” e se saiu bem nos indicadores gerais. Ela recebeu 94 dos 100 pontos possíveis.
Entre os nove países que reconhecidamente possuem armas nucleares, o Reino Unido ficou no topo, com 79 pontos. O relatório credita esse resultado às medidas concretas de segurança, assim como seu “compromisso com as obrigações internacionais e seu cumprimento”.

Os Estados Unidos ficaram com 78 pontos  – um bom resultado, disseram os avaliadores, considerando sua posse de um vasto complexo nuclear que data dos primórdios da era atômica.

O Japão recebeu uma nota de 68 por causa de seu vasto estoque de plutônio, suas medidas relativamente pobres com pessoal de segurança e sua falta de um órgão regulador independente.

Um país que surpreende na lista é o Irã. Ele alega não ter ambições de produzir combustível para uma bomba, apesar dos líderes mundiais temerem que seu crescente programa nuclear vise obter essa capacidade. A equipe do estudo disse que o Irã foi incluído na análise por possuir urânio altamente enriquecido para um reator de pesquisa em Teerã.

O Irã recebeu uma nota geral de 46, com sua posição prejudicada pelo que o relatório julgou como corrupção, instabilidade política e procedimentos ruins para controle nuclear e prestação de contas. Dentre os 32 países, ele ficou em 30º.

O Paquistão, com uma nota de segurança de 41 e um complexo nuclear que está passando por rápido crescimento, ficou em 31º.

A Coreia do Norte ficou em último lugar com nota 37. O relatório citou um total de 10 indicadores que ficaram abaixo da média global, incluindo a segurança nas instalações e no transporte, assim como estabilidade política.

O relatório disse que quase um quarto dos países com materiais que podem servir para bombas atômicas tiveram avaliação ruim em fatores sociais, devido a “níveis muito elevados de corrupção”. E alertou que vários deles “também tiveram avaliação ruim na perspectiva de instabilidade política nos próximos dois anos”.

Essa combinação ruim, concluiu o estudo, “aumenta significativamente o risco de materiais nucleares serem roubados, com a ajuda de funcionários corruptos em meio à distração do governo ou caos político”.

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