terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Popularidade de Putin cai, mas ainda é maior do que a de adversários políticos


Putin

Em seu desejo de recuperar a presidência da Rússia, Vladimir Putin faz equilíbrios entre posições irreconciliáveis: de um lado, tenta indicar que aceita - e inclusive propicia - a sociedade em mudança que se afasta dele; de outro, tenta continuar controlando o Estado sem fazer concessões fundamentais no modelo que começou a praticar a partir de 2000 graças aos altos preços do petróleo.

Esse modelo, caracterizado pela restrição das liberdades políticas, o aumento da corrupção e a falta de reformas estruturais, é questionado hoje pelos cidadãos que puniram nas urnas o Rússia Unida (RU) e protestaram na rua pelas irregularidades nas eleições legislativas de 4 de dezembro passado.

Pesquisas publicadas esta semana pelo Centro de Opinião Pública da Rússia (VtsiOM) indicam que a popularidade de Putin diminuiu para 51% na primeira semana de dezembro e que, se as eleições fossem hoje, o chefe do governo obteria 42%, enquanto seu rival mais próximo, o comunista Guennadi Ziuganov, ficaria com 11%. Segundo os sociólogos, a popularidade de Medvedev depois das eleições legislativas caiu 10%.

O porta-voz do chefe de governo, Dmitri Peskov, minimizou a importância desses números, que qualificou como o resultado de um estado emocional, e expressou a esperança de que a curva de popularidade de Putin volte a subir, graças às medidas econômicas e sociais que o gabinete põe em prática na Rússia, em contraste com o instável contexto internacional. Os aumentos de tarifas dos serviços públicos, que costumam entrar em vigor no início de janeiro, foram adiados até julho do próximo ano, o que foi interpretado como uma medida pré-eleitoral.

As pesquisas da VtsiOM indicam que Putin poderia precisar de um segundo turno eleitoral para ser confirmado como presidente. Essa possibilidade, que humilharia o amor-próprio do dirigente, é o máximo que a oposição pode esperar das eleições presidenciais de 4 de março, na opinião de alguns cientistas políticos.

As pesquisas da VtsiOM foram publicadas justamente quando começavam a proliferar informações sobre as tentativas do Kremlin de impedir a divulgação de pesquisas negativas sobre os dirigentes máximos. Por experiência na maneira de atuar do Kremlin, alguns se perguntam se a popularidade real de Putin e Medvedev não será ainda menor que a divulgada. Um analista de outro centro sociológico, que prefere permanecer no anonimato, põe em dúvida os números da VtsiOM e afirma que "o apoio real a Putin em Moscou não supera os 30%".

Os problemas de comunicação com a sociedade que Putin enfrenta ficaram claros na quinta-feira na maratoniana sessão de respostas aos concidadãos em um programa de televisão. "Seu estilo era antiquado e suas brincadeiras não tinham graça", indicou em seu editorial o jornal "Vedomosti".

A comparação das faixas brancas dos que protestaram contra a fraude eleitoral com preservativos foi "tola", e a alusão ao senador John McCain como alguém que "enlouqueceu" devido ao cativeiro no Vietnã foi "ofensiva", indicou o jornal. Seu comentário ("há de onde dar") sobre as queixas dos empresários que se sentem sufocados pelos subornos foi "cínico", afirmou o periódico.

"Vladimir Putin realmente não está disposto a concessões reais e não as realizará, mas não porque seja a estratégia de combate escolhida neste momento, e sim porque estariam em contradição com sua ideia de ordem", indicou o jornalista Mikhail Fishman, no "Vedomosti". Putin, afirmou ele, "não está consciente de que a onda (de protestos) que se levantou está em grande medida voltada contra ele pessoalmente. Portanto, a crise concentrada em torno de sua figura vai continuar aumentando e muito depressa".

Putin elogiou os que saem à rua, alegando estar satisfeito por ele mesmo ter propiciado tanta atividade social entre os jovens. Entretanto, a marca estilística da KGB e da guerra fria se impuseram quando insistiu em que os manifestantes haviam sido pagos e instigados pelos adversários da Rússia e quando disse estar "cansado" de lhe perguntarem sobre as eleições, já que certamente havia coisas "mais interessantes".

Nem sequer os "triunfos" que Putin levou preparados - as câmeras de vídeo nos colégios eleitorais e a possibilidade de liberalizar a nomeação dos governadores - eram tais.

A instalação de câmeras em mais de 90 mil colégios não resolve o problema da fraude eleitoral, porque as principais infrações ocorrem quando as atas assinadas por todos os membros do colégio eleitoral passam ao nível administrativo superior e ali reaparecem com outras cifras, sem que se possa contar com que os juízes, quando as demandas chegam até eles, reconheçam como válidas as atas originais.


Kremlin quer se atribuir direito de veto

Putin quer modificar a fórmula de nomeação dos governadores que ele mesmo introduziu para poder controlar os dirigentes provinciais. O chefe de governo não pretende restabelecer as eleições para governador que existiam antes, mas sim um mecanismo híbrido em que o decisivo seria o "filtro presidencial", isto é, o direito a vetar os candidatos não desejados pelo Kremlin.

Os governadores eleitos do passado se apoiavam em "elites semicriminosas" e "nacionalistas", disse Putin, que não pôde explicar por que não destitui ou investiga os responsáveis regionais suspeitos de corrupção e abusos, como o da Região Marítima, com sede em Vladivostok.

Quanto aos problemas das elites semicriminosas e nacionalistas, a julgar pela situação no Cáucaso não parece que tenham sido solucionados. Em Machajkala, capital do Daguestão, foi assassinado esta semana o jornalista Khadjimurad Kamalov, fundador do semanário "Chernobyk", que se caracterizou por seus corajosos artigos contra a corrupção e por sua crítica às autoridade locais. O assassinato de Kamalov, diante da redação do semanário, é um duro golpe para um dos poucos bastiões da liberdade de imprensa no Cáucaso.

Ao se referir aos cidadãos russos de origem caucasiana, Putin falou como se fossem forasteiros e se pronunciou a favor de tornar mais severa a instituição do registro ou censo, uma formalidade administrativa que não tem caráter obrigatório, mas que, como a interpreta Putin, se parece com a "propiska", ou mecanismo soviético pelo qual se regulavam os fluxos migratórios para as grandes cidades. "Putin está ameaçando o direito à liberdade de movimento dos cidadãos", afirmou Svetlana Gannushkina, do conselho assessor de direitos humanos do presidente Dmitri Medvedev.

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