quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Ocidente quer atingir Teerã com embargo ao petróleo iraniano
O convidado do Oriente Médio não se destaca muito na recepção do seu hotel para empresários em Berlim. Ele tem quase 50 anos de idade, os cabelos são grisalhos e usa um terno cinza, uma camisa azul e uma gravata azul acinzentada. Uma bolsa de laptop cinza está pendurada no seu ombro direito. Só umas poucas pessoas na capital alemã sabem que esse homem de aparência discreta é uma das principais armas diplomáticas na tentativa de interromper o programa nuclear do Irã.
O visitante está em uma missão secreta que fez com que ele adquirisse o apelido “Senhor Sanções”. Como especialista nas punições que a comunidade internacional está impondo ao Irã, há no momento uma demanda constante por esse viajante internacional, especialmente por parte dos líderes europeus. Ele alega ter visitado quase 24 capitais em menos de um mês. Somente na semana passada, ele fez apelos junto ao gabinete da chanceler Angela Merkel, à Chancelaria e ao Ministério das Relações Exteriores da Alemanha pela imposição de sanções mais duras ao Irã.
Quando ele partiu, os seus anfitriões não tinham dúvidas quanto à mensagem dele: a opção mais séria – uma intervenção militar – não deve ser cogitada antes que todas as sanções possíveis se tenham esgotado. Um ataque israelense contra as usinas nucleares iranianas, algo que o governo de Benjamin Netanyahu recentemente ameaçou novamente fazer, é tido como um cenário de pesadelo por líderes de Berlim a Washington. Mas, por ora, Jerusalém ainda está seguindo a rota diplomática, enquanto procura fazer com que os seus parceiros na Europa adotem a ideia de impor sanções mais pesadas.
Recepção calorosa
Em contraste com a sua visita anterior oito meses atrás, na viagem da semana passada o Senhor Sanções teve uma recepção calorosa. "Nós descobrimos um denominador comum", dizem fontes diplomáticas. A aceitação de que sanções mais duras são necessárias não ocorreu devido apenas a essa visita. Depois que manifestantes atacaram a Embaixada do Reino Unido em Teerã, o anteriormente reticente governo alemão simplesmente não teve mais opção.
Com os ânimos exaltados pela agitação pública, manifestantes furiosos – supostamente estudantes – marcharam em direção à Embaixada do Reino Unido. A multidão lançou coquetéis Molotov e sacolas de tinta contra o prédio da embaixada, gritando "Morte à Inglaterra", e acabou invadindo as instalações diplomáticas britânicas. Ao mesmo tempo, fanáticos no norte da capital iraniana ocupavam outra missão diplomática. Uma breve captura de reféns trouxe de volta memórias da ocupação da Embaixada dos Estados Unidos durante a Revolução Iraniana de 1979. Representantes do governo em Teerã desculparam-se pelo incidente, afirmando que ele foi provocado pela “fúria popular".
Mas teria sido o ataque simplesmente uma medida retaliatória em resposta à decisão de Londres de seguir o exemplo dos Estados Unidos com a imposição de mais sanções ao Irã? O objetivo deste "comportamento chocante e deplorável", conforme o fato foi definido pelo primeiro-ministro David Cameron, teria sido enviar aos governos ocidentais a mensagem de que as suas embaixadas arderão em chamas caso eles adotem uma postura mais truculenta?
Grande erro de cálculo
Observadores em Teerã estão convencidos de que os incidentes contaram no mínimo com a aprovação velada de certos setores da liderança iraniana. Sem que isso tivesse ocorrido, tal ação seria impensável em um Estado policial como o Irã. Mas se alguém dentro do profundamente dividido regime iraniano achou que isso intimidaria o Ocidente, essa pessoa cometeu um grande erro de cálculo.
Londres deu aos diplomatas iranianos no Reino Unido 48 horas para deixarem o país. A Noruega fechou a sua embaixada em Teerã em solidariedade aos britânicos e o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, convocou o embaixador iraniano para explicações e trouxe o representante da Alemanha no Irã de volta para Berlim para consultas. A França e a Holanda também ordenaram que os seus embaixadores voltassem para casa.
Os europeus também demonstraram uma unidade notável em uma reunião dos seus ministros das Relações Exteriores em Bruxelas na quinta-feira da semana passada. Sanções mais duras estão sendo cogitadas desde que a Agência Internacional de Energia Atômica apresentou o seu último relatório em Viena, no qual aponta evidências de "uma possível dimensão militar" do programa nuclear iraniano.
Manifestando "choque" devido ao ataque à Embaixada do Reino Unido, os ministros europeus agiram com uma firmeza notável, proibindo mais 180 companhias e indivíduos iranianos de viajarem para a Europa ou de fazerem negócios com os países da união continental.
No entanto, ainda mais prejudicial à liderança do presidente Mahmoud Ahmadinejad e do aiatolá Ali Khamenei foi o anúncio de novas sanções com o objetivo de "atingir duramente o sistema financeiro e o setor de energia" do Irã. Isso faria com que a União Europeia inteira seguisse a rota tomada pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos.
Um ataque duplo
Em termos concretos, isso representaria um ataque contra dois pilares do regime: o banco central iraniano, por meio do qual o país processa a maior parte do seu comércio internacional, que tem um valor total estimado em 150 bilhões de euros (US$ 200 bilhões) por ano; e as exportações de petróleo, que no ano passado garantiram ao país o equivalente a quase 50 bilhões de euros em moeda estrangeira e que, portanto, respondem por quase a metade das receitas do governo.
Entretanto, tal decisão também seria dolorosa para certos países europeus. A Itália e a Espanha, que já se encontram abaladas pela crise econômica, cobriram pouco mais de 13% das suas necessidades de petróleo com as exportações do Irã no primeiro semestre de 2011. Somente naquele período, os dois países europeus compraram de Teerã uma quantidade de petróleo no valor de 5 bilhões de euros.
A Grécia seria atingida de forma especialmente intensa pelas sanções. Há muito tempo Atenas vem comprando do Irã as suas reservas de petróleo a crédito. Segundo um especialista nesse tipo de embargo, a disposição de Teerã de negociar com nações quase falidas como a Grécia é um sinal da sua crescente frustração. "Eles estão dispostos a aceitar muita coisa para se manterem no negócio", diz o especialista.
Das 41 companhias petrolíferas internacionais que antigamente faziam negócios com o Irã, apenas 16 ainda continuam atuando no país. E como o embargo está impedindo que as fábricas iranianas se modernizem - ou pelo menos está reduzindo consideravelmente a velocidade dessa modernização -, a produção está caindo 5% ao ano. Enquanto isso, uma quantidade de gasolina cada vez menor está sendo produzida no Irã, já que as refinarias de petróleo do país são ultrapassadas. Por esse motivo, o Irã é incapaz de suprir mais de 40% das suas necessidades de gasolina. E, devido às sanções, atualmente as importações cobrem apenas um quarto desse percentual.
O resultado disso tudo é claro: "Os mulás foram atingidos, mas ainda não de forma suficiente para que façam concessões em relação ao programa nuclear", diz um diplomata graduado em Jerusalém. "Nós agora temos que disparar todas as balas que tivermos no tambor do nosso revólver".
A redução de vínculos empresariais com o banco central do Irã representará sem dúvida um grande golpe para a economia iraniana. Embora isso não vá "acabar com todas as fontes de financiamento para o programa nuclear iraniano", conforme exigiu em Bruxelas o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, as sanções atingirão as transações comerciais de Teerã em um ponto vulnerável - mesmo que isso venha também a prejudicar os parceiros comerciais do Irã na União Europeia. Afinal, o comércio do Irã com a União Europeia teve o valor total bastante significativo de 25 bilhões de euros no ano passado.
Os europeus só decidirão no início do ano que vem se cumprirão as ameaças que atualmente estão fazendo. Só então os ministros das Relações Exteriores da União Europeia avaliarão as suas opções relativas às sanções contra o Irã. Enquanto isso, eles estão buscando conselhos junto a especialistas. Portanto, o Senhor Sanções está ansioso por receber muitos visitantes da Europa.
sera que essas sançoes sera suficiente para parar o Irã?
ResponderExcluirna minha opniao sim, o Irã nao tem para onde correr.
Só tem um probleminha. Tem que combinar antes com a China.
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