terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Hillary Clinton, futura candidata à Casa Branca?


Hillary Clinton

A porta se abre e, inesperadamente, surge Hillary Clinton. De tailleur preto em risca de giz, e cabelos mais loiros que antes, segundo alguns, mas de qualquer forma mais longos. A secretária de Estado escapou da cúpula entre Europa e Estados Unidos que estava sendo realizada na Casa Branca, no dia 28 de novembro. “A caminho de novas aventuras”, diz ela aos jornalistas, antes de sumir pela escadaria que leva ao térreo da Ala Oeste. Armada com sua bolsa de viagem, ela vai para Mianmar, para aquilo que talvez continue a ser o primeiro verdadeiro sucesso da política de diálogo de Barack Obama.

Uma semana e 30 mil quilômetros depois, ei-la na conferência de Bonn sobre o Afeganistão, na segunda-feira (5). Quatro dias depois, ela deve participar da reunião interministerial de Haia sobre a liberdade na internet, um tema que ela lançou em janeiro de 2010. Não contente em dirigir o departamento de Estado, um mamute de 60 mil pessoas distribuídas por todo o mundo, Hillary Clinton, 64, estendeu o domínio de ação da diplomacia. Ela foi a primeira a fazer do direito de se conectar um direito humano por si só.

Personalidade mais popular da administração Obama

Hillary, a insubmergível. Três anos depois de fracassar no caminho para a Casa Branca, a ex-primeira dama se tornou a personalidade mais popular da administração Obama – 69% de opiniões favoráveis, segundo pesquisa Bloomberg de setembro. Um terço dos americanos acredita que seu país estaria em melhor situação se ela tivesse sido eleita presidente. Em outubro, a “Time Magazine” encomendou uma pesquisa sobre como seria seu desempenho diante dos principais pré-candidatos republicanos para 2012. Ao contrário de Barack Obama, que se encontra ombro a ombro com seus adversários, ela venceria disparado, com mais de 17% à frente do favorito, Mitt Romney. “Obama não mostrou muita liderança nestes últimos meses. Hillary, por sua vez, conseguiu consolidar sua imagem de força e de firmeza”, analisa o cronista diplomático do “Washington Post”, Jim Hoagland.

No departamento de Estado, a lendária capacidade de trabalho de Hillary Clinton se confirmou. Desde sua primeira viagem, para a Ásia, em fevereiro de 2009, ela já bateu recordes: um milhão de quilômetros percorridos e 91 países visitados. Sua fratura no cotovelo, em junho de 2009, no estacionamento do departamento de Estado, não a deteve. “Ela é extremamente competente, incansável, está sempre lendo”, relata Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations. “É um aspirador de informações”. Durante a negociação do tratado START de desarmamento, ela passou horas com seu colega russo, Sergei Lavrov, conhecido por ser um osso duro de roer. “Ela é obstinada, está voltando ao ataque. Assim como os americanos, quando eles querem te vender alguma coisa”, descreve um alto diplomata europeu.

"Ela conseguiu o impossível"

Hillary Clinton converteu até os veteranos da campanha de Obama. “Ela era vista como calculista, política. Na verdade, não há segundas intenções no que ela faz. Sua prioridade são os resultados”, garante um membro da ex-equipe presidencial. Alguns se surpreenderam ao descobrir que ela era “humana”. Ela é a primeira a telefonar quando seus colaboradores sofrem uma dificuldade. “Isso inspira muita lealdade, quando o chefe é assim”, diz um oficial.

Com o presidente, a desconfiança não se dissipou imediatamente. No início, os dois antigos rivais trocavam mensagens através de um amigo comum, o vice-presidente Joe Biden. Hillary deu sinais enfáticos de lealdade e sua equipe recebeu ordens de não procurar briga. Quanto ao resto, ela construiu seu escudo graças a uma equipe de fieis colaboradores – principalmente mulheres – que a acompanham há anos. Algumas nomeações levaram a atritos, mas de forma geral “ela conseguiu o impossível: trabalhar de maneira eficaz com, e para, um presidente que a considera uma perigosa rival política”, diz Jim Hoagland.

Uma influência difícil de avaliar

Hillary Clinton encontra Barack Obama todas as quintas-feiras por 45 minutos. É pouco, comparado com o acesso que Condoleezza Rice tinha junto a George W. Bush. Mas, como diz Charles Kupchan, “ela se reconciliou com a ideia de ser membro de uma administração onde a política externa é controlada de perto pela Casa Branca”. Ela chegou a fazer de sua relação com ele um argumento de promoção do modelo americano. Philipe J. Crowley, que era então seu porta-voz, se lembra de que Hillary teve de repreender dirigentes quenianos reticentes em entrar em um acordo: “Se eu consegui ir trabalhar com o homem que me derrotou nas eleições, então vocês deveriam conseguir resolver suas divergências”, ela lhes informou.

Os especialistas se dividem quanto à sua influência. Para o especialista em Oriente Médio Aaron David Miller, que trabalhou com seis secretários de Estado, Hillary Clinton dificilmente pode ser colocada na mesma categoria de um Henry Kissinger ou de um James Baker, o conselheiro de Bush pai. É verdade que os Estados Unidos “não são mais tão temidos ou admirados. O trabalho do secretário de Estado é mais árduo”, ele observa. Segundo ele, Hillary possui uma “star power”, necessária para a credibilidade do chefe da diplomacia americana, mas não a proximidade que lhe permitiria ser vista como a “extensão do presidente”.

Já Jim Hoagland ficou impressionado com o discurso de Hanói, em 2010, em que a secretária de Estado integrou a liberdade de circulação no mar da China ao interesse nacional dos Estados Unidos, correndo o risco de desagradar os chineses na questão da soberania. “Ela viu muito rápido que Obama confiava demais na relação com Pequim”, ele ressalta. Para o professor Kupchan, ela corrigiu a linha realista, pragmática e “basicamente anti-Bush” dos primórdios da presidência Obama. “Ela é um pouco mais ‘falcão’ do que ele, e ela conseguiu convencê-lo a pender mais para o lado dos direitos humanos e da democratização”, ele analisa.

Papel "determinante" na queda de Gaddafi

Seu ex-porta-voz P. J. Crowley ressalta que as “primaveras árabes” são dirigidas pelo departamento de Estado. A própria Hillary se gaba de ter feito um discurso quase premonitório em Doha, no dia 13 de janeiro. “As fundações da região estão afundando na areia”, ela previu. O povo está “farto das instituições corruptas”. Em perfeita lealdade, seus seguidores não hesitaram, após a queda de Trípoli, em informar o papel “determinante” que ela teria tido na deposição do regime líbio. A imprensa contou com detalhes seus esforços para construir uma coalizão anti-Gaddafi e convencer Barack Obama a deixar de lado suas reticências em relação ao que a “Time Magazine” chamou de “a guerra de Clinton”. Nem por isso Hillary se iludiu quanto à sequência dos acontecimentos. Os Estados Unidos podem no máximo tentar “influenciar a direção”, ela contou à publicação semanal.

Se ela inovou, foi ampliando a noção de diplomacia, explica Anne-Marie Slaughter, que durante dois anos foi uma de suas colaboradoras próximas, como diretora de planejamento estratégico. “Seu principal sucesso”, ela diz, foi incluir o desenvolvimento, a segurança alimentar, o papel das mulheres e o acesso à tecnologia na política externa e se preocupar “não somente com os interesses dos outros governos, mas com as condições que afetam a vida dos indivíduos”. O departamento de Estado cedeu fundos a 67 programas de assistência à mulher. Hillary se tornou uma adversária ferrenha dos fornos de cozinha movidos a carvão, os famosos “cookstoves” que a cada ano matam cerca de 2 milhões de pessoas.

Hillary para 2016?

Em todas suas viagens, a ex-primeira-dama esnoba a imprensa diplomática e vai para os estúdios de televisão. Seus assessores de comunicação inventaram um formato: a “townterview”, contração de “town meeting” (reunião com a sociedade civil) e entrevista de TV conduzida por uma estrela da mídia local. Das Filipinas até o Quirguistão, ela se presta tanto às perguntas mais fúteis (o que tem dentro daquele sacola que ela não larga?) quanto às mais densas: “Qual é a razão da ascensão econômica da China diante do declínio dos Estados Unidos?” Os curiosos querem saber que músicas há em seu iPod. Resposta: Beatles, Rolling Stones, The Who e Doors – “tudo aquilo que cresci ouvindo”. E a pergunta da qual ninguém nunca se cansa acaba chegando: ela será novamente candidata à Casa Branca? “Não”, é invariavelmente sua resposta.

Na primavera, Hillary já havia informado que deixaria o departamento de Estado em janeiro de 2013, mesmo se Barack Obama fosse reeleito. Seu sucessor seria John Kerry, o candidato derrotado por George W. Bush em 2004. E, com a aproximação da campanha eleitoral, os ânimos já se acirram. Dois estrategistas democratas publicaram, no dia 21 de novembro, uma coluna no “Wall Street Journal” pedindo para que Barack Obama ceda o lugar à sua antiga rival para representar os democratas nas eleições presidenciais, daqui a um ano.

Paralelamente, Bill Clinton publicou um livro, “Back to Work”, onde fez algumas críticas à política econômica de Barack Obama. Foi o suficiente para relançar as especulações sobre as ambições do “power couple” que continua a “dominar o cenário nacional”, segundo a revista “Foreign Policy”. “Está muito claro que ela acredita que seria uma presidente melhor do que Obama”, diz Jim Hoagland.

Hillary para 2016? Ela teria 69 anos quando assumisse o cargo. Houve boatos de que ela teria se interessado pelo Banco Mundial, cujo presidente Robert Zoellick termina seu mandato em meados de 2012, mas ela negou. Outros acreditam que Barack Obama poderia apoiá-la como candidata democrata caso esteja mal nas pesquisas no final do verão. O porta-voz da Casa Branca mais uma vez descartou essa possibilidade no dia 2 de dezembro, e garantiu que “Barack Obama e Joe Biden serão reeleitos em novembro de 2012”. Mas ninguém pode – ou quer – acreditar na aposentadoria de Hillary.

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