sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Conheça a técnica iraniana empregada na captura do UAV RQ-170 Sentinel

Um engenheiro que trabalha para desvendar os segredos do RQ-170 Sentinel capturado pelos iranianos, diz que explorava uma vulnerabilidade conhecida dos UAVs americanos e que enganou o UAV americano forçando-o a pousar em solo iraniano 

Um engenheiro iraniano recentemente revelou como os militares de seu país conseguiram “jammear” o UAV da CIA, o que resultou na captura de um dos mais avançados UAV de espionagem do mundo, se não o mais avançado.

Essa não foi a primeira vez que iranianos e americanos se digladiaram no âmbito da guerra cibernética. Em várias ocasiões os EUA invadiram o espaço aéreo iraniano e isso em algumas oportunidades custou a ‘vida’ de alguns aparatos americanos, uma que vez os iranianos já abateram vários veículos aéreos não-tripulados ocidentais, a maioria dos EUA. Segundo o engenheiro iraniano, com a experiência obtida no passado, os especialistas de guerra eletrônica iranianos foram capazes de explorar uma vulnerabilidade dos UAVs americanos.

O engenheiro que trabalha para empresas privadas e que também presta serviço para os militares iranianos, revelou que os iranianos estão orgulhosos por desenvolver uma técnica, a qual proporciona aos iranianos reconfigurar o GPS dos UAVs inimigos, inserindo as coordenadas que quiser. No caso do RQ-170 Sentinel, os iranianos reconfiguraram o seu sistema de navegação por satélite, inserindo coordenadas de uma região do Irã, ‘enganando’ assim o UAV que tinha como destino sua base no Afeganistão.

A navegação por GPS é o ponto mais fraco desses aparatos, diz o especialista, acrescentando que ao gerar ruídos (interferências) na comunicação, o UAV é forçado a ser guiado por piloto automático, o que faz o UAV perder seu cérebro.

A técnica de “enganar” usada pelos iranianos, que levou em conta dados precisos de latitude e longitude, fez o UAV pousar por conta própria, onde os iranianos queriam sem que fosse preciso quebrar sinais de controle remoto e de comunicação a partir do centro de controle nos EUA, disse o engenheiro. Talvez isso explica a alegada afirmação das autoridades americanas que o RQ-170 Sentinel “apresentou problemas técnicos”.

Essa e outras técnicas foram desenvolvidas a partir de engenharia reversa feita em outros aparatos menos sofisticados derrubados e capturados posteriormente pelos iranianos nos últimos anos, diz o engenheiro.

Antes de dar seguimento aos relatos do engenheiro iraniano, uma série de artigos publicados na internet sobre “enganar GPS” indicam que o cenário descrito pelo engenheiro iraniano é plausível.

Segundo Robert Densmore, ex-oficial da Marinha Americana e especialista em guerra eletrônica, mesmo o mais moderno sistema de GPS militar é suscetível à manipulações. É certamente é possível recalibrar o GPS de um UAV para que ele voe para um destino diferente. Não é fácil, mas é possível, acrescenta Densmore.

Em 2009, militantes xiitas ligados as Forças Armadas Iranianas conseguiram ter acesso a imagens criptografados dos UAV Predator. Isso era possível graças a um software de baixo custo. Mas a aparente capacidade do Irã de agora, de assumir o controle dos UAV americanos, é muito mais significativa.

O curioso é que o Irã afirmou em setembro, mais de 2 meses antes de capturar o RQ-170 Sentinel, que poderia fazer o que fez. Os americanos, do alto de sua soberba não acreditaram nas palavras dos iranianos, não se precaveram e perderam o UAV mais secreto dos dias atuais.

O general Moharam Gholizadeh, vice-comadante da fração de guerra eletrônica do Pasdaran, disse à agência de notícias FARS que o Irã poderia alterar o destino de um míssil guiado por GPS, uma tática muito fácil de ser aplicada em aparato que se movimenta mais lentamente, caso de um UAV.

“Temos um projeto nas mãos que está um passo à frente do “jamming”, que significa “engano” para os sistemas agressivos, disse Gholizadeh à época, acrescentando que os iranianos podem definir a sua própria vontade de informação para que assim o destino do míssil mude conforme o desejado. Gholizadeh também disse que todos os movimentos desses UAV estavam sendo assistidos e obstruir o seu trabalho fazia sempre parte da agenda dos militares.

Segundo uma notícia da agência de notícias iraniana FARS, notícia essa em persa, descreve que Gholizadeh morreu de ataque cardíaco. O fato dele ser jovem e ter morrido dessa causa, fez alguns sites de notícias iranianos suscitarem que talvez Gholizadeh tenha sido assassinado pelos serviços secretos ocidentais.

Crescem as capacidades eletrônicas do Irã
Parlamentares iranianos dizem que a captura do RQ-170 Sentinel é uma grande epopeia e afirma ser “os passos finais para quebrarem de vez os códigos secretos das aeronaves.

O Secretário de Defesa dos EUA, Leon Penetta, disse no último dia 13 de dezembro que seu país continuará com a campanha dos UAVs no Irã para procurar evidências de um programa nuclear militar. Mas os risco são maiores para as missões de vigilância, uma vez que o Irã aparentemente pode atrapalhar o trabalho dos UAVs.

Muitos ocidentais tentam ridicularizar o Irã perante ao mundo, alguns dizem que o Irã não tem tecnologia para tais feitos. No entanto, um alto funcionário iraniano, falando em condição de anonimato diz que o Irã possui grandes recursos humanos e outros marcadores que sinalizam a expertise iraniana na esfera eletrônica e diz que o Irã não é como o Paquistão.

“Tecnicamente, a distância entre nós, os americanos, os sionistas e outros países avançados não é tão grande para que o fato de derrubar esses aviões seja um sonho para nós, mas isso poderia ser surpreendente para os outros”, disse nessa semana, o vice-comandante do IRGC, o general Hossein Salami.

De acordo com uma fonte da inteligência europeia, o Irã chocou as agências de inteligências ocidentais em um incidente não declarado há cerca de dois anos atrás. Na ocasião o Irã conseguiu “cegar” um satélite espião da CIA ao disparar um feixe de laser com bastante precisão.

Mais recentemente, o Irã foi capaz de hackear os certificados de segurança do Google, diz o engenheiro. Em setembro passado, as contas de 300 mil iranianos foram acessadas por hackers. A empresa americana disse ter evidências circunstanciais de o ataque proveu de um ataque motivado por um estado e mencionou o nome do Irã. A finalidade do ataque era espionar os usuários.

Decifrar as coordenadas do GPS protegidas do RQ-170 Sentinel não foi muito difícil, afirma o engenheiro.

EUA sabia da vulnerabilidade dos sistemas de GPS

O uso de UAV se tornou mais arriscado em países adversários como o Irã por causa das contramedidas. Os militares americanos já tinham conhecimento da vulnerabilidade de dados criptografados de UAV desde a campanha da Bósnia na década de 90.

Altos funcionários dos EUA afirmaram em 2009 que os iranianos estavam trabalhando para decifrar todo o fluxo de dados dos UAV americanos no Iraque, Afeganistão e Paquistão. A afirmação veio depois que militar americanos capturaram laptops contentado dados dos UAV americanos e logo eles concluíram que esses UAV eram sujeitos a escutas e exploração.

Talvez tão facilmente explorados sejam os sistemas de navegação por satélite, sistema essencial para os UAVs modernos.

Os sinais de GPS são fracos e podem ser facilmente substituídos devido a interferências de torres de televisão, periféricos de laptops e tocadores de MP3, ou até mesmo GPS moveis (aparelhos civis), afirma o professor Andrew Dempster da Universidade de Nova Gales do Sul, que leciona Topografia e Sistemas de Informação Especiais da citada universidade.

Os militares americanos têm procurado há anos fortalecer ou encontrar alternativas ao GPS, que é usado tanto para fins militares como civis. Em 2003, uma equipe de Avaliação de Vulnerabilidade da Laboratório Nacional de Los Alamos publicou uma pesquisa explicando como sinais de GPS foram facilmente sobrecarregados com um sinal local mais forte.

Um ataque mais pernicioso consiste em alimentar o receptor do GPS com sinais de GPS falsos de maneira que o fará crer que ele se encontrar em algum lugar do espaço e tempo que não é. Em um sofisticado ataque de suplantação, o inimigo enviaria um sinal falso reportando o movimento do alvo designado de forma errônea.

Para lidar melhor com ataques eletrônicos hostis, a Força Aérea Americana recebeu US$ 47 para desenvolver um sistema de “navegação de guerra” para substituir o sistema GPS de aviões e mísseis.

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