quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Brasil poderá terminar o ano como a sexta maior economia do mundo

As riquezas naturais do Brasil são tão imensas que às vezes tem-se a impressão de que a prosperidade do país está assegurada.

As exportações de minério de ferro e de soja dispararam; grandes reservas de petróleo e de fertilizantes estão começando a ser exploradas. Neste ano, ao registrar a melhor balança comercial dos últimos 30 anos, o Brasil poderá ultrapassar o Reino Unido para tornar-se a sexta maior economia do mundo.

"Nós contamos com reservas que vocês, norte-americanos, tinham na virada do século", disse Eike Batista, o homem mais rico do Brasil e um dos indivíduos que manifestam maior entusiasmo pelo país, durante uma palestra a uma plateia norte-americana neste ano. "O Brasil me permitiu, de fato, 'jogar Monopoly'" (jogo conhecido no Brasil por "Banco Imobiliário").

Mas Batista sabe que o jogo nem sempre é fácil. Em abril, as ações da sua companhia petrolífera, a OGX, despencaram após a descoberta de que as suas reservas eram menores do que se pensava. As maiores companhias de commodities do Brasil também tiveram as suas frustrações.

A Petrobras, a companhia estatal de petróleo que está explorando enormes reservas de águas profundas, mais uma vez deixará de atingir as metas de produção estabelecidas para este ano. E a Vale, a maior companhia exploradora de minério de ferro do mundo, tem enfrentado dificuldades devido à percepção de que ela é dependente da China, o seu maior mercado.

Como essas ações do mercado de commodities representam mais de um terço da principal bolsa de valores do Brasil, tais notícias significam prejuízos substanciais para os investidores em ações no país – para se ter uma ideia, um único ETF (exchange trade fund), o iShares MSCI Brazil, detém cerca de US$ 10 bilhões em ativos estrangeiros.

E é possível também que o setor agrícola brasileiro venha a tropeçar.

O Brasil é o maior exportador mundial de açúcar, um dos países pioneiros na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, e uma fonte elogiada de energias alternativas.

Nenhum outro país conta com a terra, a água e o conhecimento necessários para o aumento da produção quanto o Brasil.

"Para atender à demanda global, o resto do mundo teria que triplicar a sua produção de açúcar com a mesma rapidez que o Brasil está fazendo atualmente para permitir que a produção brasileira permanecesse estável", explica Andy Duff, um analista do banco de financiamento holandês Rabobank.

No entanto, os investimentos em novas lavouras de cana-de-açúcar foram interrompidos, e o país tornou-se um importador líquido de etanol. O setor ainda não se livrou da ressaca provocada pela crise econômica, e muitas usinas ainda estão mergulhadas em dívidas enormes.

Além do mais, embora os preços globais do açúcar estejam relativamente altos em dólares, eles não se constituem em um incentivo suficiente para as companhias locais – cujos custos são em moeda nacional, o real, que recentemente tem se valorizado em relação ao dólar. E o governo também contribuiu para a incerteza: ele comprometeu-se a intervir mais no setor para manter em um patamar baixo o preço do álcool, que é o combustível utilizado por uma grande parcela dos automóveis do país.

Já os produtores de soja brasileiros estão se saindo bem. Neste ano eles deverão colher uma safra recorde e, como a demanda chinesa está pressionando os preços para cima, eles contarão com capital para investir em maquinário e silos.

Existe certa perplexidade em relação à boa sorte atual desses produtores: conforme diz uma piada brasileira, os corretores de Chicago – onde os preços de produtos agrícolas são estabelecidos – são sabem se os grãos de soja são produzidos abaixo ou acima do nível do solo.

Mas existe também a crença em que esse crescimento é sustentável, e que ele poderia ser reproduzido no setor de cana-de-açúcar e de outras culturas. É por isso que os preços das terras agrícolas brasileiras triplicaram a partir de 2002, segundo a empresa de consultoria Informa Economics FNP.

Isso inclui um aumento de 18% neste ano – apesar de o governo ter determinado que investidores estrangeiros não poderão mais comprar grandes áreas de terras agrícolas. No sul do país, perto dos portos, uma propriedade com terras férteis custa US$ 14 mil por hectare, um preço comparável aos das terras da região do centro-oeste dos Estados Unidos.

Mas, e se os preços das commodities caírem? Os soluços que afligem certas companhias específicas irão se transformar em um acesso de tosse de âmbito nacional?

De forma geral, as exportações de commodities representam cerca de 5% dos produto interno bruto brasileiro, um índice que é menor do que o de qualquer outro país sul-americano. Isso se deve ao fato de o Brasil contar com um enorme mercado interno. São mais ou menos 200 milhões de pessoas, muitas das quais estão contando com um emprego formal e um empréstimo bancário pela primeira vez na vida.

“Entretanto, se os preços das commodities caírem 25% e ficarem estacionados nesse patamar, o crescimento brasileiro poderá sofrer uma queda de cerca de 1% no ano que vem”, adverte Neil Shearing, economista da empresa de consultoria Capital Economics. Tendo tal cenário em mente, o governo brasileiro está tentando reequilibrar a economia por meio de auxílios ao setor industrial.

Em outros países, os recursos naturais tendem a ser ou uma dádiva fantástica ou uma maldição enorme. Mas, no que se refere ao Brasil, nenhuma dessas duas interpretações parece ser muito correta. As commodities geraram benefícios substanciais para o país, mas provocaram também muitos problemas.

Um comentário:

  1. É isso aí, O Informante!
    Como foi dito no artigo: "Nenhum outro país conta com a terra, a água e o conhecimento necessários para o aumento da produção quanto o Brasil." Só que para proteger isso tudo é necessário investimentos em DEFESA, algo que nosso governo não faz. O que adianta ser um país rico e próspero sem ao menos ter bons caças?

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    Sérgio B.

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