Em visita ao RS, presidente José Mujica defende alianças que fortaleçam a América Latina diante da China e da Índia
Mandatário prevê que 'onda de ajuste' da União Europeia chegue ao continente, mas vê capacidade de resistir
Em seu segundo dia de visita ao Brasil, o presidente uruguaio, José Mujica, disse que o empresariado brasileiro tem o dever não de "colonizar" os países vizinhos, mas de criar um sistema de alianças que fortaleça a América Latina. Se isso não for feito, acrescentou, "vêm os chineses, entra a Índia e fazem o que não fizemos".
A afirmação acontece no momento em que a influência do país na América do Sul começa a criar um sentimento antibrasileiro. No mês passado, a construção de uma estrada financiada pelo BNDES em território indígena na Bolívia gerou protestos e criou uma crise política que obrigou o presidente do país, Evo Morales, a suspender a obra.
O governo do Peru, por sua vez, cancelou recentemente a licença para a construção de uma hidrelétrica que era parte de um acordo firmado no ano passado.
Em 2008, o Brasil retirou seu embaixador do Equador quando o presidente Rafael Correa ameaçou não pagar dívida da obra de uma usina. Mujica chefiou uma comitiva de seu país que se reuniu ontem de manhã com empresários na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.
Ele defendeu a integração de seu país com o Brasil no setor de energia elétrica e disse que o Uruguai oferece benefícios a quem quiser investir em regiões "deprimidas" da fronteira.
"Para ser forte, há que se juntar. Isso custa -é difícil porque nossa mentalidade não é feita para isso. Mas a necessidade do futuro se impõe", disse, em discurso.
Questionado sobre reclamações de produtores brasileiros relacionadas à entrada de arroz e leite importados do Uruguai, o presidente respondeu que seu país é "muito pequeno". "Pode ser que o Uruguai cause algum resfriado, alguma coisa. Mas nunca vai causar uma gripe."
ONDA DE AJUSTE
Mujica, que se encontrou anteontem com o governador do Estado, Tarso Genro (PT), disse que a "onda de ajuste" verificada na União Europeia vai chegar à América do Sul, mas hoje o Uruguai e seus vizinhos têm maior capacidade de resistência à crise.
Para ele, o Mercosul, bloco econômico da região, tem tantos problemas de integração quanto a Europa, mas vai contorná-los aos poucos. Amanhã, Mujica viajará à Argentina para se encontrar com a presidente do país, Cristina Kirchner.
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