quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sanções não provocaram efeitos visíveis em programa nuclear iraniano, diz deputado


Depois dos Estados Unidos, do Reino Unido e do Canadá, que adotaram sanções visando o setor bancário e o energético no Irã, a União Europeia está considerando congelar os bens de mais 200 pessoas e empresas como parte dos esforços para entrevar o programa nuclear iraniano, que a Agência Internacional para a Energia Atômica (AIEA) suspeita ter objetivos militares.


Teerã considerou essas medidas "sem efeito", enquanto Moscou as chamou de "inaceitáveis". Jean-Louis Bianco, deputado socialista (Alpes-de-Haute-Provence) e presidente da missão de informação parlamentar sobre o "Irã depois de 2008", questiona o efeito dissuasivo das sanções adotadas até hoje contra o Teerã.

Ali Khamenei passa em revista de tropas. O Imã iraniano disse em reiteradas vezes que seu país não abandonará o programa nuclear e também ridicularizou várias vezes as sanções contra o seu regime


Le Monde: As sanções desaceleraram o programa nuclear iraniano ou provocaram a determinação de seus dirigentes em levá-lo adiante?
Jean-Louis Bianco: As sanções adotadas, seja unilateralmente pelos americanos e pelos europeus, seja em nível de Nações Unidas, não tiveram nenhum efeito visível sobre a determinação do regime. Em compensação, elas desaceleraram o programa ao mesmo tempo afetando a economia. Elas também agravaram o subinvestimento no setor petroleiro, que precisaria de US$ 100 bilhões (R$ 186 bilhões) para voltar ao estado normal. Mas elas não tiveram consequências sobre as receitas do petróleo, que constituem 70% das receitas do Estado iraniano.

Quanto à população, é difícil medir o efeito das sanções. Não sinto que os iranianos atribuam suas dificuldades cotidianas -a inflação e o fim dos subsídios aos produtos básicos- às sanções.

Le Monde: Esse programa é consenso entre os círculos de poder iranianos?
Bianco: De fato, é possível que haja um debate dentro do governo, mas ele acontece sobre a prioridade a ser dada a esse programa, e não sobre sua legitimidade. Os diferentes grupos conservadores não dão a mesma urgência à questão nuclear. Os pasdarans (Guarda Revolucionária Iraniana), que têm grande interesse na economia, são mais sensíveis à degradação da situação.

Le Monde: Então o que é preciso fazer?
Bianco: É uma situação um pouco desanimadora. Se dizem que as sanções não têm efeito, abre-se a porta para a opção militar, que teria efeitos catastróficos. Tenho a impressão de que Israel, onde há um debate em andamento, ainda não chegou a essa conclusão. Resta esperar que o regime caia sob o efeito das tensões criadas, entre outras, pelas sanções. Nunca as dissensões foram tão fortes e violentas na cúpula do governo iraniano, entre os partidários do presidente Ahmadinejad e os do Líder da Revolução, Ali Khamenei.

Há datas importantes se aproximando: as legislativas em 2012, as presidenciais em 2013. O debate sobre o lugar da religião, da economia no Estado e da sociedade vai voltar. Enquanto isso, há coisas a fazer: ajudar as ONGs e os dissidentes, fazer pressão sobre a Eutelsat para que ela pare de interferir na transmissão dos canais internacionais, como pede o regime de Teerã. A única coisa que poderia ter um efeito forte, inclusive sobre a população, seria um boicote do petróleo. Mas isso provocaria uma alta automática dos preços do petróleo e fragilizaria as economias ocidentais. Por fim, há as ações clandestinas conduzidas pelos serviços israelenses, muito certamente, e americanos, provavelmente, e talvez franceses e britânicos.

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