A decisão da Grécia de realizar um referendo a respeito do acordo de resgate da zona do euro foi uma bomba para o presidente da França, Nicolas Sarkozy, algo que não apenas atrapalhou os preparativos finais para a reunião do Grupo dos 20 em Cannes, mas também ameaça prejudicar sua estratégia para reeleição.
Sarkozy trabalhou longa e arduamente para conseguir o acordo de resgate, finalmente aceito em Bruxelas na calada da noite a menos de uma semana, para facilitar o caminho para a cúpula das principais potências econômicas em Cannes, a partir de quinta-feira (3).
A medida era para que o G20 reforçasse o plano da zona do euro e permitisse que Sarkozy, o anfitrião do encontro, apresentasse uma resposta unida à crise da dívida e uma mensagem positiva de apoio à economia global em dificuldade.
Isso, por sua vez, seria uma plataforma a partir da qual o presidente francês poderia lançar sua campanha para a eleição presidencial de abril.
Em vez disso, ele foi forçado a voltar ao modo de gestão de crise enquanto os mercados de ações despencavam, incluindo o de Paris, onde as ações dos bancos franceses, altamente expostos à Grécia e à Itália, novamente viram quedas de dois dígitos durante um dia tórrido, que lembrou a pior fase da crise, em agosto. A bolsa de Paris fechou com queda de 5,38%.
O Elysée foi cuidadoso em não cair em recriminação pública. Mas um senso da fúria do governo foi transmitido pelos membros do partido UMP de centro-direita de Sarkozy. "Eu deploro essa decisão, que parece completamente irresponsável por parte do primeiro-ministro grego", disse Christian Estrosi, o prefeito de Nice e um parlamentar.
Philippe Juvin, o secretário nacional do partido, disse que George Papandreou está buscando "salvar sua pele a qualquer preço" e corre o risco de "arruinar os esforços feitos pela França e pela Alemanha" para chegar a um acordo na zona do euro.
Sarkozy arranjou às pressas uma teleconferência com Angela Merkel, a chanceler alemã, e organizou uma minicúpula do euro em Cannes na quarta-feira (2), em um esforço para retomar o controle dos eventos antes do início do G20.
De forma reveladora, ele também convocou uma reunião de emergência de ministros-chave e do presidente do Banco da França para formular a reação doméstica do governo.
Além das implicações maiores para a Europa, uma maior instabilidade provocada pela crise da dívida é uma verdadeira ameaça em casa para Sarkozy.
Ele já rebaixou a previsão de crescimento para 2012 para apenas 1% do produto interno bruto, o que exigirá um segundo pacote de austeridade dentro de três meses, para assegurar que o país permaneça na meta de reduzir seu déficit orçamentário para 3% até 2013.
Isso é central para controlar a dívida pública da França, que deverá chegar a mais de 87% do produto interno bruto no ano que vem, e assim preservar a classificação de crédito da França de triplo A, a pedra fundamental da política fiscal e econômica de Sarkozy.
Em um sinal ominoso do dano potencial que um colapso do acordo da zona do euro poderia causar a Paris, o spread entre as taxas de juros sobre os títulos da dívida francesa e os títulos da dívida alemã ampliou na terça-feira para o nível mais alto desde a criação da zona do euro, um sinal das preocupações do mercado com a força econômica da França.
Se a incerteza persistir até um possível referendo grego em janeiro, o panorama poderá ficar ainda mais sombrio, potencialmente arruinando os planos da campanha para reeleição de Sarkozy.
Ele deverá anunciar oficialmente sua candidatura em janeiro ou fevereiro de 2012, e planejava ter deixado o pior da crise da zona do euro para trás ao subir aos palanques. Ele já está bastante atrás de François Hollande, o candidato da oposição socialista, nas pesquisas e sofrerá fortes críticas pelo modo como lidou com a crise se ela não perder força em breve.
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