terça-feira, 22 de novembro de 2011

Morte do líder da Al Qaeda e primavera árabe enfraquecem grupos terroristas

Manifestantes exigem transferência de poder dos militares para civis, em protesto na Praça Tahir, no Cairo, na última sexta (28). Para especialista, os militares tentam uma transição limitada e controlada no Egito, o que não exclui uma nova revolta
Encerrados já por uma década, os 167 detidos na prisão mais emblemática e infausta da guerra contra o terrorismo viveram recentemente um ponto de inflexão que, segundo seus captores, os fez reconsiderar os motivos pelos quais se uniram à jihad. O momento chegou em maio. O líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, foi aniquilado em uma residência fortificada no Paquistão. Enquanto isso, ditadores seculares no mundo muçulmano caíam como peças de dominó, abatidos por uma onda de revoltas populares batizada de "primavera árabe". Nelas a Al Qaeda ficou marginalizada.

Diante da morte do líder terrorista, muitos desses detidos ficaram pensativos durante uma temporada. "A morte de Bin Laden foi um ponto de inflexão", explica Zak, o assessor cultural da prisão, um jordaniano de 53 anos que trabalha aqui desde 2005. "Muitos conheciam Bin Laden pessoalmente. Lutaram por ele. Um foi até seu guarda-costas." Durante dias os detidos ficaram colados ao televisor. "Não demonstravam emoções", acrescenta Zak. "São inteligentes. Fizeram isso para não delatar suas conexões. Mas notava-se que ficaram afetados ao vê-lo morrer em sua casa. Alguns ainda pensavam que Bin Laden estivesse ativo na luta, vivendo em cavernas. Para eles foi um golpe psicológico. Perceberam que nos últimos dez anos eles estiveram aqui trancados e ele ficou morando tranquilamente em sua casa."

Os detidos e os quatro presos que já foram condenados (entre eles o motorista e o guarda-costas de Bin Laden) têm acesso à televisão e à imprensa escrita. Acompanharam pontualmente a atualidade dos últimos meses. A morte do líder da Al Qaeda deu lugar a uma mudança substancial: agora, 90% dos presos apresentam um comportamento moderado. Entre eles, 10% se declaram abertamente progressistas.

Um exemplo: uma parte não fez o jejum no mês de Ramadã passado. A maioria joga futebol, tem aulas de informática, fala com frequência com as guardas femininas, coisa que os mais radicais não toleram. Assim é a vida em Guantánamo uma década depois dos atentados de 11 de Setembro. O mesmo centro de detenção em um promontório junto ao mar do Caribe, na ilha de Cuba. O mesmo sol abrasador. As mesmas iguanas passeando no pátio. Mas uma lição aprendida pelo exército dos EUA: quanto mais margem de manobra se dá aos detidos, menos tempo passam escutando os poucos que ainda pregam a guerra santa com o Corão na mão.

Entre a maioria dos detidos ainda há esperança de poder voltar a seus países. Não é uma mera ilusão. Afinal, 608 já foram transferidos para outros países. Muitos deles já estão em liberdade. "Os detidos no Campo 6 vivem juntos, rezam juntos, trabalham juntos, comem juntos", explica o coronel Donnie L. Thomas, comandante do centro de detenção. "Agora eles criam seu próprio horário. Aqui não planejamos suas horas de sono. Podem ficar no recreio até 20 horas por dia. Só se fecha o pátio entre meia-noite e 4 da manhã. Mas nesse espaço de tempo ainda podem se movimentar com liberdade dentro de seu bloco de celas. Podem falar uns com os outros. Podem se divertir, ver televisão. Dormem quando querem dormir."

Isso é para os que mostram bom comportamento. Depois há o núcleo duro, entre o qual se encontram o ideólogo dos atentados de 11 de Setembro, Khaled Sheikh Mohammed, e o suposto responsável pelo ataque contra o destróier USS Cole em 1999, Abd Al-Rahim Al-Nashiri. São cerca de 20 e estão encerrados na outra prisão, o Campo 5, de segurança máxima. É um lugar lúgubre. Quando uma porta se entreabre, veem-se três guardas dominando um corredor com 12 portas vermelhas.

Um deles tem o rosto coberto por uma viseira de plástico transparente, sob uma luz fluorescente. Protege-se assim dos ataques com fluidos: urina, saliva, sêmen... este sim que é o Guantánamo de antes. O das celas individuais de 9,8 metros quadrados, nas quais os presos passam até 22 horas por dia. O dos guardas que patrulham dia e noite, controlando-os em períodos de entre um e três minutos. O dos macacões laranja. O das manchas de fezes no teto, o único protesto que resta a esses homens desesperados.

O Campo 5 também é um vestígio. O presidente Barack Obama deu ordem de fechamento e essa prisão de segurança máxima está vazia. Alguns por mau comportamento. Outros porque consideram que os demais detidos se venderam ao inimigo e preferem passar seus dias na pureza da solidão, lendo o Corão. Um dos guardas que aparecem no bloco do Campo 5 é uma mulher. Seu trabalho é de risco especial. Os detidos radicais a insultam com frequência. "Temos guardas que são mulheres e alguns dos detidos se queixam disso", explica o coronel Thomas. "Somos uma força em que servem mulheres e devemos usá-las como parte da guarda do centro. Isso é um fato. Os detidos devem entender que as mulheres fazem parte desta equipe e que devem deixar para trás essas queixas."

No outro centro, o Campo 6, a relação com as mulheres é mais fluida. Esses presos estão mais expostos ao mundo exterior: a televisão, imprensa, rádio. Falam com suas famílias por telefone, passam mais tempo discutindo a atualidade. Nestes dias, nestas outras celas há certa inquietação.

A maioria dos detidos é do Iêmen. Alguns são da Líbia e da Síria. Veem que seus países lutam a favor da liberdade, à margem dos métodos a que recorreram no passado. "Algo que lhes dá motivo de arrependimento é ver o que as ações dos cidadãos conseguiram ou estão conseguindo em seus países sem o uso de armas", explica Zak, o assessor cultural. "Eles foram recrutados para a luta e o uso de armas... as promessas que lhes fizeram ficaram em meras palavras. As pessoas comuns nas ruas estão conseguindo muito mais do que essa luta armada a que aderiram." À década de cativeiro se acrescenta agora a decepção de que não foi a jihad que fez cair os tiranos.

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