quinta-feira, 17 de novembro de 2011

EUA têm de seguir Brasil e falar com Irã, diz analista


Para Trita Parsi, do Conselho Iraniano-Americano, sanções foram inócuas


Relatório de agência da ONU semana passada mostrou indícios de que o Irã buscou construir uma bomba nuclear

Trita Parsi
O alarme soado com o relatório da Agência Internacional de Energia Atômica sobre o Irã na semana passada reviveu o debate sobre frear o programa nuclear do país.


Para um dos principais estudiosos da questão, porém, a solução ainda é a negociação. Trita Parsi, que aos quatro anos fugiu do Irã para a Suécia e hoje preside nos Estados Unidos o Conselho Nacional Iraniano-Americano, diz que as sucessivas sanções contra Teerã se mostraram inócuas.

Folha - Se sanções não funcionam e uma ação militar é impensável, como atrair o Irã de volta à negociação e convencê-lo a permitir inspeções?
Trita Parsi - O Brasil e a Turquia mostraram que dá para conversar com o Irã. É complicado, mas não é tão diferente de nenhuma outra negociação real.
As negociações em que os EUA estiveram envolvidos com o Irã até agora foram muito limitadas e sempre com a expectativa de resultados imediatos, o que é totalmente irrealista. Tem muita fratura política e oposição interna hoje. Isso torna impossível negociar.

Dentro dos EUA?
Sim, e os iranianos têm o mesmo problema. As negociações que tiveram sucesso, com problemas tão amplos e antigos, levaram ao menos quatro anos. Por ora, nem os EUA nem o Irã mostraram o nível necessário de vontade política e paciência.

Muito da pressão nos EUA vem da dúvida sobre quanto tempo há até a bomba-algo que a AIEA não indica. Alguns analistas falam em 2012. Como convencê-los a esperar mais quatro anos?
A maioria das pessoas que dizem que os iranianos estão a um ano da bomba o faz porque não quer negociações. Na verdade, temos mais tempo e, se uma negociação real começasse, antes da solução, poderíamos ter avanços que atrasassem o programa. Mas é preciso saber que demora.
Quando brasileiros e turcos negociaram, buscaram diálogo com todas as facções políticas do governo do Irã, para não correr o risco de uma delas tentar sabotar. Os EUA têm de fazer o mesmo.

Há espaço político?
Não há. Mas é o presidente [Obama] que precisa criar. Um de seus principais erros foi nunca investir capital político nisso. Sempre tentou negociar dentro do espaço que já existia, muito limitado.

Apesar do resultado que o Brasil e a Turquia obtiveram, nos EUA eles foram acusados de ingenuidade. Hoje ainda pesaria o fato de o relatório da AIEA indicar que o Irã quer de fato a bomba...
Não, acho que o relatório indica que eles querem ter a capacidade de construção, algo que todos já sabiam.

Mas o Irã nunca admitiu.
É, mas eu não sei se isso muda as coisas, porque há cerca de 40 países no mundo com essa capacidade, inclusive o Brasil. O problema é que não há uma definição consensual do que seja essa capacidade, e a maioria cabe no Tratado de Não Proliferação Nuclear. Os iranianos tiram vantagem disso.

Podemos ter um repeteco do Iraque em 2003?
Sim, e não só porque as acusações podem ser falsas, mas porque seguem a mesma receita: estamos chegando a um ponto em que é quase impossível somar sanções, e a pressão por ação militar pode aumentar.

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