terça-feira, 8 de novembro de 2011

Estados Unidos redirecionam sua estratégia para a Ásia


A ascensão da China faz do Extremo Oriente o novo ponto estratégico
Uma década com duas guerras deixou um rastro de mortes e caixas muito prejudicados. O esforço armado contribuiu com algo além de perfurar o poço do déficit. Sobre a sociedade, paira a sensação de decadência.
O presidente Obama anunciou, no dia 21 de outubro, que todas as tropas sairão do Iraque até o final deste ano. Enquanto isso, seguem os preparativos para fazer o mesmo no Afeganistão em 2014, ou até antes. Ninguém duvida de que deverá se manter a vigilância em ambos os enclaves, ou de que o Irã continuará representando um perigo. Mas chegou a hora de redirecionar o foco. O objetivo passa a ser a Ásia e o Extremo Oriente, no arco entre o Índico e o Pacífico. O centro de gravidade estratégico e financeiro se desloca para o leste, diz Hillary Clinton, chefe da diplomacia americana.
“Com o Iraque e o Afeganistão em transição e sérios desafios econômicos em nosso país, algumas pessoas no cenário político americano têm pedido por um reposicionamento voltado para dentro. Solicitam uma redução em nosso compromisso internacional e um incremento das prioridades internas. Esses impulsos são compreensíveis, mas equivocados”.
A secretária de Estado se expressa dessa maneira em um longo artigo publicado pela revista “Foreign Policy”. “Em outras ocasiões, resistimos às forças que nos pressionavam a voltar para casa, e será assim novamente. Para além de nossas fronteiras, perguntam-nos quais são nossas intenções, ou sobre nossa vontade de manter o compromisso e liderar. Na Ásia perguntam se estamos ali para ficar ou se nos distrairemos com acontecimentos em outros lugares, e se podemos transformar esses compromissos em ações. A resposta é que podemos e assim faremos”.
Durante essa distração que supuseram as duas frentes bélicas, outros se aproveitaram. “Obviamente, o maior movimento tectônico e desafio são o aumento do poder da China na Ásia”, diz Michael Green, professor da Universidade de Georgetown.
Há cerca de duas semanas esse continente foi visitado por Leon Panetta, secretário de Defesa. Ali, ele disse que os Estados Unidos se encontram em “um momento crucial”, que deverá facilitar que se mantenha ou até se aumente a presença militar na região. Seria o sinal da relação com a Ásia e o desejo de equilibrar a força da China.
Clinton acredita que os Estados Unidos precisam ser mais “inteligentes e sistemáticos” ao decidir onde investir tempo e energia, de forma que se potencialize a liderança, se assegurem os interesses e se avancem seus valores. Foi o argumento que utilizou previamente em seu texto, onde faz um apelo por “um substancial incremento do investimento – diplomático, econômico, estratégico – na região da Ásia-Pacífico”.
A expansão da qual falam Clinton e Panetta se depara com o previsto corte no orçamento destinado ao Pentágono. “Estamos em um ponto no qual não podemos nos permitir cortar demais, se quisermos tornar efetiva essa proposta”, observa Green, um dos participantes de um debate sobre o assunto, organizado pela Brookings Institution. “Se o corte chegar a US$ 300 ou 400 bilhões, estaremos beirando uma situação de insegurança”, diz.
A secretária de Estado considera essencial a preeminência dos EUA para “ajudar a construir a arquitetura deste século” nessa região, para onde Obama deve viajar neste mês de novembro. Uma situação comparável ao papel que a grande potência assumiu depois da Segunda Guerra Mundial. “Chegou a hora de efetuarmos uma prática similar como potência do Pacífico, a partir da tática traçada pelo presidente”.
A prioridade é aproveitar o crescimento econômico e o dinamismo desse continente. A abertura de mercados na Ásia oferece uma oportunidade “sem precedentes” para os investimentos, o comércio e o desenvolvimento tecnológico. “A recuperação econômica em nosso país”, insiste Clinton, “depende das exportações e da habilidade de nossas empresas em explorar a grande base asiática de consumo. Garantir a paz e a segurança no eixo Ásia-Pacífico é cada vez mais crucial para o progresso global”. Como elementos-chave nesse objetivo pacífico, cita a defesa da liberdade de navegação no mar do Sul da China, conter a proliferação nuclear da Coreia do Norte e garantir a transparência das atividades militares da região. Nesta última referência ela não nomeia o interessado, que não é outro senão a China, o mais emergente dos sócios, dentro de um continente no qual se busca fomentar a cooperação multilateral e no qual a Índia recebe um protagonismo especial, observa Clinton.
O professor Green concorda. “Não acredito que a Ásia esteja se movendo na direção de uma estrutura bipolar de poder entre os Estados Unidos e a China. Temos de pensar em termos de multipolaridade”. À lista se somam o Japão – que continua sendo a terceira economia mundial - , a emergente Indonésia, a Coreia do Sul e a Austrália. “O fato é que o fortalecimento da China causa preocupação em muitos dos atores regionais”, opina Jonathan Pollack, do citado Brookings Institute. “Os Estados Unidos tentarão responder sem que seja evidente demais, no sentido de que a China possa entendê-lo sem que o perceba como uma iniciativa diretamente contra ela”.
Para Clinton, a China ainda tem deveres a cumprir (acabar com a discriminação das empresas americanas ou de outros países, ou a questão do respeito aos direitos humanos). “Não aspiramos impor nosso sistema a outros países, mas acreditamos que certos valores são universais”, diz.
A incógnitaQual é o poder nuclear de Pequim?
A ameaça da Coreia do Norte parece estar mais do que documentada, mas a China tem a fama de estar pouco preocupada em armazenar ogivas nucleares. No entanto, nos Estados Unidos há quem suspeite dessa conduta e garante que, sem fazer barulho, os chineses estão acumulando armamentos atômicos.

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