segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Uma oferta iraniana digna de consideração

Mahmoud Ahmadinejad
Um reator de pesquisa nuclear em Teerã pode ter a chave para resolver o prolongado impasse nuclear entre o Irã e o ocidente. O governo iraniano está ficando sem o urânio 20% enriquecido de que precisa para operar o reator, e isso parece estar tornando o país mais suscetível ao compromisso.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad propôs recentemente que o Irã suspenda a produção de algumas atividades com urânio enriquecido em troca do fornecimento de combustível por parte dos Estados Unidos. Quer se trate de uma oferta de paz ou de um ato de necessidade, é uma oportunidade sem precedentes para Washington e seus aliados.

A proposta surgiu no início deste mês em meio ao falatório habitual que cerca a viagem anual de Ahmadinejad para a Assembleia Geral da ONU. “Se vocês (os Estados Unidos e a Europa) nos derem urânio enriquecido a 20% agora, nós pararemos a produção”, disse o presidente iraniano ao Washington Post e mais tarde, basicamente nos mesmos termos, ao The New York Times.

Ahmadinejad esclareceu que a oferta não se aplicava à produção do urânio enriquecido a 3,5%, que o país usa na usina de Bushehr para gerar eletricidade. Mas a oferta é significativa mesmo assim.

Embora o urânio enriquecido a 20% seja usado para produzir isótopos médicos no Reator de Pesquisa de Teerã, ele fica na perigosa divisão entre o urânio pouco enriquecido e o urânio muito enriquecido. Estocar urânio enriquecido a 20% reduz significativamente o tempo necessário para produzir armas nucleares. Ao buscar o fornecimento no ocidente, a oferta de Ahmadinejad pode reduzir as preocupações de que o Irã tome a iniciativa de desenvolver bombas atômicas no futuro próximo.

Como integrante do Tratado de Não-Proliferação, o Irã tem o direito de enriquecer o urânio a 20% (e até mais), desde que use o urânio somente para propósitos pacíficos e opera sob a supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica. Mas encorajado pelas revelações de que o Irã estava violando as obrigações do tratado, o Conselho de Segurança da ONU aprovou seis resoluções desde 2006 demandando que o Irã suspenda todas as atividades de enriquecimento.

Ainda assim as aspirações nucleares do governo iraniano continuaram firmes, pelo menos até recentemente. Só este ano, ele anunciou de forma belicosa planos para triplicar sua produção de urânio enriquecido a 20% e começou a transferir as operações de enriquecimento de uma usina em Natans para instalações subterrâneas em Fordow. Apesar do desafio orgulhoso, o Irã ainda não é capaz de transformar o urânio enriquecido em combustível para seus reatores.

E agora o país também está ficando sem urânio enriquecido a 20%. Os Estados Unidos já forneceram o combustível para o Reator de Pesquisa de Teerã, mas a Revolução Islâmica de 1979 trouxe um fim abrupto para este relacionamento. Em 1992, a Argentina forneceu 116 quilos de urânio enriquecido a 20%, que alimentaram o reator até agora.

Depois do fracasso de iniciativas em 2009 e 2010 para trocar a maior parte do estoque de urânio enriquecido a 3,5% do Irã por combustível para o Reator de Pesquisa de Teerã, o Irã lançou sua própria produção de urânio enriquecido a 20%. Hoje, o país tem mais de 70 quilos.

Embora isso seja menos do que a quantidade necessária para fazer uma bomba nuclear – cerca de 130 quilos no mínimo – ainda é temores de que o Irã possa estocar urânio suficiente e depois enriquecê-lo rapidamente para produzir material próprio para armas.

Também há temores de que a oferta de Ahmadinejad possa ser apenas retórica vazia. Sua posição no país se enfraqueceu depois de seus desentendimentos públicos recentes com o líder supremo Ali Khamenei. Mas Ahmadinejad repetiu a oferta com frequência suficiente, e com a confirmação do ministro de exterior, que deve ter o apoio da elite política iraniana, inclusive de Khamenei.

E as declarações recentes de Fereydoon Abbasi, chefe da agência de energia atômica do Irã, rejeitando a possibilidade de que o Irã possa interromper a produção de urânio enriquecido a 20% ou concordar com trocas por combustível, não devem ser levadas muito a sério. Abbasi costuma ser beligerante – talvez como resultado de ter sido ameaçado de morte no ano passado – e tradicionalmente nem ele nem seus antecessores foram incluídos no processo de tomada de decisão do governo iraniano sobre assuntos nucleares. A realidade é que Teerã precisa de combustível nuclear para seu reator de pesquisa, e precisa dele agora.

Pela primeira vez, é estrategicamente conveniente para os Estados Unidos e seus aliados confiarem na palavra de Ahmadinejad. Eles devem fornecer 50 quilos de combustível ao Irã, sem nenhuma condição.

Como demonstraram as experiências fracassadas de 2009 e 2010, estabelecer condições não dá certo. Por outro lado, dar o combustível incondicionalmente ao Irã acabaria com a lógica do Irã para refinar urânio a mais de 3,5%.

O acordo aumentaria o estoque de salvaguarda de urânio enriquecido a 20% o Irã para 120 quilos, uma quantidade grande o suficiente para operar o Reator de Pesquisa de Teerã por sete anos em sua capacidade máxima – e ajudar os 850 mil iranianos que atualmente dependem dos isótopos radioativos do reator para tratamento de câncer –, porém muito pequena para produzir até mesmo uma bomba nuclear.

Uma iniciativa como esta seria, acima de tudo, um gesto humanitário, e compraria a boa vontade do povo iraniano em relação a Washington, além de minar a propaganda nacionalista anti-americana do retime. Mas seria um gesto humanitário com benefícios estratégicos: reduzir as atividades de enriquecimento do Irã e potencialmente desfazer o nó górdio que causou um impasse nas negociações do ocidente com o Irã.

Aqueles que costumam observar o programa nuclear do Irã através de um véu espesso de suspeitas ficarão inclinados a rejeitar qualquer acordo com Teerã de imediato. Mas uma vez que outros aspectos do impasse nuclear entre o ocidente e o Irã – a possível dimensão militar do programa, a produção de água pesada, mais instalações de enriquecimento – devem permanecer sem solução, esta iniciativa é uma chance rara para dar um passo adiante.

Um comentário:

  1. entao o Irã n procura fazer uma bomba atomica? msm que tentasse ele nao teria uranio suficiente para issu O.o eu nao sabia disso.

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