quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Recusa a condenar Síria expõe poder dos Brics

Brasil, Índia e África do Sul deram a Rússia e China cobertura para o veto

O duplo veto de Rússia e China a uma resolução de condenação à Síria na ONU, anteontem, demonstra o poder de um pequeno clube de emergentes -e a extensão das divisões que a Líbia continua a causar no Conselho de Segurança.

Mas, como se trata de um fórum que muitas vezes se provou dividido, alguns diplomatas dizem que a votação sobre a Síria nada tem de incomum: Rússia, China e seus aliados estão tentando reprimir o entusiasmo dos EUA e da Europa quanto a alguns dos levantes pró-democracia no Oriente Médio e no norte da África.

Rússia e China, com apoio de abstenções do Brasil, Índia e África do Sul, usaram seu poder de veto para bloquear resolução condenando a repressão síria aos protestos e ameaçando sanções.

Os diplomatas ocidentais que apoiavam a resolução expressaram frustração pela posição dos Brics, alegando que suas obstruções se tornam mais e mais frequentes.

Para Philippe Bolopion, da organização de direitos humanos Human Rights Watch, em Nova York, os três poderosos países em desenvolvimento ofereceram a cobertura de que Rússia e China precisavam para vetar a resolução sem incorrer em consequências adversas.

"O custo do veto teria sido mais alto caso os três não se tivessem abstido", disse. Diplomatas dos países do grupo Brics discordaram. "Os europeus e os americanos não gostam do fato de sempre enfatizarmos a preocupação de que nossas ações abram as portas a uma mudança de regime", disse um diplomata de um dos Brics.

A França, em cooperação com Reino Unido, Portugal e Alemanha, trabalhou com afinco para obter o apoio do grupo. O anteprojeto da resolução foi revisado e atenuado repetidamente, a ponto de excluir a palavra "sanções". Nem isso bastou.

Para David Bosco, professor da Universidade Americana em Washington, o veto reflete a "frustração" dos Brics sobre a intervenção militar na Líbia, mas também "divergências persistentes quanto a direitos humanos e soberania nacional".

Rússia e China, cujos históricos de direitos humanos costumam ser criticados por líderes ocidentais, tradicionalmente demonstram maior tolerância quanto a outros governos acusados de abusos contra os direitos humanos.

Analistas dizem ainda que a Rússia desejava enviar um alerta de que não cederá a pressões quando vir seus interesses ameaçados pelos EUA e pela Europa. A Rússia tem fortes conexões econômicas e de defesa com a Síria.

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