sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, direciona suas ambições para a Ásia

Vladimir Putin

Foi como chefe de Estado que o primeiro-ministro russo Vladimir Putin efetuou uma visita de dois dias à China, em 11 e 12 de outubro de 2011. Se Pequim é a primeira capital estrangeira visitada por Putin desde o anúncio de sua volta ao Kremlin em 2012, existe uma boa razão para isso. Desde 2010 a China é a maior parceira comercial da Rússia, destronando a Alemanha.

As trocas comerciais não param de crescer: US$ 59 bilhões (cerca de R$103 bilhões) em 2010, US$70 bilhões em 2011. A reaproximação é evidente: Moscou é a maior produtora de energia do mundo, e Pequim é o maior consumidor. Mas é na questão do gás que as conversas têm tropeçado. Elas não avançaram durante a visita. “Será preciso encontrar uma solução”, constatou Putin. Um acordo teria sido bem-vindo, sobretudo no momento em que a Gazprom, cujas filiais na Europa estão sendo ameaçadas de sanções por entrave às regras da concorrência, quer mais do que nunca mostrar ao Velho Continente que ela possui outros mercados para seu gás.

À primeira vista, não houve nada de novo na 16ª visita do número um russo à China. Mas houve, na verdade. Em Pequim, não contente em defender “uma nova ordem financeira mundial”, Putin lançou as bases de uma nova cooperação com o grande vizinho, mais política. “Em primeiro lugar, nós atingimos um nível excepcional de confiança nas questões internacionais. Estamos cooperando estreitamente nesse domínio. (...) A Rússia e a China são atores influentes no cenário internacional (...), aprendemos a coordenar nossos esforços a fim de proteger nossos interesses legítimos”, ele declarou durante uma entrevista exibida na quarta-feira pela rede estatal chinesa CCTV.

Seu colega chinês Wen Jiabao seguiu a mesma linha: “Nossa amizade deve se fortalecer para resgatar a paz e a estabilidade no mundo”, uma alusão ao bloqueio pelos dois países, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, à resolução contra os abusos do regime de Bashar Al-Assad sobre a população síria. Estaríamos assistindo à emergência de um novo eixo Moscou-Pequim?

A Rússia precisa da China para a energia, mas não somente. O Kremlin sabe que os investimentos chineses são o único motor possível para desenvolver a Sibéria e o Extremo Oriente russo, cujo nível de desenvolvimento é muito inferior ao das províncias chinesas próximas à fronteira.

Em pleno declínio demográfico, freada pela decrepitude de sua infraestrutura, pobre em pequenas e médias empresas e em investimentos, a Rússia vê seu vizinho asiático como uma salvação, mas também como uma ameaça. Do lado russo, 7,5 milhões de indivíduos povoam um território que vai de Vladivostok, no Pacífico, até a fronteira com a Mongólia. Do lado chinês, são 148 milhões. Nesses últimos anos, as relações se suavizaram, foi assinado um tratado sobre o traçado da fronteira (2005) e os dois países têm colaborado dentro da Organização de Cooperação de Xangai.

“Polo do mundo moderno”
Para seu terceiro mandato no Kremlin, Putin tem um projeto: criar “uma poderosa união supranacional capaz de se tornar um polo do mundo moderno, uma ponte eficaz entre a Europa e a região Ásia-Pacífico”, escreveu o líder no Kremlin no jornal “Izvestia”, alguns dias antes de sua visita à China. Ninguém duvida que Pequim acompanhará de perto a emergência dessa “União Eurasiana”, uma confederação de Estados pós-soviéticos que podem rivalizar com a União Europeia ou os Estados Unidos, um mercado “colossal de 165 milhões de consumidores, com um espaço jurídico único,  livre circulação de capitais, de serviços e de pessoas”, segundo Putin.

Desnecessário dizer que a Rússia seguraria as rédeas dessa União Eurasiana, uma espécie de URSS mais moderna. Sua realização parece bastante improvável no momento, uma vez que nenhum dos Estados pós-soviéticos envolvidos se manifestou. Mas o mais importante não está aí. Obcecado pela restauração da “Grande Rússia”, Putin pretende mostrar que tem outros objetivos além da relação europeia, e está se direcionando para a Ásia. “Há vinte anos, a Rússia olha para a Europa e ignora a Ásia. A diferença de desenvolvimento entre as regiões do Extremo Oriente russo e seus vizinhos chineses é incrível. Mas agora a certeza de que precisamos um do outro está evidente”, explica Andrei Ostrovski, vice-diretor do Instituto de Estudos sobre a Ásia em Moscou.

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