sábado, 15 de outubro de 2011

Os Estados Unidos elevam o tom contra o Irã

O Ayatollah Ali Khamenei (foto), líder supremo do Irã, rejeitou veemente as acusações americanos dizendo que os EUA querem acirrar ainda mais as diferenças entre muçulmanos xiitas e sunitas

O colunista David Ignatius, que nas horas vagas escreve romances de espionagem, nega que o complô contra o embaixador saudita em Washington lembre em qualquer maneira seus escritos. “Meus livros são muito mais verossímeis”, garante. Antes de acrescentar: “O que torna esses complôs pouco plausíveis é o risco extremo que se corre. Mas é também o que os torna plausíveis...”

Dois dias após as incríveis revelações feitas pelo governo americano, na terça-feira (11), sobre um plano “concebido e dirigido no Irã” para assassinar o diplomata Adel Al-Jubeir, o ceticismo ainda não havia se dissipado completamente em Washington, quanto à “bizarrice” da situação. Ainda mais pelo fato de que a personalidade do suspeito principal, um vendedor de carros usados do Texas, contrasta com o profissionalismo geralmente atribuído aos comandos iranianos.

Segundo especialistas, um atentado iraniano em solo americano teria sido o equivalente a um ato de guerra. O governo Obama informou seus parceiros estrangeiros sobre os detalhes da investigação, esperando aumentar o isolamento do Irã. Mas muitos elementos permanecem vagos.

Na quinta-feira (13), a porta-voz do departamento de Estado, Victoria Nuland, revelou que Washington havia entrado em contato diretamente com o Irã – país com o qual não mantinha mais relações diplomáticas desde 1979 – a respeito do caso, mas ela se recusou a detalhar quando, como ou por quê. A imprensa mencionou um encontro em Nova York com o representante iraniano na ONU.

Qualquer que tenha sido o escalão no qual o suposto complô foi “aprovado” em Teerã, segundo o termo empregado pelo ministro da Justiça Eric Holder, o governo americano manifestamente decidiu aproveitar o caso para relançar as pressões contra o Irã, dormentes há meses. Barack Obama denunciou, na quinta-feira (13), “uma escalada perigosa”, mencionando “um conjunto de comportamentos perigosos e extremamente arriscados por parte do governo iraniano”. Teerã deverá “dar explicações”, ele alertou.

O presidente não explicou qual seria esse “conjunto de comportamentos”, mas David Ignatius afirmou, no “Washington Post”, que o assassinato de um diplomata saudita no Paquistão, no dia 16 de maio, também poderia ser atribuído aos serviços iranianos.

Obama mostrou que estava ciente das dúvidas de uma comunidade internacional que ainda tem na lembrança as “provas” apresentadas contra Saddam Hussein na ONU. Ligeiramente irritado, ele garantiu que o suspeito, americano de origem iraniana Mansour Arbabsiar, que a imprensa retratou como um “loser” [perdedor, fracassado], tinha “laços diretos, era pago e recebia ordens de indivíduos dentro do governo iraniano”. Remetendo à acusação apresentada pelo FBI, ele insistiu: “Não exporíamos tais hipóteses sem ter os fatos que sustentam essas alegações”.

Segundo o dossiê apresentado pelos investigadores, Mansour Arbabsiar foi contatado na primavera, enquanto estava no Irã, por um primo – que não tem seu nome citado, mas seria um alto dirigente das forças Qods, a unidade de elite da Guarda Revolucionária. Este teria mencionado o plano de sequestrar o embaixador saudita, Adel Al-Jubeir, usando capangas dos meios do narcotráfico.

Mansour Arbabsiar foi até o México para fazer contato com o sobrinho de uma de suas amigas, próxima dos narcotraficantes. O homem era justamente um informante dos serviços americanos de combate ao tráfico de drogas, a Drug Enforcement Agency (DEA). Os policiais montaram então uma operação para apanhar os iranianos. Mansour Arbabsiar, que ainda possui um passaporte iraniano, voltou a Teerã, onde encontrou Gholam Shakuri, também membro das forças Qods. De volta ao México, ele teria combinado um preço com o homem que ele acreditava ser membro do cartel Los Zetas: US$ 1,5 milhão (R$ 2,6 milhões).

Em agosto, dois depósitos de US$ 49.960 (cerca de R$ 86.431) vindos do exterior foram feitos em uma conta monitorada pelo FBI, passando por um banco de Nova York. O lugar do ataque seria um restaurante de Washington, onde o diplomata saudita costumava almoçar. As escutas do FBI mostram que os mandantes se preocupavam pouco com o possível número de vítimas colaterais em um local público.

“Eles querem a pele desse cara”, responde Arbabsiar. Uma afirmação que explica o fato de que, entre as acusações – que pesam também sobre Gholam Shakuri, ainda no Irã – figura “cumplicidade no uso de uma arma de destruição em massa”.

Os repórteres americanos que foram até os diferentes endereços do garagista no Texas descreveram um diletante, que nunca teve sucesso nos negócios ou em qualquer outra coisa. O homem de 56 anos chegou aos Estados Unidos cerca de trinta anos atrás, para estudar engenharia mecânica. Casou-se com uma americana, de quem se divorciou, e foi vendedor de cavalos, de sorvetes, de kebabs e de carros velhos. “Ele sempre perdia suas chaves e seu celular”, disse um dos seus amigos ao “New York Times”. “Suas meias nem combinavam”.

O presidente Obama afirmou que exigiria as “sanções mais duras” contra os responsáveis pelo complô. Os europeus imediatamente entraram na linha de mira de muitos membros do Congresso. O governo quer que seus parceiros o sigam nas sanções impostas na terça-feira contra quatro dignitários da Guarda Revolucionária (um já estava na lista dos europeus). O senador Mark Kirk, de Illinois, fez um apelo para que o governo efetue sanções contra o Banco Central iraniano e “derrube a moeda iraniana”, o que seria “a resposta não militar mais eficaz”, ele disse. 92 senadores (entre 100) já haviam apoiado essa ideia em agosto.

Em plena campanha eleitoral, o caso deu lugar a uma onda de apelos por um endurecimento. Diversos candidatos republicanos repetiram a análise de seu predecessor John McCain. Este acusou Barack Obama de ter perdido a oportunidade durante o movimento do verão de 2009 em Teerã. “Deveríamos ter apoiado os manifestantes, e eles teriam conseguido derrubar o governo”. Alguns especialistas, como Daniel Brumberg, pesquisador do US Institute of Peace, se preocupam com o fato de que esse caso possa ser “utilizado como um motivo para autorizar Israel a realizar um ataque contra o Irã”, num momento em que a administração tem se esforçado para reconquistar o voto judeu.

2 comentários:

  1. ta dificil a situação iraniana, em quanto os EUA controlar os fatos e a imprensa o Irã sofrera grandes problemas...n duvido que ate final do ano algum pais ataque o Irã com apoio dos EUA.

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  2. Sempre usam mentirar para chegar ao seus objetivos.

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