segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A nova corrida aérea

Se os EUA usam "drones", por que outros países não?


Chengdu Xianglong, o UAV estratégico de alta altitude chinês

Na exposição aérea de Zhuhai, no sudeste da China, em novembro passado, companhias chinesas assustaram alguns americanos ao revelar 25 modelos diferentes de aeronaves com controle remoto e mostrar uma animação em vídeo de um "drone" (avião não tripulado, Vant) eliminando um veículo blindado e atacando um porta-aviões dos Estados Unidos.

A apresentação parecia ser mais uma jogada de marketing do que uma ameaça militar; o evento é a maior feira de aviação da China, e atrai tanto compradores militares chineses quanto estrangeiros.

Mas foi uma clara evidência de que o quase monopólio dos EUA em Vants estava chegando ao fim, com amplas consequências para a segurança americana, o direito internacional e o futuro da prática de guerra.

Em breve, os EUA vão enfrentar um adversário militar ou grupo terrorista armado de Vants, dizem analistas.

Mas o que os especialistas em riscos preveem não é um ataque contra os EUA, e sim os desafios políticos e jurídicos que se apresentam quando outro país segue o exemplo americano. O governo Bush, e ainda mais agressivamente a administração Obama, adotou um princípio extraordinário: o de que os EUA podem enviar essa arma robótica além de suas fronteiras para matar supostos inimigos e até cidadãos americanos que sejam considerados uma ameaça.

"É esse o mundo em que queremos viver?", pergunta Micah Zenko, membro do Conselho de Relações Exteriores. "Porque nós o estamos criando."

No Iraque e no Afeganistão, Vants militares tornaram-se uma parte rotineira do arsenal. No Paquistão, segundo oficiais americanos, ataques de Predators e Reapers operados pela CIA mataram mais de 2 mil militantes; o número de baixas civis é muito discutido.

Quando Anwar al Awlaki, o estrategista da Al Qaeda, foi morto em 30 de setembro com Samir Khan, pela primeira vez um cidadão americano foi o alvo intencional de um ataque de um avião não tripulado.

Se a China, por exemplo, enviar Vants mortais para o Cazaquistão para caçar os muçulmanos da minoria uigur, que ela acusa de planejar o terrorismo, o que dirão os EUA?

E se a Índia usar aeronaves com controle remoto para atingir os suspeitos de terrorismo na Caxemira, ou a Rússia enviar teleguiados atrás de militantes no Cáucaso? As autoridades americanas que protestarem provavelmente terão seu próprio exemplo atirado de volta. O feitiço contra o feiticeiro, como no ditado. "O problema é que estamos criando uma norma internacional" -garantindo o direito de atacar preventivamente aqueles que suspeitamos de planejar ataques, argumenta Dennis M. Gormley, um pesquisador sênior na Universidade de Pittsburgh e autor de Missile Contagion [Contágio de mísseis], que pediu controles mais duros na exportação de tecnologia de Vants americana. "O que mais me preocupa são as imitações."

Até hoje, somente os EUA, Israel (contra o Hizbollah, no Líbano, e o Hamas, em Gaza) e o Reino Unido (no Afeganistão) usaram Vants em ataques.

Mas analistas da Defesa americana contam mais de 50 países que construíram ou compraram veículos aéreos não tripulados, ou UAV na sigla em inglês, e o número está aumentando a cada mês.

"A virtude da maioria dos UAVs é que eles têm asas longas e você pode prender qualquer coisa nelas", diz Gormley. Isso inclui câmeras de vídeo, equipamento de vigilância e munições, ele diz. "Está se espalhando como um incêndio."

Até agora os EUA têm uma enorme vantagem no número e na sofisticação dos UAVs, cerca de 7 mil, segundo uma estimativa oficial, a maioria deles desarmada.

Philip Finnegan, diretor de análise corporativa para o Teal Group, uma empresa que acompanha os mercados de defesa e aeroespacial, diz que os gastos globais em pesquisa e encomendas de Vants na próxima década deverão superar os US$ 94 bilhões, incluindo US$ 9 bilhões em aeronaves de combate remotamente controladas.

Israel e China estão desenvolvendo e comercializando agressivamente os teleguiados, e Rússia, Irã, Índia, Paquistão e vários outros países não estão muito atrás.

O Serviço de Segurança da Defesa, que protege o Pentágono e seus fornecedores de espionagem, advertiu em um relatório no ano passado que a tecnologia de teleguiados americana tornou-se um alvo importante de espiões estrangeiros.

Em dezembro passado um Vant de vigilância caiu em um bairro de El Paso, no Texas. Ele tinha sido lançado pela polícia mexicana, estacionada do outro lado da fronteira.

Até o grupo militante libanês Hizbollah empregou teleguiados, um projeto iraniano capaz de carregar munições e mergulhar até o alvo, segundo P. W. Singer, autor de Wired for War [Equipados para a Guerra].

"Se eles estiverem voando perto dos telhados e das árvores, é quase impossível derrubá-los", disse John Villasenor, professor de engenharia elétrica na Universidade da Califórnia em Los Angeles.

É fácil imaginar Vants terroristas preparados para espalhar antraz ou armas radioativas.

Especulações de que a Al Qaeda poderia usar armas exóticas até agora não passaram de rumores infundados.

No entanto, a curva tecnológica ascendente dos Vants significa que a ameaça não pode mais ser ignorada.

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