segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Há 30 anos com mesmo símbolo e líder, Liga do Norte defende ideologia xenófoba na Itália

Umberto Bossi
Umberto Bossi, líder da Liga Norte, tem nas mãos não só o futuro do governo italiano como os destinos da UE. O sócio de Silvio Berlusconi evitou a queda do Executivo ao aceitar os ajustes orçamentários impostos pela UE, e dessa forma permitiu que a Itália salvasse a face na cúpula da zona do euro sobre a crise da dívida. Mas se impõe cautela. O compromisso de Berlusconi e Bossi é frágil, e a reforma do sistema de pensões, chave para reduzir o endividamento, continua nos bastidores. A Liga aceitou o atraso da idade da aposentadoria de 65 para 67 anos, mas se nega que seja modificada a aposentadoria por tempo de contribuição, que independe da idade.

Quatro milhões de italianos se beneficiaram desse sistema, e 65% deles vivem nas regiões setentrionais. Vários milhares a mais esperam terminar logo sua vida ativa, e Bossi não pode adiar sua meta. Porque foram exatamente os eleitores do norte produtivo, dos grandes polos industriais e das pequenas e médias empresas que disseram a Bossi que sobre as aposentadorias não pode ceder.

O pacote de medidas esboçado pelo governo deverá passar pelo Parlamento em alguns meses. Nada garante que o Executivo continue em pé até então.

A Liga faz parte da coalizão que levou três vezes o governo a Berlusconi (1994, 2001 e 2008), e seu poder foi aumentando com o tempo. É a força mais antiga do país: desde sua fundação, no final dos anos 1980, nunca mudou de nome, de símbolo e de líder. Sua ideologia também se demonstrou de pedra, pelo menos na teoria. "Nós os primeiros" é o lema que resume tudo: posições intransigentes - muitas vezes racistas - contra a imigração, antieuropeísmo e federalismo, embora às vezes continuem pregando a secessão da Padania, um conjunto das regiões do norte que não existe em nenhum manual de geografia ou de história.

De resultados que rondavam os 3%, a Liga teve 10% nas últimas gerais e hoje ficaria perto de 12%, segundo várias pesquisas. Além disso, em julho de 2010 os partidários de Gianfranco Fini - que fundou com Berlusconi o Povo da Liberdade - saíram do partido comum e do gabinete: desde então a Liga Norte é a única aliada do governo, a única que pode lhe conceder a maioria absoluta ou tirá-la. Muleta indispensável de Berlusconi e sua eterna espada de Dâmocles.

Cada irritação dos liguistas volta a despertar o fantasma de dezembro de 1994, quando a Liga se deslizou da aliança e derrubou o neonato primeiro Executivo de Berlusconi. Foi preciso recorrer a um gabinete técnico e convocar as eleições antes do tempo, em 1996. Bossi e Berlusconi fizeram as pazes e juntos ganharam as gerais de 2001 e 2008. Mas a Liga é um amante lunático. Desde a primeira tentativa de convivência, desempenhou um papel um tanto esquizofrênico de "partido de luta e de governo".

Os dirigentes se sentam no Parlamento e no Executivo guiado por Berlusconi, e quando voltam para suas cidades do norte no fim de semana o criticam.

"Esse papel até agora se justificava diante dos eleitores com um raciocínio muito simples", explica Eleonora Bianchini, jornalista do "Fatto Quotidiano"

e autora de "O livro que a Liga Norte não o faria ler", de 2010. "Ficamos no poder para conseguir o federalismo de forma pacífica, para pressionar o poder por dentro." Mas os eleitores não querem engolir mais essa pílula.

"Não fazem mais que pensar nas confusões de Berlusconi", desabafou um pequeno empresário da região de Treviso (perto de Veneza) nos microfones da Rádio Padania, a emissora do partido de Bossi.

"As lutas entre Berlusconi e Bossi sempre acabam fortalecendo a Liga, ao menos em nível de mídia. É uma estratégia que o líder utiliza para deixar claro à sua base que tem um poder efetivo sobre o Executivo, que o sacrifício não é em vão. Mas a base aqui no norte está farta", prossegue Bianchini, em Milão. "A nova geração de liguistas, coligados ao redor do ministro do Interior, Roberto Maroni, está se cansando do líder."

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