segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Diplomatas questionam papel do britânico Tony Blair como mediador no Oriente Médio

Tony Blair
Qual é a utilidade de Tony Blair? Quando se faz esta pergunta às autoridades palestinas e diplomatas europeus e russos, há dois tipos de resposta: uma que poderia se resumir com a frase “para nada” e outra que viria a defini-lo como “porta-voz dos interesses israelenses”. O governo israelense, por sua vez, valoriza de forma muito positiva seu trabalho como enviado especial do Quarteto (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU) no Oriente Próximo. Passaram-se mais de quatro anos desde que Balir assumiu a missão, no mesmo dia em que deixou o cargo de primeiro-ministro britânico (27 de junho de 2007), e não houve mudanças substanciais nem no processo de paz nem no bloqueio de Gaza.

Como primeiro-ministro, Tony Blair se definiu em inúmeras ocasiões como “amigo de Israel”. Em 2004, 52 diplomatas afastados da Inglaterra publicaram uma carta na qual criticavam a submissão de Blair aos interesses israelenses e norte-americanos. Apesar disso, apesar de sua negativa a pedir um imediato cessar-fogo depois da invasão israelense do Líbano (2006) e apesar de seu protagonismo na invasão do Iraque, as autoridades palestinas deram aprovaram sua nomeação como mediador. Acreditaram que seu forte perfil político e sua aparente influência no governo israelense ajudariam a restabelecer as negociações que estavam num beco sem saída.

As primeiras críticas a seu trabalho surgiram durante a invasão israelense de Gaza entre 27 de dezembro de 2008 e 18 de janeiro de 2009. Enquanto Gaza era bombardeada, Blair passava o Natal em uma de suas residências britânicas. E se deixou fotografar na inauguração de uma nova loja do estilista Giogio Armani em Londres. O mediador só chegou a seus escritório em Jerusalém em 5 de janeiro, quando a infantaria israelense já havia invadido a Faixa. Até agora, Blair não visitou Gaza, o que seu escritório justifica alegando motivos de segurança.

O enviado especial do Quarteto costuma passar uma semana por mês em Jerusalém. Não cobra pelo seu trabalho, mas custa caro. Até este verão ele ficava hospedado no American Colony, o hotel mais famoso e refinado de Jerusalém. Sua suíte (mais de 400 euros por noite) e os alojamentos e escritórios de uma dúzia de colaboradores ocupavam todo o quarto andar do hotel, com um custo superior a um milhão de euros anuais. Os salários de sua escolta pessoal são pagos pelos contribuintes britânicos, assim como os mais de 200 mil euros anuais que o grupo de policiais gasta em alojamento e manutenção. Há alguns meses, Blair e sua equipe foram transferidos para um prédio moderno em Sheik Jarrah (o bairro mais nobre de Jerusalém oriental), alugado por quase 800 mil euros anuais.

“Tony Blair nos explicou numa ocasião que sua missão não era política, mas sim humanitária, e tinha como intenção melhorar as condições de vida dos palestinos: redução de controles militares nos territórios ocupados, mais entrada de produtos em Gaza e coisas parecidas”, comentou um porta-voz da Organização Pela Libertação da Palestina (OLP). “E para isso nos basta falar diretamente com os israelenses”, acrescentou o mesmo porta-voz. Tanto os dirigentes palestinos como os israelenses com o tempo se acostumaram com a irrelevância do representante do Quarteto.

Enquanto isso, Blair se dedica a seus inúmeros negócios e atividades privadas: o holding de investimentos Rirerush Ventures (com 130 funcionários), a assessoria ao banco Goldman Sachs (2,3 milhões de euros por ano) e outras entidades e grupos como a petroleira sul-coreana UI Energy, o fundo de investimentos Mubadala de Abu Dhabi, a família real do Kuwait e a sociedade de capital de risco Khosla Ventures (750 mil euros anuais), e a pronunciar-se em conferências por todo o mundo, com um cachê médio de 200 mil euros. Blair possui uma casa em Londres adquirida por quatro milhões de euros e uma casa de campo em Buckinghamshire de seis milhões de euros. O diário The Guardian estima sua fortuna pessoal em cerca de 23 milhões de euros.

As relações de Blair com a Autoridade Palestina e a OLP ficaram tensas por conta do ataque de comandos israelenses à chamada Frota de Paz, em 31 de maio do ano passado. A violência empregada contra as embarcações que tentavam chegar em Gaza, que resultaram na morte de dez ativistas turcos, fizeram com que Barack Obama questionasse em público o bloqueio imposto sobre a Faixa de Gaza. Blair se colocou do lado de Israel e justificou o bloqueio, apoiando uma “suavização” centrada no envio de mais variedades de produtos à população sitiada. Isso, segundo a OLP, freou o impulso da campanha internacional contra o bloqueio.

A crise definitiva veio há algumas semanas, quando os palestinos decidiram pedir à ONU que os reconhecesse como Estado. Tony Blair fez o possível para frear a iniciativa, somando-se a Israel e aos Estados Unidos. Fontes diplomáticas assinalam que ele também fomentou as divisões entre os países da União Europeia, para impedir que eles adotassem uma posição conjunta favorável à iniciativa palestina. “Blair é um diplomata israelense”, declarou Nabil Shaath, chefe da equipe de negociação palestina.

O comitê central da OLP chegou a cogitar pedir a demissão de Blair como representante do Quarteto, mas decidiu esperar a conclusão da petição diante da ONU. Enquanto isso, o jornal britânico “Daily Mail” e vários jornais israelenses anunciaram uma suposta relação sentimental entre Tony Balir e Ofra Strauss, uma das mulheres mais ricas de Israel. Apesar dos desmentidos por parte de Blair e Strauss, o assunto deteriorou ainda mais a imagem do mediador internacional no Oriente Próximo.

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