quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Portal do WikiLeaks publica milhares de telegramas sem proteger a identidade das fontes

Julian Assange
A organização de revelação de segredos WikiLeaks publicou nas últimas semanas mais de 130 mil telegramas diplomáticos americanos, nos quais não apagou o nome de informantes cuja segurança agora corre perigo, segundo o governo americano. Essa foi no passado uma das principais denúncias da Casa Branca e do Pentágono contra a organização dirigida por Julian Assange, a quem diversos altos funcionários dos EUA acusaram de "ter as mãos manchadas de sangue" porque deixou a descoberto fontes críticas para a inteligência e a diplomacia americanas.

Em muitos dos telegramas publicados agora se lê, junto ao nome do informante, a expressão "proteger rigorosamente". É o que acontece, por exemplo, em um telegrama datado de abril de 2008 na embaixada de Brasília, onde se cita um senador brasileiro que revela informação crítica sobre a formação de guerrilhas terroristas em seu país. Esse mesmo padrão de deixar o nome a descoberto é seguido em numerosos telegramas de embaixadas em Ancara, Amã ou Camberra, por exemplo.

No último mês de novembro, "El País" publicou, junto com outros veículos da mídia, a informação mais relevante de um vazamento de 250 mil informes diplomáticos americanos, da qual procedem esses novos documentos. Naquela cobertura, "El País" apagou os nomes dessas fontes, com a intenção de protegê-las e evitar represálias contra elas. O WikiLeaks, entretanto, publicou esses telegramas por sua conta e de forma paulatina, sem dar proteção aos informantes. Entre julho e agosto aumentou notavelmente o volume desses vazamentos.

Um juizado federal da Virgínia está investigando a procedência desses documentos secretos e ainda não apresentou acusações. O soldado Bradley Manning, detido no ano passado no Iraque, espera um julgamento militar por alta traição, acusado de ser a fonte desse vazamento e de outros documentos relativos às guerras do Iraque e do Afeganistão.

"A decisão de publicar os 133.877 telegramas foi tomada de acordo com o compromisso do WikiLeaks de maximizar o impacto e a informação ao alcance de todos", afirma a organização em um comunicado.

O trabalho de buscar nomes de fontes e apagá-los é custoso, e o WikiLeaks não o assumiu em seu primeiro grande vazamento, de 92 mil documentos da guerra do Afeganistão, em julho de 2010. Então, um porta-voz dos taleban anunciou que sua organização havia procurado nos documentos nomes de informantes e espiões e que estava elaborando uma lista com eles.

"O senhor Assange pode dizer o que quiser sobre o grande bem que ele e suas fontes estão fazendo, mas a verdade é que já é possível que tenham em suas mãos o sangue de algum jovem soldado ou alguma família afegã", disse então em entrevista coletiva o chefe do Estado-Maior conjunto, almirante Mike Mullen.

No segundo vazamento, de 400 mil telegramas do Iraque, em outubro, o WikiLeaks empregou um programa de informática de identificação e eliminação de nomes próprios nos telegramas, que operava de forma automática, o que dificultou notadamente a leitura de muitos deles. Enquanto isso, as relações entre Assange e um dos veículos que colaboraram com ele inicialmente, "The New York Times", se deterioraram notadamente por esse motivo.

Esse jornal se negou a publicar links (remissões) em seu site na web para as páginas do WikiLeaks, devido à identificação nelas de nomes próprios nos documentos sobre a guerra afegã. O WikiLeaks não incluiu o "New York Times" no grupo de veículos ao qual entregou os telegramas do Departamento de Estado em seu último lote de vazamentos.

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