domingo, 4 de setembro de 2011

Pelo fim do serviço militar obrigatório

Forças Armadas modernas são compostas por soldadas e soldados qualificados; são intensivas em capital humano e equipamentos

Militares brasileiros participam da ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro
Em plena segunda década do século 21, choca o anacronismo representado pela obrigatoriedade do serviço militar, relicário equivalente ao elixir do atraso que mantém vivo o patronato político brasileiro, o voto obrigatório. Entre os países onde o serviço é obrigatório, podemos pinçar Equador, Colômbia, Cuba, localidades do norte da África, Israel, Rússia e China. Essas nações têm de lidar com problemas internos, como guerras civis e estados de guerra permanentes, disputas de fronteira e projetos hegemônicos de superpotências.

Qual é o sentido de o Brasil pertencer a tal grupo de países? Em julho deste ano, o serviço obrigatório foi abolido na Alemanha, alinhando-a aos Estados Unidos, onde há um registro dos jovens aos 18 anos somente para uso em contingentes emergenciais.

O serviço obrigatório não existe, e nem mesmo há tal cadastro em boa parte dos países europeus, em vários da África subsaariana (incluindo a África do Sul) e da península Arábica, e tampouco na Austrália, na Índia e no Paquistão.

O Brasil enfrentará novos desafios, relacionados ao pré-sal, à atuação na ONU, à defesa dos recursos naturais, das fronteiras secas e da plataforma continental. Tal tarefa não demanda um contingente grande de pessoal desqualificado, mas um grupo de homens e mulheres qualificados e motivados, que disponham de salários e equipamentos adequados.

As Forças Armadas estão sucateadas. Os principais armamentos (aviões, blindados e navios) estão, em grande parte, inutilizados. Alguns exemplos: 132 dos 318 equipamentos da Marinha estão parados; dos 1.953 blindados do Exército, somente metade funciona. Por fim, a Força Aérea tem disponíveis 85 dos seus 208 caças.

Todo esse problema exige um plano urgente de recuperação. As Forças Armadas devem buscar eficiência com um projeto de profissionalização. Saltam aos olhos distorções como esta: nos EUA, há um oficial-general para cada 1.400 soldados, ao passo que aqui existe um para cada 971 homens.

Diante de quadro tão desalentador, qual seria a racionalidade do serviço obrigatório? O serviço militar seria um dos poucos momentos de socialização republicana dos cidadãos de todas as classes sociais no Brasil (se fosse estendido às mulheres). Mas tal papel poderia ser desempenhado com o serviço civil alternativo. Forças Armadas modernas são compostas por soldadas e soldados qualificados; são intensivas em capital humano e equipamentos, não em trabalho desqualificado.

Em 1910, nossa frota naval, em quantidade e qualidade, perdia somente para a britânica. Mas nossos marinheiros eram analfabetos e desqualificados. Ironicamente, João Cândido Felisberto, um deles, sabia como conduzir uma das naus com esmero. Mas isso foi apenas fruto do acaso.

O Brasil precisa de Forças Armadas modernas e profissionais, onde não prevaleçam Felisbertos, sucateamento e preceitos atávicos.

MARCOS FERNANDES G. DA SILVA é economista da Fundação Getulio Vargas, autor de "Ética e Economia", "Economia Política da Corrupção no Brasil" e "Formação Econômica do Brasil: Uma Reinterpretação Contemporânea". E-mail: marcos.fernandes@fgv.br

3 comentários:

  1. É incrível como no Brasil, todos se julgam especialistas em segurança pública e na área militar.
    Agora é um Economista, que só porque pertence a FGV, acha que tudo que fala é o correto, VERDADE ABSOLUTA.
    Seria melhor se ele ficasse só na análise econômica e deixasse a parte militar com quem entende de verdade.

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  2. Tem nada aver, quem foi que disse que os soldados brasileiros são desqualificados, isso é papinho de quem nunca servio as forças armadas, coisa de burques, querendo cortar gastos importantes, nossas forças podem estar sim sucateadas em algum ponto, mas olhando por outro lado, temos um dos melhores exércitos do mundo, temos os melhores guerreiros de selva do mundo e muito deles são soldados temporarios que entraram nas fileiras militares via alistamento militar.

    Temos uma boa Marinha, mesmo que nossos navios sejam antigos e velhos mas boa parte do equipamento é moderno, nossos marinheiros são bons e o Corpo de Fuzileiros Navais é um dos melhores do mundo, é tanto que soldados de outros países vem aprender a combater com Brasileiros inclusive americanos.

    Temos uma boa força aérea, é serio uma boa força aérea, mesmo que nossos aviões não sejam dos melhores mais nossos pilotos são bons, a Infantaria da Aeronáutica é uma das melhores do mundo e a maioria é composta por soldados temporarios...

    Eu sou completamente contra a esse tipo de comparação, alistamento profissional é para país de primeiro mundo, onde os soldados são soldados até se aposentar e tals, em um país como nosso o ideia ainda é o alistamento militar obrigatorio, além de patriotico muitos jovens aguardam aciosos o chamado do Exército, Marinha e Aeronautica para servir

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  3. O soldado comum no Brasil é desqualificado sim! O serviço militar obrigatório é péssimo, sem falar do treinamento. A maioria dos recrutas que passam pelo serviço obrigatório é incapaz de desempenhar um bom papel em uma guerra.

    Quem foi que disse que um exército profissional reduz gastos? Os gastos irão aumentar, isso...

    A Marinha Brasileira é um exemplo a ser seguida e a mesma caminha para profissionalização, uma pena. É possível ter um exército de conscritos descente, vide Suíça.

    Já aeronáutica tem bons pilotos, mecânicos... Mas e a sua infantaria? Péssima!!! A infantaria da aeronáutica não é uma das melhores nem aqui, nem na terra do João bobão.

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