quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Israel tenta driblar isolamento diante da transformação dos mapas do Oriente Médio


Não é desejável que Israel seja isolado do Oriente Médio. Mesmo que o Estado judaico esteja cometendo um erro histórico, inclusive para ele mesmo, ao continuar recusando aos palestinos o reconhecimento de um Estado independente, as relações que ele construiu ao longo das últimas décadas com seus vizinhos eram garantia de uma relativa estabilidade regional. Privado destas, Israel se tornaria um parceiro mais imprevisível e perigoso.
Nas Nações Unidas, não faltará o indefectível apoio de Washington. Mas Israel é um amigo que custa caro a Barack Obama, prestes a voltar atrás em seu compromisso a favor das “aspirações legítimas dos palestinos”, correndo o risco de apagar aquilo que lhe restava de confiança entre a opinião árabe e muçulmana. É também um aliado incômodo: Washington poderia ter passado sem as tensões entre o Estado judaico e as duas outras potências regionais próximas dos Estados Unidos, o Egito e a Turquia.
Os israelenses têm o costume de ignorar a constatação do isolamento crescente de seu país no cenário internacional, lembrando que ele sempre esteve assim, desde 1947. É verdadeiro e falso: em dez dias, os embaixadores de Israel em Ancara, no Cairo e em Amã foram obrigados a deixar apressadamente seu país de residência em razão da degradação das relações bilaterais.
Embora o alerta pareça ter passado na Jordânia, a disputa não foi resolvida com o Egito, e tem se agravado com a Turquia. Com seus vizinhos árabes, Israel fechou tratados de paz (respectivamente em 1994 e 1979) que enganavam: tratava-se de uma paz fria, entre os governos, e não entre os povos. As manifestações populares, em Amã e no Cairo, provam que os slogans da “primavera árabe” não poupam mais Israel.
Enquanto o Conselho supremo das Forças Armadas egípcias evita jogar lenha na fogueira, essa prudência não é regra na Turquia, onde o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, tem flertado com a diplomacia das canhoneiras. A Turquia se diz disposta a enviar seus navios de guerra para escoltar eventuais “barcos humanitários” para Gaza, e seus navios de exploração de gás para a costa do Chipre, se Nicósia confirmar sua intenção de explorar – com a cooperação de Israel – os recursos energéticos de sua zona econômica.
A tensão entre Israel e Turquia parece ter se concentrado na recusa de Israel de pedir desculpas pela morte, em maio de 2010, de nove passageiros turcos do barco Mavi-Marmara, que liderava a primeira “flotilha de Gaza”. Na verdade, a briga bilateral é mais antiga. O governo de Binyamin Netanyahu nunca admitiu que um aliado estratégico de Washington, que além de tudo é um membro importante da Otan, se voltasse para a Síria de Bashar al- Assad.
Portanto, é na chegada ao poder do AKP, partido islâmico-conservador de Erdogan, em 2002, que se devem procurar as raízes do afastamento progressivo entre a Turquia e Israel, o qual se alimenta do nacionalismo desconfiado que prevalece em Ancara, bem como em Jerusalém. Netanyahu não levou em conta conselhos do establishment militar israelense, que era partidário do pedido de desculpas à Turquia.
Netanyahu não quis perder o apoio de seu ultranacionalista ministro das relações exteriores, Avigdor Lieberman. Essa preocupação de política interna poderia ter efeitos nefastos. Pois a Turquia, ao mesmo tempo em que deixa seu ex-aliado sírio, se esforça para fazer uma nova parceria com um Egito em ebulição.
Considerando os quatro séculos de dominação do Império Otomano nessa parte do mundo, parece improvável que uma nova hegemonia turca seja recebida com entusiasmo. No entanto, Erdogan, ao se fazer de arauto da causa dos palestinos no momento em que Israel tenta impedir o reconhecimento de seu Estado, está atiçando as brasas de uma hostilidade anti-israelense latente.
Os militares egípcios estão preocupados em preservar a coexistência com o Estado judaico. Mas à beira do Nilo há quem peça por uma “revisão” do tratado de paz e pelo fim das entregas de gás egípcio para Israel. Os dirigentes israelenses não esperaram a viagem de Erdogan para reavaliar suas alianças. Israel está fortalecendo sua cooperação, sobretudo militar, com a Grécia, e econômica com Chipre.
Ciente, apesar de tudo, de seu isolamento, o Estado judaico está procurando novos parceiros, podendo até olhar mais longe, para a Romênia, a Bulgária, a República Tcheca e a Polônia. A deterioração das relações de Israel com a Turquia e o Egito preocupa os Estados Unidos. Essa tensão regional, tendo como pano de fundo a “primavera árabe”, chega em um “momento impróprio”, ressaltou a secretária de Estado, Hillary Clinton. Mas as declarações marciais às vezes são uma cortina de fumaça: a Turquia aceitou receber, em seu território, um radar da Otan destinado a detectar os mísseis iranianos dirigidos contra a Europa e Israel. Visto o estado de suas relações bilaterais, é uma maneira de “manter a porta aberta” entre os dois países, como sugeriu Clinton.

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