quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CIA exige censura de trechos de livro sobre os ataques de 11 de Setembro

Memorial com nomes das vítimas do atentado de 11 de setembro, em Nova York
Em um episódio que equivale a uma luta para determinar quem escreverá a história dos ataques de 11 de setembro de 2001 e das suas consequências, a Agência Central de Inteligência (CIA) está exigindo que sejam expurgados vários trechos do livro de memórias de um ex-agente do Departamento Federal de Investigação (FBI) que passou anos próximo ao centro da batalha contra a Al Qaeda.

O agente, Ali H. Soufan, argumenta no seu livro que a CIA desperdiçou uma chance de impedir o complô terrorista ao negar ao FBI informações sobre dois futuros sequestradores do 11 de setembro que moravam em San Diego, na Califórnia, segundo várias pessoas que leram o manuscrito. E ele fornece uma narrativa detalhada e em primeira mão de como a CIA passou a adotar um tratamento brutal de prisioneiros durante os seus interrogatórios, afirmando que os métodos bárbaros utilizados pela agência contra o seu primeiro detento importante, Abu Zubaydah, foram desnecessários e contraproducentes.

Nenhuma dessas críticas à CIA é novidade. De fato, algumas das informações que a agência argumenta que são sigilosas, segundo as duas pessoas que viram a correspondência trocada entre o FBI e a CIA, foram reveladas em inquéritos parlamentares abertos, no relatório da comissão nacional sobre o 11 de setembro, e até mesmo nas memórias de 2007 do ex-diretor da CIA, George J. Tenet.

Soufan, um agente de contraterrorismo que fala árabe e que desempenhou um papel fundamental na maior parte das investigações mais importantes relativas ao terrorismo de 1997 a 2005, disse aos seus colegas que acredita que o expurgo dos trechos do seu livro não tem como objetivo proteger a segurança nacional, mas sim impedi-lo de narrar episódios que, segundo ele, prejudicam a imagem da CIA.

Parece difícil explicar, sob o ponto de vista de questões de segurança, a exigência da CIA de que alguns dos vários trechos do livro de Soufan, “The Black Banners: The Inside Story of 9/11 and the War Against al-Qaida” (“Os Bandeiras Negras: A História Interna do 11 de Setembro e da Guerra Contra a Al Qaeda”), sejam censurados.

Entre eles, segundo as pessoas que viram a correspondência, há uma frase do depoimento de Soufan em 2009 a uma comissão de inquérito do senado, que está disponível a todos na Internet, tanto em vídeo quanto em texto transcrito. Também é exigida a censura à palavra “estação”, usada para descrever os escritórios da CIA no exterior, um jargão que é comum há décadas.

A agência removeu os pronomes “eu”, “me” e “mim” de um capítulo no qual Soufan descreve o seu papel amplamente divulgado no interrogatório de Zubaydah, um importante facilitador terrorista e chefe de campos de treinamento. E autoridades da agência de inteligência censuraram referências ao fato de uma foto de passaporte de Khalid al-Mihdhar, um dos sequestradores do 11 de setembro, que mais tarde moraria em San Diego, ter sido enviada à CIA em janeiro de 2000 – um episódio descrito tanto no relatório da comissão do 11 de setembro quanto no livro de Tenet.

Em uma correspondência enviada em 19 de agosto à conselheira geral do FBI, Valerie E. Caproni, um advogado de Soufan, David N. Kelley, disse que “fontes confiáveis contaram a Soufan que a CIA decidiu que o livro dele não deveria ser publicado porque a obra seria embaraçosa para a agência”.

Em uma declaração, Soufan classificou a censura a trechos do seu livro pela CIA de “ridícula”, mas disse acreditar que acabará vencendo essa luta para restaurar a edição original da obra.

Ele acredita que as autoridades da área de contraterrorismo têm a obrigação de enfrentar de frente “os episódios nos quais nós cometemos erros e prejudicamos o povo estadunidense”. Ele acrescentou: “O fato de certas pessoas estarem se recusando a encarar erros passados me entristece”.

Jennifer Youngblood, uma porta-voz da CIA, afirmou: “A insinuação de que a Agência Central de Inteligência solicitou que essa publicação fosse editada por não gostar do conteúdo dela é ridícula. O processo de revisão de pré-publicação pela CIA se concentra unicamente em determinar se as informações são sigilosas ou não”.

Ela observou que, segundo a lei, “o simples fato de algo ser de domínio público não significa que tenha sido oficialmente divulgado pelo governo ou perdido a sua classificação oficial de sigilo”.

Michael P. Kortan, um porta-voz do FBI, recusou-se a tecer comentários sobre o assunto.

O livro, escrito em parceria com Daniel Freedman, um colega de Soufan na companhia de segurança dele em Nova York, deverá chegar às livrarias no dia 12 de setembro. Ao se deparar com um prazo nesta semana, a editora, W.W. Norton and Co., decidiu manter o plano de lançar uma primeira edição na qual os trechos censurados da CIA estarão ocultos por tarjas pretas.

Se Soufan for vitorioso nas negociações ou em uma batalha na justiça no sentido de publicar o material censurado, a Norton lançará uma versão não editada, disse o presidente da editora, Drake McFeely.

“Eu considero ultrajante a censura imposta pela CIA”, declarou McFeely.

Mas ele observou que os trechos censurados estão concentrados em certos capítulos e que “o argumento central contido no livro é divulgado claramente, apesar da censura”.

O lançamento frequente de livros de memórias de membros do governo Bush tem feito com que prossiga um debate a respeito dos fatos relativos à não prevenção dos atentados de 11 de setembro de 2001 e às táticas antiterroristas que se seguiram àqueles ataques. Nas memórias do ex-vice-presidente Dick Cheney, que deverá ser lançada na semana que vem, ele afirma, referindo-se aos interrogatórios brutais, que “as técnicas funcionaram”.

Um livro de Jose A. Rodriguez Jr., um ex-agente graduado da CIA, que deverá ser lançado em maio, deverá apresentar uma versão bem mais positiva do que a de Soufan dos interrogatórios violentos conduzidos pela agência, conforme fica evidente no título da obra: “Hard Measures: How Aggressive CIA Actions After 9/11 Saved American Lives” (“Medidas Duras: Como as Ações Agressivas da CIA após o 11 de Setembro Salvaram Vidas Norte-americanas”).

Funcionários do governo dos Estados Unidos que têm autorização para lidar com material sigiloso estão sujeitos a exigência de que os seus livros sejam examinados antes da publicação, para determinar se os textos trazem informações sigilosas. Mas, como as decisões sobre o que deveria ter classificação de sigilo são altamente subjetivas, o processo de revisão de pré-publicação se transforma com frequência em uma verdadeira batalha. Vários ex-espiões já foram à justiça para lutar contra a censura de trechos dos seus livros, e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos gastou quase US$ 50 ml no ano passado para comprar e destruir toda a primeira edição de um livro escrito por um oficial de inteligência, já que, segundo o departamento, a obra expunha segredos de Estado.

O programa de interrogatórios da CIA provocou divisões dentro da CIA e do FBI, cujo diretor, Robert S. Mueller III, ordenou aos seus funcionários que deixassem de participar do programa depois que Soufan e outros agentes se opuseram ao uso de métodos de coerção física. Mas alguns funcionários da CIA também se opuseram ao uso de métodos brutais, incluindo o “waterboarding” (afogamento controlado de um prisioneiro que se encontra amarrado a uma mesa ou prancha), e foram as reclamações desses funcionários junto ao inspetor geral da agência que acabaram provocando a suspensão do programa.

O livro “Black Banners” analisa as origens e o crescimento da Al Qaeda e descreve o papel desempenhado por Soufan, 40, um libanês-americano, nas investigações dos atentados a bomba contra embaixadas dos Estados Unidos no leste da África, em 1998, e do ataque contra o contratorpedeiro da marinha norte-americana Cole, em 2000, dos atentados de 11 de setembro de 2001 e de casos referentes à atual campanha de combate ao terrorismo.

Desde maio deste ano, funcionários do FBI revisaram o manuscrito de 600 páginas de Soufan, pedindo que o autor apresentasse provas de que dezenas de nomes e fatos narrados não tinham caráter sigiloso. Soufan e Freedman concordaram em alterar ou substituir alguns nomes, e em 12 de julho o departamento anunciou a Soufan que a revisão havia sido concluída.

No entanto, o FBI repassou uma cópia do livro à CIA. Os revisores da agência de inteligência responderam neste mês com dois documentos enviados por fax, um de 78 páginas e o outro de 103, com uma lista dos trechos que precisariam ser expurgados.

2 comentários:

  1. E AINDA TEM GENTE CRITICANDO A DITADURA NO BRASIL E SEUS MÉTODOS DE INTERROGATÓRIOS...PQ NÃO FALAM HJ DESTES MEIOS QUE O MUNDO INTEIRO JÁ TEM CONHECIMENTO ? OS USA ESTÃO ACIMA DAS LEIS ? SÃO DEUSES NA FACE DA TERRA ?

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  2. Eles têm o poder. Por isso que nada os acontece. Agora o Irã não pode condenar uma adultera à morte porque tramou a morte do marido, que o Irã está a desrespeitar os direitos humano.

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