sexta-feira, 23 de setembro de 2011

China está furiosa devido à mais recente venda de armamentos dos Estados Unidos a Taiwan


Caça F-16A/B Block 20 da ROCAF

A confirmação da venda de um pacote de armamentos no valor de US$ 5,8 bilhões pelos Estados Unidos a Taiwan provocou uma reação furiosa da China na quinta-feira (22/09). Editoriais de jornais chineses acusaram o governo Obama de traição e o Ministério das Relações Exteriores da China alertou que a medida poderá provocar graves danos à relação entre os dois países. O embaixador e o adido militar dos Estados Unidos foram convocados para prestar explicações na noite de quarta-feira, em um episódio que a mídia estatal chinesa descreveu como um “protesto enérgico”. A rede de notícias oficial Xinhua classificou a decisão de “uma traição lamentável à confiança na área de relações internacionais”.

Mas a divulgação do acordo, confirmado por autoridades da Casa Branca na quarta-feira, parece ter provocado uma série familiar de respostas por parte de Pequim, que há muito considera as vendas de armamentos à ilha de governo autônomo uma afronta à sua soberania e um ataque humilhante à sua dignidade.

“Isso é uma espécie de ritual, e todas as partes envolvidas conhecem os seus papéis”, explica Yawei Liu, diretor do Programa para a China do Centro Carter, em Atlanta, no Estado da Geórgia. “Eles seguem um roteiro e depois esperam as coisas esfriarem, de forma que possam retomar as relações normais”.

Diplomatas e analistas afirmam que o governo chinês reconhece que o acordo poderia ter sido pior. Afinal, Taiwan pediu uma nova remessa de 66 aviões de caça F-16. Mas em vez disso o governo taiwanês recebeu um pacote de atualização de aeronaves no valor de US$ 5,3 bilhões para melhorar a capacidade operacional de um conjunto de caças antigos, que foram adquiridos em 1992.

O acordo inclui também sistemas avançados de radar, bombas eletronicamente guiadas e o treinamento contínuo de pilotos de Taiwan nos Estados Unidos. Autoridades do governo norte-americano disseram que o pedido original de novos caças F-16, que foi feito pela primeira vez em 2007, foi simplesmente suspenso por algum tempo e poderá ser reavaliado mais tarde.

Embora a reação oficial ao acordo ainda não tenha sido presenciada na sua totalidade , especialistas dizem que indicações preliminares sugerem que os líderes chineses estão calibrando cuidadosamente uma resposta de forma a manifestar desagrado em relação à Casa Branca e expressar a fúria do povo chinês, mantendo, no entanto, as relações entre as duas maiores economias do mundo praticamente intactas.

“Essa venda terá um impacto negativo na opinião pública chinesa em relação aos Estados Unidos, mas no fim das contas isso provavelmente não afetará o relacionamento bilateral, especialmente no que diz respeito ao comércio e aos negócios”, afirma Shi Yinhong, diretor do Centro de Estudos Norte-americanos da Universidade Renmin, em Pequim.

Assim como ocorre em Washington, onde o presidente Barack Obama está enfrentando uma campanha pela reeleição no ano que vem e acusações de ter “capitulado diante da China comunista” - conforme insinuou nesta semana o senador John Cornyn, um republicano do Texas –, estes são também tempos difíceis para Pequim. Líderes partidários estão engajados na tensa dança política da sucessão, e eles mostram-se ansiosos por evitar qualquer crise autoimposta, especialmente neste momento em que o vice-presidente Xi Jinping, que é um forte candidato a tornar-se presidente do país e chefe do Partido Comunista, se prepara para visitar os Estados Unidos.

“Em um momento como este, ninguém quer provocar um grande fracasso diplomático que poderia ter uma má repercussão para a China”, diz Clayton Dube, diretor do Instituto Estados Unidos-China da Universidade do Sul da Califórnia.


Pequim reconhece também que o acordo deverá beneficiar o presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, cujo mandato tem sido marcado por um aquecimento contínuo das relações com a China continental. Embora a China considere Taiwan uma província renegada que o país perdeu na guerra civil há mais de seis décadas, o Partido Comunista Chinês está ansioso por ver Ma reeleito na esperança de que as políticas dele possam um dia conduzir à reunificação.

Ainda que as forças armadas da China, que passam por um processo de rápida modernização, sejam superiores às de Taiwan, este último acordo de armamentos, assim como o anterior a ele, se constitui em um grave motivo de irritação para os líderes chineses, que precisam encontrar um equilíbrio entre a política de diplomacia com Taiwan e com os Estados Unidos, levando em consideração os sentimentos do público interno, especialmente os militares e um contingente barulhento de jovens nacionalistas que expressam os seus pontos de vista na Internet.

Na quinta-feira, a versão online do jornal “Rénmín Rìbào” (“Diário do Povo”), o principal órgão de notícias do Partido Comunista, publicou uma série de artigos e comentários manifestando a indignação sentida por muitos chineses. Em um artigo, o general Luo Youan, vice-secretário-geral da Sociedade de Ciência Militar, afirmou que a China não deveria retaliar apenas com palavras.

“Os Estados Unidos estão trapaceando e fazendo o povo chinês de bobo, e a China deveria aprender com a Rússia e vingar-se”, afirmou ele, referindo-se a um impasse entre a Rússia e os Estados Unidos na Europa em 2008 que levou os russos a deslocar alguns mísseis nucleares de curto alcance para mais perto da Europa Ocidental.

Entretanto, a maioria dos especialistas diz que é provável que o governo venha a ignorar essas sugestões. Eles observam que, em 2010, o governo Obama anunciou um pacote de armamentos ainda maior para Taiwan no valor de US$ 6,4 bilhões. O acordo, que incluiu helicópteros Black Hawk, mísseis e navios caça-minas, provocou ameaças de retaliação econômica contra companhias norte-americanas que fabricaram as armas e os helicópteros. Porém, no fim das contas, o estrago se limitou em grande parte a uma suspensão de cooperação militar que durou quase um ano.

Mesmo assim, sob o ponto de vista de Pequim, ainda que esse pacote mais recente pudesse ter sido mais formidável, a continuidade das vendas de armamentos para Taiwan se constitui em um ataque traiçoeiro.

“Nós sabemos que o governo Obama não tem como suspender completamente as vendas de armamentos, e nós percebemos que os Estados Unidos manifestaram comedimento desta vez, mas, sob a perspectiva chinesa, o fato de sermos esfaqueados pelas costas uma ou duas vezes não faz uma grande diferença”, afirma Da Wei, diretor do Departamento de Estudos Norte-americanos do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China.

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