segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Amorim vetou diálogo com dissidentes cubanos

Chanceler proibiu que Embaixada do Brasil em Washington mantivesse contato com grupos de exilados cubanos


Folha divulga 636 telegramas confidenciais trocados entre o Itamaraty e embaixada em Havana


Celso Amorim

A gestão do então chanceler do governo Itamar Franco (1992-1994), Celso Amorim, hoje ministro da Defesa, proibiu que a Embaixada do Brasil em Washington mantivesse contato com exilados cubanos e aumentou as grades da embaixada em Havana para impedir invasões. Além disso, expulsou quatro cubanos que invadiram o prédio -dois deles acabaram presos pela polícia do regime.

É o que revelam 636 telegramas confidenciais trocados entre o Itamaraty e a Embaixada do Brasil em Havana, obtidos pela Folha após pedido de desclassificação feito ao Itamaraty e que a partir de hoje são divulgados no Folha Transparência.

Procurado pela reportagem no início da semana passada, Amorim informou na tarde de sexta-feira, pela assessoria, que "o Ministério da Defesa não comentará as informações relativas aos documentos em questão".

Em 1994, o embaixador em Washington, Paulo Tarso Flecha de Lima, pediu autorização ao Itamaraty para participar de um café da manhã em Miami com "entidades representativas da comunidade de tendência moderada".
O objetivo do grupo era "marcar a presença" à margem da Cúpula das Américas, que ocorreria em Miami.

O Itamaraty vetou o encontro, o que deixou o embaixador contrariado. Em telegrama, ele respondeu: "Na realidade, sempre fez parte da tradição do Itamaraty procurar conversar, quando possível, com todos os segmentos envolvidos em confrontos políticos em países ou regiões que, de alguma forma, são importantes para o Brasil".

Os telegramas evidenciam a baixa disposição do Itamaraty, no período 1993-1994, em manter relações com críticos da ditadura de Fidel Castro. A ponto de expulsar quatro deles da embaixada em Havana, em 1993.

ABRIGO
Como parte de uma onda de invasões a prédios de embaixadas em Havana, quatro cubanos tentaram sair de Cuba buscando abrigo na Embaixada do Brasil.

Eles tiveram que deixar o prédio no mesmo dia -os documentos não registram a forma como foram convencidos a sair nem seus nomes. Meses após a invasão, a embaixada brasileira em Cuba pediu autorização para "aumentar e reforçar" a altura das cercas de arame.

Entre 1993 e 1994, invasões semelhantes ocorreram em outras embaixadas na capital cubana. A da Bélgica abrigou mais de 140 cubanos que pretendiam deixar Cuba. O episódio da invasão ao prédio não é detalhado nos telegramas confidenciais trocados entre Brasília e Havana. As informações do que ocorreu foram localizadas pela Folha nas comunicações do consulado em Miami.

A expulsão dos cubanos repercutiu entre compatriotas exilados, e 75 fizeram um protesto na frente do consulado da cidade norte-americana.
Cobrada sobre a expulsão dos cubanos, a chefe da missão na cidade, Vera Barrouin, queixou-se:

"A imprensa de Miami tem sistematicamente omitido parte de minhas declarações relativas ao fato de que os postulantes de asilo na embaixada [...] declararam não exercer atividades políticas, fator fundamental para que a eles se tivesse aplicado a Convenção de Caracas".

Vera também acionou a polícia e a prefeitura para impedir que um novo protesto fosse realizado perto de um festival de música brasileira -o protesto acabou desmarcado, após a notícia de que os dois cubanos expulsos pelo Brasil tinham sido soltos.

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