O Reino Unido, que tantas vezes criticou o Irã por reprimir manifestantes, mostrou-se incapaz de responder a protestos populares sem recorrer à violência.
A alfinetada é de Ali Ahani, vice-chanceler do Irã responsável por Europa e América, que foi recebido em Brasília na última terça-feira por representantes do governo.
Em entrevista à Folha, ele negou o esfriamento das relações com o Brasil sob Dilma Rousseff e admitiu implicitamente que Teerã financia mesquitas brasileiras.Policiais de londres utilizam mascaras anti-gás |
Ali Ahani - O Reino Unido adotou várias vezes posições sobre o Irã que foram injustas. Os britânicos sempre quiseram nos dar lições sobre como respeitar os direitos humanos. E agora são eles que estão às voltas com protestos. Vimos na TV imagens de muita violência, é preocupante. Pedimos ao Reino Unido que aja com moderação.
Por que o Irã apoia os protestos árabes mas se posiciona a favor do governo na Síria?
No Egito e no Bahrein, por exemplo, os protestos foram pacíficos e acabaram reprimidos com violência. Na Síria as manifestações são agressivas. Mais de 1.500 policiais foram mortos. Sabemos que os elementos por trás dos protestos recebem ajuda externa. É nítida a intervenção do Mossad [serviço secreto israelense].
O voto do Brasil na ONU condenando abusos do Irã é um sinal de esfriamento bilateral?
Não sentimos nenhuma mudança de clima nas conversas que temos com o governo brasileiro. Já transmitimos nossas ressalvas ao voto do Brasil [no Conselho de Direitos Humanos da ONU] de forma honesta e franca. Divergências acontecem até entre familiares.
O que responde às alegações de que o Irã propaga o islã no Brasil?
O Irã é um país islâmico, e há receptividade no Brasil ao conhecimento sobre o islã. Não deveria existir nenhuma preocupação em relação a isso num contexto democrático no qual cada um pode escolher suas crenças.
O Irã fornece ajuda financeira a mesquitas no Brasil?
Não tenho informações precisas a esse respeito. Mas caso exista essa ajuda, ela é transparente e ocorre no âmbito da cooperação cultural. A colaboração com o Brasil abrange as áreas acadêmica, científica, cultural etc.
Como anda a reaproximação do Irã com a Argentina, afetadas pelos atentados de Buenos Aires nos anos 90?
Há obstáculos, por parte de autoridades jurídicas argentinas, para impedir que a realidade venha à tona. Desde o início acusaram diplomatas iranianos, o que é infundado. Neste ano, condenamos a tragédia e apresentamos nossa solidariedade às vítimas. Também nos oferecemos para cooperar na busca pelos culpados. Esse assunto prejudicou nossas relações com a Argentina, hoje o único país da região em que estamos representados em nível de encarregado de negócios e não de embaixador. Em breve voltaremos a ter embaixadores.
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