quinta-feira, 2 de junho de 2011

A década em que Bin Laden afundou Estados

Visitando o Oriente Médio na semana passada, e então voltando para Washington, eu fiquei com uma impressão predominante: Bin Laden realmente derrotou todos nós.

Eu falo em particular sobre os Estados árabes, os Estados Unidos e Israel –todos com buracos maiores do que nunca dos quais precisam sair graças à década de Bin Laden, 2001 a 2011, e todos com menos autoridade política do que nunca para tomar as decisões difíceis necessárias para sair dos buracos.

Vamos começar pelos árabes. Em 2001, Osama Bin Laden atacou o World Trade Center e o Pentágono. Poucos meses depois, em 2002, a ONU emitiu o “Relatório de Desenvolvimento Humano Árabe”, que descrevia as patologias que produziram a Al Qaeda e prescrevia os remédios para curá-las. O relatório, escrito por especialistas árabes, dizia que os países árabes sofriam de três déficits imensos: um déficit de liberdade e respeito pelos direitos humanos como bases de boa governança, um déficit de conhecimento na forma de um ensino decente e um déficit de empoderamento das mulheres.

Em vez dos Estados Unidos e do mundo árabe transformarem o relatório em sua agenda conjunta pós-Bin Laden, eles a ignoraram. Washington basicamente deu aos ditadores árabes carta branca para manterem seu jugo sobre suas populações – desde que esses líderes árabes prendessem, interrogassem e mantivessem os militantes islâmicos em suas sociedades e os eliminassem como uma ameaça para nós.

A intenção não era ser uma carta branca, realmente tivemos um problema com jihadistas e realmente não era a intenção desistir de nossa agenda de liberdade –mas os líderes árabes, como Hosni Mubarak do Egito, sentiram onde estavam nossas prioridades. Foi o motivo para Mubarak ter mantido preso o único egípcio que ousou concorrer contra ele para presidente em sua última eleição, e ele e outros autocratas árabes buscaram nomear seus filhos como sucessores.

Enquanto os líderes árabes sufocavam ainda mais suas populações, surgiram o Facebook, o Twitter e os celulares com câmeras, que permitiram a essas pessoas compartilharem suas queixas, organizar rebeliões, perder seu medo e expor seus líderes: “Sorria, sua brutalidade está na Câmera Indiscreta”.

Essa é uma boa notícia. A notícia problemática é que devido à década Bin Laden, esses países árabes recém-libertados estão em um buraco ainda mais profundo em termos de desenvolvimento econômico, crescimento da população e educação. Todos eles têm um enorme atraso para tirar, que exigirá reformas da educação e econômicas dolorosas.

Mas como é possível perceber rapidamente em uma visita ao Cairo, no momento o Egito se encontra em um vácuo político e está tendendo para uma economia mais populista, menos voltada para o mercado. Mas em troca de injeções de dinheiro, o Egito provavelmente terá que aceitar algum tipo de programa de austeridade como do FMI e demitir funcionários públicos –em um momento em que o desemprego e as expectativas estão nas alturas. No momento, nenhum partido ou líder egípcio tem a autoridade necessária para implantar essas reformas.

Nos Estados Unidos, o presidente George W. Bush usou o mergulho econômico pós-11 de Setembro para aprovar uma segunda redução de impostos com a qual não podíamos arcar. Ele então aprovou um programa de fornecimento de medicamentos prescritos pelo Medicare (o seguro-saúde público para idosos e inválidos) que também não podíamos arcar, e deu início a duas guerras após o 11 de Setembro sem aumentar os impostos para pagar por elas –tudo isso em um momento em que deveríamos estar economizando dinheiro para pagar pela aposentadoria iminente da geração “baby-boomer” (pós-Segunda Guerra Mundial). Dessa forma, o buraco fiscal de nosso país está mais profundo do que nunca e republicanos e democratas –em vez de se unirem e gerarem a autoridade política necessária para que tomemos nosso remédio amargo e compensemos nossa gastança perdulária– estão apenas satanizando uns aos outros.

Como o teórico político israelense Yaron Ezrahi aponta, governança se baseia na autoridade “que é gerada por uma de duas formas –por confiança ou por medo. Ambas as fontes de autoridade estão se desintegrando no momento”. Os líderes árabes governavam pelo medo, mas o povo não teme mais. E as democracias ocidentais governavam pela confiança, mas suas sociedades estão mais divididas do que nunca.

Israel tem o mesmo problema. A combinação da decisão temerária de Iasser Arafat de iniciar a segunda intifada em vez de aceitar o plano de paz de dois Estados do presidente Bill Clinton, seguida pela ascensão de Bin Laden, que desviou a atenção dos Estados Unidos de uma busca enérgica do processo de paz, deu aos israelenses carta branca para expandirem os assentamentos na Cisjordânia. Assim, por ora, tanto o primeiro-ministro Bibi Netanyahu e Bin Laden estão vencendo: a curto prazo, Bibi manterá a Cisjordânia, com 300 mil judeus ocupando 2,4 milhões de palestinos. E a longo prazo, Bin Laden ajudará a destruir Israel como uma democracia judaica.

Por todos esses motivos, eu me vejo fazendo a mesma pergunta no Cairo, Washington e Jerusalém: “Quem dirá para as pessoas?” Quem dirá para as pessoas quão profundo é o buraco que Bin Laden ajudou cada um de nós a cavar na última década –e quem dirá para as pessoas quão difícil e quão necessário será sair dele?

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