terça-feira, 24 de maio de 2011

Índia e Paquistão nutrem uma obsessão mútua

Desconfiança força Islamabad a manter exército de 500 mil homens e arsenal nuclear, às custas da educação e do desenvolvimento

Menina paquistanesa come melão em mercado de Abbottabad, Paquistão, cidade onde Osama bin Laden foi capturado e morto por forças dos Estados Unidos
A descoberta de Osama bin Laden no Paquistão deu um novo argumento à Índia, que acusa seu vizinho de estar por trás dos terroristas que periodicamente praticam atentados em seu território. O posterior vazamento por Nova Déli de uma lista de suspeitos, que entregou a Islamabad em março, adicionou lenha à fogueira. Os paquistaneses não perdem o sono por causa dessa inimizade, e sim pela falta de eletricidade e a inflação. Mas sua política externa e de segurança se baseia na obsessão pela Índia.

"A Índia se regozija com nossos problemas. Cada vez que o Paquistão se encontra em situação de fragilidade ou comete um erro, sua política é aproveitar-se", afirma Mosharraf Zaidi, consultor internacional e participante de um esforço de diplomacia paralelo com o país vizinho. Zaidi dá como exemplo que, depois da operação americana que matou Bin Laden, a porta-voz das Relações Exteriores indiana "tuitou todos os artigos que destacavam os problemas do Paquistão". Em sua opinião, isso "aumenta a desconfiança recíproca e dificulta a aproximação".

Os dois países tentavam retomar o processo de paz interrompido pela Índia depois dos atentados de Mumbai em 2008, que deixaram 166 mortos e pistas que apontavam para o Paquistão. A descoberta de Bin Laden frustrou a tentativa. O chefe do exército indiano disse a um jornalista que os comandos indianos também eram capazes de levar a cabo uma ação semelhante. Um indignado responsável paquistanês replicou que "a reação não levaria horas, mas minutos".

Ayesha Siddiqa, autora de vários livros sobre as forças armadas, concorda em que as relações serão mais problemáticas em curto prazo, mas não demonstra tanta desconfiança da Índia. "Seu ministro das Relações Exteriores teve uma reunião com a imprensa na qual advertiu que não se fantasiasse com a possibilidade de uma ação semelhante. A imprensa indiana está dominada pelos falcões, mas o governo é mais responsável. Espero que não se aproveite da situação", declara.

No entanto, na última sexta-feira a mídia desse país publicou a lista de 50 suspeitos de terrorismo que Nova Déli entregou a Islamabad em março passado para sua extradição. Entre os nomes estão, além do cérebro do atentado de Mumbai, cinco comandantes do exército paquistanês, dois deles na ativa. Embora a acusação não seja nova, o momento representa uma afronta para os militares que se encontram no ponto de mira por causa de sua atuação no caso Bin Laden.

"As relações entre a Índia e o Paquistão são uma aberração que desafia a afinidade cultural", afirma Siddiqa. Para a autora, assim como para muitos paquistaneses, é um país muito semelhante ao seu. "No nível individual não nos sentimos estrangeiros. No entanto, no nível oficial existem muitas dificuldades", explica. Na realidade são poucos os paquistaneses que cruzam a fronteira (menos ainda os indianos), na sua maioria membros de famílias divididas.

A desconfiança recíproca parte do trauma da divisão. A Caxemira está na origem de duas das três guerras que os dois países travaram desde então, em 1947 e 1965 (outra, em 1971, foi por causa do Paquistão Oriental, que se transformou em Bangladesh). Embora reconheça que "adiciona lenha à fogueira", para Siddiqa essa disputa da região entre os dois países "não é mais a causa, senão o efeito de como nos sentimos em relação ao outro".

"Todos os governos democráticos quiseram investir em melhores relações com a Índia", explica Zaidi. E não avançar nesse terreno está custando muito caro ao Paquistão, porque significa manter um exército de 500 mil homens e um arsenal nuclear, às custas da educação e do desenvolvimento das infraestruturas. Do mesmo modo, toda vez que esses esforços avançam, um incidente (Kargil em 1999, Mumbai em 2008) os descarrila. "A violência entre Índia e Paquistão reduz o espaço para negociar", admite Zaidi.

Para Siddiqa, não há dúvida de que o exército é um empecilho a essa aproximação. Sua doutrina se fundamenta na inimizade com a Índia: desde o enorme gasto com defesa (que, incluindo as armas nucleares, beira os 40% do orçamento nacional) até sua busca por profundidade estratégica no Afeganistão.

"Kayani não está interessado em avançar", diz, referindo-se ao chefe do estado-maior, general Ashfak Pervez Kayani, "porque não suporta a Índia." Os militares, como o resto dos paquistaneses, cresceram com essa narrativa. "Desde a escola nossos planos de estudos transmitem a imagem da Índia como inimigo", acrescenta.

"Os meninos indianos também não crescem com a ideia de que o Paquistão é um anjo", objeta Zaidi, por sua vez. "Nem a mídia indiana pinta uma imagem positiva do Paquistão. Os sentimentos são mútuos."

Além disso, na medida em que a comunidade internacional aumenta sua simpatia pela Índia, perde o interesse pelo Paquistão.

6 comentários:

  1. no futuro,a india talves se torne a segunda economia do mundo depois da china(talves),mas o arsenal nuclear paquistanes que e MAIOR que o indiano(mas nao mais eficaz) por si so ja praticamente torna impossivel uma guerra entre os dois paises porque isso significaria aniquilacao mutua(o mesmo ocorreu com os eua e urss durante a guerra fria).

    entretanto a india por ter quase 1,3 bilhao de habitantes,ter investido em educacao e tecnologias proprias aumenta a cada dia a diferenca economica e militar sobre o paquistao,e isso sem contar o grande problema paquistanes:a pouca profundidade estrategica.

    para diminuir esses problemas os paquistaneses se aproxima cada vez mais da futura maior potencia do mundo,a china e sem duvida no futuro os chineses terao nao somente bases navais como aereas e terrestres nao so no paquistao como em varias partes do mundo especialmente na africa.

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  2. Você disse duas meias verdades:

    Quem disse que o arsenal atômico indiano goza de mais tecnologia que o paquistanês?

    E quem disse que a Índia vem investindo em educação?

    Um país que ao invés de diminuir a pobreza, faz é aumentar, não pode estar investindo em melhorias para o seu povo.

    Enquanto não acabar o sistema de castas na Índia, esse país nunca estará muito à frente do Paquistão.

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  3. Osama Bin Laden é uma farsa Americana para defender seus próprios intereses

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  4. Senhor anonimo,

    O sistema de casta pode até existir, mas o governo tem investido de forma a tentar acabar com ele, tanto é que a muitos anos o governo nao reconhece o sistema de casta.

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  5. Colega, então a senhora poderia me explicar por que os pilotos da Força Aérea da Índia pilotam as aeronaves daquele país sem ser por mérito e sim porque são de 'castas graúdas'?

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  6. questoes culturais,ate 2050 nao existriao mais(sera?).

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