Uma aeronave Boeing E-3 Sentry da OTAN; O Brasão de Armas é de Luxemburgo |
Os aviões de guerra americanos mal tinham deixado os céus da Líbia quando os protestos começaram. “A Otan nos deixou na mão”, disse o chefe militar rebelde Abdul Fattah Younis. Enquanto os rebeldes se retiravam da cidade de Brega, diante do ataque pesado das tropas de Gaddafi, não havia nenhum avião da Otan em vista.
A retirada dos aviões americanos, que realizaram mais da metade dos voos nas primeiras duas semanas de ataques aéreos, enfraqueceu a força potencial da Otan. Com a organização assumindo o controle da operação, os aviões americanos agora estão apenas em modo de prontidão, deixando grande parte das operações para as forças aéreas muito menores da França e do Reino Unido. Os apelos da liderança da Otan para que os países membros enviem mais aeronaves até o momento tiveram pouco sucesso. Apenas os britânicos reforçaram sua presença, aumentando o número de seu contingente de Tornados de oito para 12. Os franceses, por sua vez, estão dividindo seus recursos militares em duas frentes no momento, com o início do conflito na Costa do Marfim.
Mas os rebeldes líbios não são os únicos se queixando: dentro da Otan, também há uma crescente frustração com o lento progresso em solo. Os ataques e fugas aparentemente sem comando dos combatentes sem treinamento, diante dos soldados do governo, estão fazendo com que os aliados ocidentais se desesperem, apesar de não em público, porque parece cada vez mais que a meta não declarada da intervenção internacional –a remoção do ditador Muammar Gaddafi– provavelmente nunca será atingida.
E esta desilusão mútua sugere que a segunda fase da guerra civil está agora começando. A situação que os críticos temiam desde o início aparentemente está ocorrendo: um impasse. Os rebeldes são fortes o suficiente, com apoio da Otan, para manter seu controle de Benghazi, mas são fracos demais para avançar na direção de Trípoli. A frente avança e recua poucos quilômetros, mas a divisão entre o oeste controlado por Gaddafi e a zona rebelde no leste parece estar se consolidando.
‘Mergulhando em um conflito prolongado’
“A Líbia parece estar mergulhando em um conflito prolongado, sem uma luz no fim do túnel”, disse Fawaz Gerges, um especialista em Oriente Médio da Escola de Economia de Londres (LSE, na sigla em inglês), escreveu em um comentário postado no site da “CNN”. A resistência tenaz do regime de Gaddafi não causa surpresa, ele acrescentou, “dada a estrutura tribal da sociedade líbia e a manipulação e exploração por Gaddafi das divisões e alianças tribais”.
A Otan poderá sempre apontar para o fato de que está simplesmente implantando as metas acertadas na ONU –uma zona de exclusão aérea e a proteção de civis. Mas na verdade, não é segredo que as verdadeiras metas da operação são mais do que isso. A cada dia que Gaddafi permanece no poder, cresce a pressão sobre os políticos e líderes militares do Ocidente. A pergunta sobre quanto tempo durará a intervenção está cada vez mais sendo feita em voz alta. O chefe da Força Aérea Real britânica estimou nesta semana que duraria seis meses. Os políticos, por outro lado, tiveram a presciência de não mencionar qualquer prazo.
A discussão no Ocidente já está andando em círculos há algum tempo, apesar da pergunta sobre se os rebeldes deveriam ser armados ter sido respondida: as primeiras entregas de armas leves do exterior chegaram, disse o líder rebelde Younis. O governo britânico também enviou equipamento de comunicação para permitir aos líderes rebeldes comandarem seus combatentes. Mas a comunidade internacional parece ter concordado que artilharia pesada e armas complexas de alta tecnologia não devem ser dadas aos oponentes de Gaddafi.
Quanto ao governo, Gaddafi e seus seguidores estão sendo contidos com uma mistura de ameaças e promessas. O ditador foi informado de que não seria impedido de ir para o exílio. Ao mesmo tempo, aqueles ao seu redor estão sendo encorajados a desertar. E parece haver algum movimento: a deserção do ministro das Relações Exteriores, Moussa Koussa, na semana passada, foi saudada como um avanço, enquanto os rumores de que os dois filhos de Gaddafi, Saif al Islam e Al Saadi, estariam planejando um futuro sem seu pai poderiam ser interpretados como um sinal de nervosismo.
Na noite de quarta-feira, foi revelado que Gaddafi teria escrito uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pedindo pelo fim dos ataques aéreos. Ela teve pouco sucesso: Hillary Clinton rejeitou imediatamente o apelo e respondeu exigindo que o ditador fosse para o exílio.
Escalada militar seria um passo para trás
Mas o que acontecerá se tudo isso fracassar em mudar o status quo? Por quanto tempo a zona de exclusão aérea poderia ser mantida? O Ocidente poderia aceitar um país dividido? Quão séria é a afirmação do Ocidente de que um futuro da Líbia envolvendo Gaddafi e seus filhos é impensável? Um país dividido é considerado inaceitável a longo prazo, mas uma invasão por terra envolvendo tropas ocidentais para resolver essa divisão é descartada por todas as partes. Uma ocupação da Líbia foi explicitamente proibida pela Resolução do Conselho de Segurança da ONU de 1973, e nenhum governo árabe ou ocidental deseja ser atraído para a guerra. Nem seria aconselhável, escreveu o professor Gerges, da LSE. Uma escalada militar seria um passo para trás –um que enfraqueceria o movimento democrático na Líbia.
Ninguém chegou até o momento a uma fórmula eficaz para colocar um fim ao impasse líbio. A aliança ocidental-árabe está torcendo por um de dois resultados: que os rebeldes vençam o conflito apesar de todas as escaladas, ou que Gaddafi renuncie voluntariamente. Qualquer um dos dois seria uma surpresa.
Nos Estados Unidos, onde os céticos dominaram a discussão desde o início, já há exigências para que a operação, que parece carecer de estratégia, seja encerrada imediatamente.
“Esperar pela sorte não é base para a política externa americana”, escreveu Doug Bandow, do líbertário Instituto Cato, no site “The Huffington Post”. “O governo deve iniciar uma saída rápida da Líbia. Washington não precisa de outro desastre no Oriente Médio.”
Isso seria uma desmoralização, algo que nenhum governo ocidental deseja. A pergunta crucial é: quem terá mais paciência, a Otan ou Gaddafi?
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