segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Negócios de armas com a Líbia voltam a assombrar a Europa

Sukhoi Su-35BM: A Líbia até pouco tempo negociava a aquisição do poderoso caça russo, dentre outras armas. O caça é considerado o melhor caça da 4,5ª geração.
Helicópteros da Itália, armas de fogo de Malta e tecnologia de comunicações da Alemanha: quando o embargo de armas à Líbia foi suspenso em 2004, o ditador do país, Muammar Gaddafi, foi às compras na UE. Hoje ele usa aquelas armas contra sua população - para vergonha da Europa.

Os 27 Estados da UE pararam todas as exportações de armas para a Líbia, enquanto continua a violência contra o levante popular no país do norte da África. Uma porta-voz de Catherine Ashton, a alta representante da UE para Relações Exteriores, disse que recebeu informações de que "todo o negócio de armas e licenciamento (com a Líbia) está suspenso por todos os países (da UE) envolvidos".

O fato de que a política britânica parece mais uma observadora do que uma tomadora de decisões se explica, porque as exportações de armas na UE são responsabilidade de cada país individual. Realmente, o governante líbio, Muammar Gaddafi, pôde facilmente estocar depois que terminou o embargo de armas de 18 anos a seu país, em 2004. Segundo um relatório europeu, países membros da UE forneceram ao ditador equipamento de defesa no valor de 344 milhões de euros somente em 2009.

Mas líderes europeus podem estar lamentando ter concedido as permissões de exportação, agora que Gaddafi está usando aquelas armas contra sua população rebelde. Por exemplo, a Itália repetidamente forneceu helicópteros e outras aeronaves para o país norte-africano; em 2009 essas exportações chegaram a pouco menos de 108 milhões de euros. Hoje os refugiados líbios relataram que foram alvejados por helicópteros.

Também se fizeram perguntas sobre outros países que aprovaram exportações em grande escala. As forças de segurança podem ter usado contra os manifestantes armas de fogo que foram possivelmente entregues através de Malta. "Não temos fábricas de armas em Malta", disse um porta-voz do ministério.

Redes de celular bloqueadas

A questão das exportações alemãs também é complexa. Depois que o embargo foi levantado, os negócios de armas alemãs com a Líbia foram rapidamente retomados. As exportações da Alemanha para a Líbia atingiram o valor de 53 milhões de euros em 2009, o terceiro maior da Europa. Mas mais de 80% destas recaíram na categoria ML11 da UE, que envolve amplamente equipamento militar eletrônico. "Nenhum sistema de armas completo parece ter sido exportado da Alemanha desde a década de 1980", diz Mark Bromley, do Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional (Sipri), em Estocolmo, Suécia.

No entanto, as exportações alemãs ainda poderão provocar críticas - porque a categoria ML11 inclui embaralhadores eletrônicos. O regime Gaddafi tem bloqueado as redes de telefones celulares e GPS na Líbia há dias - possivelmente com a ajuda da tecnologia alemã - para evitar que os manifestantes possam se comunicar entre si.

Também há controvérsias sobre a tecnologia de radar que a Alemanha forneceu à Líbia para ajudar a proteger suas fronteiras. Em 2010 a UE prometeu dar ao ditador 50 milhões de euros para que a Líbia evitasse que refugiados africanos atingissem as costas da Europa. Mas esse e outros acordos parecidos agora estão voltando a morder a UE, segundo Bernhard Moltmann, do Instituto de Pesquisa para a Paz em Frankfurt (Prif). "A situação na Líbia ilustra o problema fundamental de que os efeitos de longo prazo das transferências de armas não são levados em conta", ele disse a "Spiegel Online".

Se as coisas tivessem sido ligeiramente diferentes, porém, alguns países da UE poderiam facilmente se encontrar em uma situação muito mais estranha hoje. Depois do fim do embargo, países como Itália, França e Reino Unido estavam positivamente cortejando as encomendas de Trípoli. Um acordo realmente maciço nunca ocorreu, entretanto. "Se um dos grandes negócios tivesse dado certo, poderia ter sido muito embaraçoso", diz Bromley, da Sipri.

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