quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Secretário de Defesa adverte sobre o perigo representado pelos mísseis da Coreia do Norte contra os Estados Unidos

O secretário de Defesa Robert M. Gates advertiu na terça-feira (11/01) que dentro de cinco anos a Coreia do Norte contará com a capacidade para atingir o território continental dos Estados Unidos com um míssil balístico intercontinental e afirmou que, ao se levar em conta a expansão crescente do programa nuclear norte-coreano, aquele país “está se transformando em uma ameaça direta aos Estados Unidos”.

Gates é ex-diretor da Agência Central de Inteligência (CIA), e a sua declaração, segundo autoridades do governo, reflete uma nova avaliação dos oficiais de inteligência dos Estados Unidos e a própria preocupação dele com a possibilidade de que Washington tenha subestimado sistematicamente o ritmo com que a Coreia do Norte estava desenvolvendo as suas tecnologias nuclear e de mísseis.

Ainda não se sabe quando foi feita essa nova avaliação, mas a declaração de Gates, dada apenas uma hora após uma reunião dele com o presidente chinês, Hu Jintao, pode ter tido como objetivo parcial convencer a China de que o governo Obama não encara mais a Coreia do Norte como uma ameaça de âmbito apenas regional. O governo norte-americano tem pressionado cada vez mais a China para que esta tente persuadir a Coreia do Norte, uma aliada antiga de Pequim, a abandonar o seu programa de armas nucleares.

“Os chineses estão sempre falando sobre os seus 'interesses centrais' e as ameaças às quais eles poderiam ter que responder”, diz uma autoridade dos Estados Unidos bastante envolvida com a análise da estratégica norte-coreana. “Eles precisam ouvir que nós também temos algumas preocupações”.

Em comentários feitos a jornalistas durante uma visita a Pequim, Gates disse temer que dentro de um período relativamente curto a Coreia do Norte continue simultaneamente a desenvolver os seus armamentos nucleares e mísseis balísticos intercontinentais. De acordo com o secretário, essa combinação fez com que aumentasse a necessidade de se exercer pressão sobre a Coreia do Norte, especialmente após mais uma provocação contra a Coreia do Sul por parte de Pyongyang como foi o mortífero ataque de artilharia contra uma ilha sul-coreana em novembro último.

“Nós consideramos esta uma situação que realmente preocupa, e achamos que existe uma certa urgência em seguir a rota das negociações”, declarou Gates.

O secretário disse que, apesar de tudo, ele acredita que a capacidade da Coreia do Norte seja limitada, e que dentro de cinco anos o país só será capaz de produzir um pequeno número de mísseis balísticos intercontinentais.

“Eu não creio que isso seja uma ameaça imediata”, opinou Gates.

Mas os comentários dele foram os primeiros a citar um cronograma indicando quando a Coreia do Norte, que realizou dois testes nucleares, incluindo um que falhou, seria capaz de lançar um míssil dotado de ogiva nuclear que tivesse a capacidade de cruzar o Oceano Pacífico. Essa tem sido uma questão bastante discutida há mais de uma década e ela foi o alvo de um volumoso estudo sobre a ameaça representada por mísseis conduzido por Donald H. Rumsfeld antes que este se tornasse o primeiro secretário de Defesa do presidente George W. Bush.

Gates fez os seus comentários para jornalistas no mesmo dia em que a China, em uma exibição de força dirigida aos Estados Unidos, aparentemente realizou o primeiro teste de voo do seu novo avião de caça “stealth” (“invisível” ao radar). O voo de 15 minutos ocorreu apenas algumas horas antes de Gates se reunir com o presidente Hu para falar sobre a melhoria das relações entre as forças armadas chinesas e norte-americanas e a respeito de formas de reduzir tensões durante esta nascente corrida armamentista entre os dois países.

A nova avaliação da Coreia do Norte feita por Gates se constitui em uma mudança significativa da posição do governo de Barack Obama, que até então via a Coreia do Norte acima de tudo como uma ameaça de proliferação nuclear, temendo que Pyongyang pudesse vender os seus mísseis e artefatos nucleares existentes a outros países, como o Irã. A Coreia do Norte possui um longo histórico de comércio de mísseis com o Irã, a Síria e o Paquistão, entre outras nações, e acredita-se que ela tenha fornecido tecnologia à Síria para a construção de um reator nuclear. O reator foi destruído por Israel em um ataque aéreo em setembro de 2007.

Mas Gates modificou a sua ênfase, ao focar-se na capacidade da Coreia do Norte de apontar o seu pequeno arsenal para os Estados Unidos. Já existe uma unidade antimísseis instalada em Fort Greely, no Alasca, armada com mísseis interceptadores projetados para conter um pequeno ataque, presumivelmente desfechado pela Coreia do Norte, antes que as ogivas atingissem os Estados Unidos.

Implícita na avaliação de desenvolvimento armamentista em cinco anos, feita por Gates, está a possibilidade de que a Coreia do Norte possa em breve resolver um dos seus maiores percalços tecnológicos: a fabricação de uma ogiva nuclear suficientemente pequena para ser instalada no topo de um míssil.

Explodir um artefato nuclear no subsolo, algo que a Coreia do Norte fez em 2006 e novamente em 2009, é uma tarefa comparativamente simples. Mas a fabricação de uma ogiva nuclear que seja suficientemente leve, pequena e confiável é um empreendimento muito mais complexo.

Os inspetores nucleares que estiveram na Coreia do Norte periodicamente até 2009 jamais anunciaram publicamente ter visto uma ogiva nuclear. Mas seria improvável que os norte-coreanos mostrassem a eles tais artefatos, mesmo tendo a Coreia do Norte abandonado o Tratado de Não Proliferação Nuclear oito anos atrás.

Não se sabe se a Coreia do Norte obteve os projetos para a fabricação de uma ogiva nuclear de um outro país desesperadamente pobre – possivelmente o Paquistão, que vendeu equipamentos para enriquecimento de urânio a Pyongyang. Projetar tais ogivas a partir da estaca zero é difícil, conforme o Irã descobriu.

Prever a capacidade de mísseis é uma tarefa notoriamente difícil. Documentos revelados no ano passado pelo WikiLeaks, a organização inimiga do secretismo, revelaram avaliações muito diferentes entre os especialistas dos Estados Unidos e da Rússia em relação à tecnologia de mísseis do Irã.

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