segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Rússia participa de operações de combate ao tráfico de drogas no Afeganistão

Soldado australiano em meio a uma plantação de ópio no Afeganistão
Nesta semana, agentes russos de combate a entorpecentes participaram de uma operação para destruir vários laboratórios de drogas no Afeganistão, juntando-se às forças afegãs e norte-americanas de combate ao narcotráfico naquele país, naquilo que as autoridades daqui declararam na sexta-feira (29/10) ser um avanço nas relações entre Moscou e Washington.

A operação, na qual quatro laboratórios de síntese de ópio e mais de uma tonelada de heroína de alta qualidade foram destruídos, foi a primeira a incluir agentes russos. Ela também indicou que existe uma disposição inicial das autoridades russas de se envolverem mais profundamente no Afeganistão, duas décadas depois que os combatentes afegãos apoiados pelos Estados Unidos derrotaram as forças armadas soviéticas naquele país.

“Isto representa um grande sucesso para as ações de cooperação”, disse Viktor P. Ivanov, a maior autoridade do setor de combate ao narcotráfico na Rússia, a jornalistas em Moscou. “Esse fato demonstra que medidas concretas estão sendo implementadas em meio a essa modificação das relações entre a Rússia e os Estados Unidos”.

Embora a Rússia tenha muito interesse no resultado da guerra no Afeganistão, Moscou não participou da coalizão militar liderada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que invadiu aquele país, e pareceu não gostar das operações militares dos Estados Unidos no seu quintal.

Autoridades de governo na Rússia e nos Estados Unidos disseram que o Afeganistão é uma importante arena para a cooperação, mas elas discordaram com frequência quanto à forma como a guerra tem sido conduzida. Autoridades russas deram permissão para que cargas não letais destinadas ao Afeganistão fossem transportadas pelo território russo, mas elas também pressionaram o governo da ex-república soviética do Quirguistão para que este fechasse a base militar norte-americana naquele país, que funciona como um centro de suprimentos crucial para a guerra. Até o momento, a base continua funcionando.

Ao mesmo tempo, a Rússia tem um forte interesse em um Afeganistão estável e cooperativo. Uma ressurgência do Taleban e o retorno da Al Qaeda no Afeganistão poderiam reforçar o extremismo islâmico na Ásia Central e no sul da Rússia, onde as autoridades continuam a combater uma poderosa insurgência muçulmana na Tchetchênia e nas regiões adjacentes.

A questão da heroína, que é derivada do ópio, é particularmente preocupante. O Afeganistão é o maior produtor de heroína do mundo, e grande parte da droga segue para os países vizinhos da Ásia Central, e destes para a Rússia, onde encontra um mercado de mais de um milhão de usuários.

Quase 90% da heroína da Rússia é proveniente do Afeganistão, de acordo com estatísticas governamentais. As drogas injetáveis matam milhares de pessoas anualmente e são as principais responsáveis pela epidemia de HIV na Rússia, que está crescendo de maneira mais acelerada do que em qualquer outro país.

Embora a Rússia tenha se empenhado em controlar o uso da heroína, as autoridades do país têm criticado os Estados Unidos por não se esforçarem suficientemente para conter a produção da droga no Afeganistão. Algumas pessoas aqui chegaram a sugerir que os Estados Unidos estariam estimulando o narcotráfico a fim de enfraquecer a Rússia.

Ivanov, que é um assessor próximo do primeiro-ministro Vladimir V. Putin, têm pressionado os seus congêneres em Washington para que estes intensifiquem os esforços para a erradicação dos campos de papoulas no Afeganistão. A produção de ópio do Afeganistão, estimada em 4.000 toneladas no ano passado, tem se constituído em uma grande fonte de financiamento para o Taleban. Mas o governo Obama reduziu os programas de erradicação, que foram implementados durante a era Bush, por temer que os agricultores recorressem ao Taleban em busca de ajuda.

Um dos motivos pelos quais a Rússia e os Estados Unidos criaram um grupo de combate a narcóticos no ano passado foi a necessidade de acabar com esses desacordos, e nesta semana a operação contra as fábricas de heroína parece ter sido um passo nessa direção.

Das cerca de 70 pessoas que participaram da operação na manhã de quinta-feira, somente quatro eram agentes do Serviço Federal Russo de Combate aos Narcóticos. Os outros faziam parte da Administração de Repressão a Drogas dos Estados Unidos (DEA) e da polícia antidrogas afegã.

Autoridades graduadas da DEA disseram que a força-tarefa multinacional, operando com base em relatórios de inteligência, descobriu um grande laboratório clandestino de heroína na vila de Zerasari, no distrito de Achin, perto da fronteira paquistanesa. Quando chegaram lá, os agentes descobriram três outros laboratórios escondidos pela vegetação. Todos os quatro locais tinham sido abandonados quando a operação teve início, mas as autoridades coletaram evidências que confirmam que todos eles estavam produzindo ativamente heroína e morfina.

Os agentes apreenderam quase uma tonelada de heroína e cerca de 160 quilogramas de ópio, bem como outros produtos químicos e equipamentos utilizados na fabricação de drogas.

“Em termos de interrupção dessas atividades, esta foi uma operação muito importante, mas ela faz também parte de uma estratégia maior para o combate do tráfico de drogas”, diz Eric Rubin, vice-chefe de missão da Embaixada dos Estados Unidos em Moscou. “O objetivo é identificar, interromper e negar o apoio material ao terrorismo, e mais especificamente aos elementos do Taleban que estão apoiando esse tráfico de drogas”.

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