segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Robôs são as mais novas forças militares

A guerra seria muito mais segura, diz o Exército, se fosse mais travada por robôs

Talon 2
 E apesar de máquinas inteligentes já fazerem parte da guerra moderna, o Exército e seus fornecedores estão ávidos por acrescentar mais. Novos robôs –nenhum deles com aparência particularmente humana– estão sendo projetados para cuidar de um número cada vez maior de tarefas, desde detectar atiradores até servir como sentinelas noturnos incansáveis.

Em uma cidade de mentira daqui, usada pelos Rangers do Exército para treinamento de combate urbano, um robô de 38 centímetros com uma câmera de vídeo circula por uma fábrica de bombas em uma missão de espionagem. No alto, uma silenciosa aeronave não tripulada com envergadura de 1,2 metro transmite imagens dos prédios abaixo. Na cena entra um veículo sinistro com esteiras de tanque, aproximadamente do tamanho de um trator cortador de grama, equipado com metralhadora e lançador de granada.

 Três técnicos com mochilas nas costas, parados na linha de fogo, operam os três robôs com controladores sem fio estilo videogame. Um deles movimenta a câmera de vídeo do robô armado até avistar um atirador em um telhado. A metralhadora faz uma pirueta, aponta e dispara duas rápidas rajadas. Caso as balas fossem reais, o alvo teria sido destruído.

As máquinas, vistas em um “Rodeio de Robôs” no mês passado em uma escola de treinamento do Exército aqui, não apenas protegem os soldados, mas também nunca se distraem, usando um olho digital que não pisca, ou “olhar persistente”, que detecta automaticamente até mesmo o menor movimento. E também não entram em pânico sob fogo.

 “Um dos melhores argumentos a favor do robô armado é que ele pode ser o segundo a atirar”, disse Joseph W. Dyer, um ex-vice-almirante e diretor operacional chefe da iRobot, que faz robôs que removem explosivos, assim como o robô aspirador de pó Roomba. Quando um robô olha para um campo de batalha, ele disse, o técnico a distância que está vendo pelos seus olhos pode avaliar a cena com mais calma, sem disparar apressadamente contra uma pessoa inocente.

Mas a ideia de que robôs com rodas ou pernas, com sensores e armas, possam algum dia substituir ou suplementar soldados humanos ainda é fonte de extrema controvérsia. Como os robôs podem realizar ataques com pouco risco imediato para as pessoas que os operam, os oponentes dizem que os guerreiros robôs reduzem as barreiras às guerras, tornando as nações potencialmente mais dispostas a travá-las e levando a uma nova corrida armamentista tecnológica.

“As guerras começarão muito fácil e com custo mínimo” à medida que a automação aumentar, previu Wendell Wallach, um acadêmico do Centro Interdisciplinar de Bioética de Yale e presidente de seus grupo de estudos de tecnologia e ética.

Os civis correrão maior risco, argumentam as pessoas no campo de Wallach, devido à maior dificuldade em distinguir combatentes e transeuntes inocentes. Esse trabalho é terrivelmente difícil para os soldados em solo. Ele se torna ainda mais difícil quando um dispositivo é operado à distância.

Este problema já ocorre com as aeronaves “Predator”, que encontram seus alvos com a ajuda de soldados no solo, mas são operadas a partir dos Estados Unidos. Como civis no Iraque e Afeganistão morreram em consequência de danos colaterais ou erros de identificação, os “Predators” têm gerado oposição internacional e provocaram acusações de crimes de guerra.

 Mas os combatentes robôs são apoiados por um grande número de estrategistas militares, oficiais e projetistas de armas –e até mesmo alguns defensores de direitos humanos.

“Muita gente teme a inteligência artificial”, disse John Arquilla, diretor executivo do Centro de Operações de Informação da Escola Naval de Pós-Graduação. “Eu ficarei ao lado da minha inteligência artificial contra o seu humano em qualquer dia da semana e direi que minha IA prestará mais atenção às regras de engajamento e criará menos lapsos éticos do que uma força humana.”

Arquilla argumenta que sistemas de armas controlados por software não agirão movidos por raiva ou malícia e, em certos casos, podem tomar melhores decisões no campo de batalha do que os seres humanos.

 Sua fé nas máquinas já está sendo testada.

“Alguns de nós pensam que a estrutura organizacional certa para o futuro é uma que misture habilmente seres humanos e máquinas inteligentes”, disse Arquilla. “Nós achamos que essa é a chave para o domínio das questões militares do século 21.”

A automação provou ser vital nas guerras que os Estados Unidos estão travando. No ar no Iraque e no Afeganistão, aeronaves não tripuladas com nomes como Predator, Reaper, Raven e Global Hawk têm mantido inúmeros soldados de fora de incursões militares. Além disso, os militares agora usam rotineiramente mais de 6 mil robôs telecontrolados para revistar veículos em barreiras, assim como para desarmar uma das armas mais eficazes dos inimigos: o dispositivo explosivo improvisado.

 Mas a mudança para uma guerra automatizada pode oferecer apenas uma vantagem estratégica fugaz para os Estados Unidos. Cinquenta e seis países atualmente estão desenvolvendo armas robóticas, disse Ron Arkin, um roboticista do Instituto de Tecnologia da Geórgia e um pesquisador financiado pelo governo que argumenta que é possível projetar robôs “éticos” que cumpram as leis de guerra e as regras militares de escalada.

Mas as questões éticas estão longe de serem simples. No mês passado na Alemanha, um grupo internacional que inclui pesquisadores de inteligência artificial, especialistas em controle de armas, defensores de direitos humanos e autoridades do governo, pediu por acordos para limitar o desenvolvimento e uso de armas autônomas e telecontroladas.

O grupo, conhecido como Comitê Internacional para Controle de Armas Robóticas, disse que a guerra pode ser acelerada por sistemas automatizados, minando a capacidade dos seres humanos de tomar decisões responsáveis. Por exemplo, uma arma projetada para funcionar sem os seres humanos poderia atirar mais rapidamente em um agressor, sem a consideração do soldado dos fatores sutis no campo de batalha.

“Os benefícios a curto prazo obtidos com os aspectos de robotização da guerra provavelmente serão superados pelas consequências a longo prazo”, disse Wallach, o acadêmico de Yale, sugerindo que as guerras ocorreriam mais prontamente e que uma corrida armamentista tecnológica se desenvolveria.

 Enquanto o debate continua, também prossegue os esforços de automação do Exército. Em 2001, o Congresso deu ao Pentágono a meta de tornar um terço dos veículos de combate terrestres operados por controle remoto até 2015. Isso parece improvável, mas ocorreram passos significativos nessa direção.

 Por exemplo, um dispositivo Lockheed Martin parecido com um vagão e que pode transportar mais de 450 quilos de equipamento e seguir automaticamente um pelotão a até 27 km/h, deverá ser testado no Afeganistão no início do ano que vem.

Para terrenos mais acidentados longe de estradas, os engenheiros da Boston Dynamics estão projetando um robô que anda para carregar equipamento. Previsto para ser concluído em 2012, ele carregará 180 quilos por até 32 quilômetros, seguindo automaticamente um soldado.

Os módulos com quatro pernas têm um senso de equilíbrio extraordinário, podem escalar terrenos íngremes e até mesmo se mover em superfícies congeladas. A “cabeça” do robô tem uma série de sensores que lhe dão a estranha aparência de um cruzamento de besouro e cachorro. De fato, uma versão experimental anterior do robô passou a ser conhecida como Big Dog (cachorrão).

Neste mês, o Exército e militares australianos realizaram uma competição de equipes para desenvolvimento de microrrobôs móveis –alguns não maiores do que miniaturas de carros– que, operando em enxames, podem mapear uma área potencialmente hostil, detectando precisamente uma série de ameaças.

 Separadamente, um cientista da computação da Escola Naval de Pós-Graduação propôs que a Agencia de Projetos de Pesquisa Avançada da Defesa financie um sistema robótico submarino, que controlaria inteligentemente equipes de golfinhos para detecção de minas submarinas e proteção dos navios nos portos.

“Se entrarmos em um conflito com o Irã, a probabilidade de tentarem algo no Estreito de Hormuz é alta”, disse Raymond Buettner, vice-diretor do Centro de Operações de Informação na Escola Naval de Pós-Graduação. “Uma mina terrestre explodindo um navio e estrangulando o fornecimento mundial de petróleo paga por todo o programa de mamíferos marinhos da Marinha e seu programa robótico por muito tempo.”

Esses programas representam um ressurgimento do desenvolvimento de sistemas autônomos, após os caros fracassos e o cancelamento do programa mais ambicioso do gênero pelo Exército em 2009. A estimativa era de que esse programa custaria mais de US$ 300 bilhões e forneceria ao Exército uma série de veículos tripulados e não tripulados ligados a uma rede de informação futurista.

 Agora, a mudança para o desenvolvimento de sistemas menores, mais leves e menos caros é clara. Os defensores dizem que é uma consequência do esforço de causar menos baixas civis. A aeronave “Predator”, por exemplo, está sendo equipada com armas menores e mais leves do que o tradicional míssil Hellfire de 100 libras, com um raio de mortes menor.

Ao mesmo tempo, os tecnólogos militares afirmam que robôs autônomos e semiautônomos telecontrolados são a melhor forma de proteger as vidas das tropas americanas.

 Unidades das Forças Especiais do Exército compraram seis robôs do tamanho de tratores cortadores de grama –do tipo exibido no Rodeio de Robôs– para missões secretas, e a Guarda Nacional pediu para que mais dezenas deles sirvam como sentinelas em bases no Iraque e no Afeganistão. Essas unidades são conhecidas como Sistema Robótico Avançado Modular Armado, ou Maars (na sigla em inglês), e são produzidos por uma empresa chamada QinetiQ North America.

 Os robôs “Maars” atraíram o interesse dos militares como sistema defensivo durante um exercício dos Rangers do Exército realizado aqui, em 2008. Usado como sentinela noturno contra infiltradores equipados com sistemas de termovisão, a unidade “Maars” alimentada por bateria permaneceu invisível –ela não tinha a assinatura de calor de um ser humano– e podia “atirar” nos invasores com uma arma de mira laser sem ser detectado, disse Bob Quinn, vice-presidente da QinetiQ.

O “Maars” é um descendente de um sistema experimental anterior desenvolvido pela QinetiQ. Três protótipos armados foram enviados ao Iraque e criaram uma breve controvérsia após apontarem uma arma do modo impróprio, por causa de um bug no software.

 Mas os executivos da QinetiQ disseram que a falha real do sistema foi o fato de ter sido rejeitada pelos oficiais legais do Exército por não seguirem as regras militares de engajamento –por exemplo, usando alertas de voz e então atirando gás lacrimogêneo antes de disparar as armas de fogo. Como consequência, o Maars foi equipado com um alto-falante e um lançador, para que possa emitir alertas e disparar granadas de gás lacrimogêneo antes de disparar sua metralhadora.

Sistemas controlados remotamente como a aeronave “Predator” e o “Maars” dão mais um passo na direção das preocupações com a automação da guerra. O que acontece, perguntam os céticos, quando os seres humanos são retirados da tomada de decisão de disparar armas? Apesar da insistência dos oficiais militares de que um dedo humano sempre permanecerá no gatilho, a velocidade do combate está rapidamente se tornando rápida demais para os tomadores de decisões humanos.

 “Se as decisões são tomadas por um ser humano que mantém seus olhos no alvo, se ele está sentando em um tanque ou a quilômetros de distância, a principal salvaguarda ainda está lá”, disse Tom Malinowski, diretor em Washington do Human Rights Watch, que monitora crimes de guerra. “O que acontece quando essa decisão é automatizada? Os defensores dizem que seus sistemas apresentam apenas vantagens, mas isso não me tranquiliza.”

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