quinta-feira, 18 de novembro de 2010

De olho em 2014 e 2016, Bope pode ganhar curso especial

Apontada por especialistas como a melhor polícia de combate urbano do mundo, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) pode ganhar curso criado especialmente para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016: o de Intervenções Táticas.

Atualmente, o treinamento é apenas um módulo dos dois cursos oferecidos pelo Bope, que até 2016 terá o dobro do efetivo: 800 policiais.

"Temos de crescer muito nisso porque atuaremos em áreas de grande concentração de pessoas", disse o comandante da tropa de elite da PM, tenente-coronel Paulo Henrique de Moraes, que acaba de voltar de Israel, para onde quer mandar "caveiras" para treinamento contra terrorismo.


O Curso de Intervenções Táticas foi pensado em função da Copa e das Olimpíadas?
Paulo Henrique: "Sim. A ideia é que seja um curso mais amplo, com cerca de seis semanas de duração. É uma área que precisa crescer bastante, porque teremos que atuar rapidamente em locais com grandes concentrações de pessoas, como a Vila Olímpica, onde terei uma equipe de plantão. Temos o histórico de Munique (nas Olimpíadas de 1972, na cidade da Alemanha, terroristas invadiram a Vila Olímpica e mataram 18 pessoas). Tenho que adiantar as coisas. Não posso contar com a sorte.

Mas o Bope já não dá esse tipo de treinamento?
"Dá, mas não é um curso só sobre isso. São noções de intervenções dadas em um módulo no CAT (Curso de Ações Táticas), que é um pouco mais aprofundado no Coesp (Curso Operações Especiais). Para o que fazemos hoje, estamos preparados. Vamos é aumentar a capacitação do policial dando mais conteúdo, por exemplo, de negociação e uso de equipamentos".

Todos os policiais poderão fazer esse novo curso?
"A intenção é que participem os que já tenham pelo menos um dos nossos cursos (CAT ou o Coesp) para ganharmos tempo".

O senhor chegou há uma semana de Israel, onde ficou sete dias. Qual foi o objetivo da viagem?
"Há todo um esforço para a preparação dos nossos profissionais de segurança para a Copa e as Olimpíadas, e essa viagem faz parte desse processo de capacitação. Lá, vi algumas ações e equipamentos de segurança, como o policiamento em aeroportos, e pude entender mais de perto o terrorismo. Mas foi uma visita rápida. O principal objetivo dessa viagem foi mesmo começarmos a tratar do nosso intercâmbio, que vai acontecer também com outros países. A ideia é levar policiais para treinarem lá. Seriam cerca de 20 agentes que se capacitariam para dar treinamento à nossa tropa. Vamos receber também agentes de Israel".

O senhor falou em terrorismo. Como o Bope está se preparando para combatê-lo, pois é hoje uma preocupação das autoridades em grandes eventos?
"A criação do Curso de Intervenções Táticas é um dos processos dessa preparação. Temos deficiências nessa área porque não é nossa realidade. Precisamos é conhecer a maneira de agir deles (terroristas) para nos adequar. Temos que trabalhar prioritariamente essas posições para planejar as ações. Já estou estudando sobre o terrorismo".

O senhor disse que, para a realidade de violência do Rio de Janeiro, o Bope está preparado. Qual, então, a sua preocupação em relação à criminalidade durante a Copa e as Olimpíadas?
"A preocupação do Bope é aumentar a demanda durante esses eventos e ter condições que me permitam dar conta delas. Tenho que ter equipamentos e recursos humanos preparados para atender a cada uma, porque a cidade vai continuar funcionando normalmente durante as competições. Não posso ter todo o meu efetivo empenhado apenas nos Jogos. E se eu tiver que invadir uma favela nesse período? Para um bom resultado, temos que comprar mais equipamentos e continuar fazendo nossas operações, uma delas é ocupar as favelas para a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs)".

Como a polícia vai conseguir diferenciar uma ação terrorista de um ataque de traficantes, se houver algum incidente durante as competições?

"Não temos apenas o tráfico, mas também bandidos que cometem diversos tipos de crimes e podem promover ações que tragam intranquilidade para o público. Não podemos esquecer que eles já fecharam vias e atearam fogo em veículos, metralharam a prefeitura, mas isso não são ações terroristas. Os traficantes trabalham pelo dinheiro; os terroristas, para causarem o medo generalizado. Eles procuram agir em locais públicos como trens, metrô, mesquitas, feiras, onde há sempre grande concentração de pessoas justamente para difundir o medo".

Se a Copa e as Olimpíadas fossem hoje, do que o Bope mais precisaria?
"De um setor de inteligência e de um centro de instrução especializada que já está sendo construído. A criação de um núcleo de informações é outra de nossas propostas. Embora sejamos o braço da intervenção e acionado em último caso, é preciso abastecer o Bope também com informações. A intenção é que todas os outros setores de inteligência da segurança pública funcionem e que a gente não seja acionado. O Bope vai agir em pontos que não foram detectados por essas áreas, mas eu tenho que estar preparado para neutralizar todas essas possibilidades de ações".

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